Sob o domínio do SEXO
Tudo que você sempre quis saber sobre um sex club, mas não tinha a quem perguntar
Fazia meses que eu havia entrado naquele site de encontros BDSM, ou de sadomasoquismo, como o povo simplifica. No Brasil, não existem muitos sites de encontros gays. Há o Disponivel.com e apenas mais uns dois ou três com alguma relevância.
Na América – e na Europa -, entretanto, é diferente. Entre os gringos, é possível até mesmo um site de encontros sado, essa galera que, por aqui, parece tão marginal e pouco numerosa. Mesmo assim, consegui marcar encontros por lá. Um deles, foi com um inglês que veio para o Carnaval. De pegada forte, beijo tira-fôlego, mãos grandes e hábeis e… Errr… outros grandes atributos, Simon me mostrou que a história de que os brasileiros são os melhores na cama não é bem assim…
Sexo hardcore
Eu, porém, estava no site por outro motivo. Havia recebido uma mensagem sobre uma festa sado que seria realizada em São Paulo. No "cardápio", um staff formado por militares e ex-militares de verdade. Para interagir com eles, comprava-se uma pulseira. Em uma das faces, um numeral, de 1 a 7, indicava os níveis de abuso que o cliente conseguia suportar.
O outro lado era do "seguro". Usando-a virada pra ele, o staff não podia tocar no convidado. Semicorajoso, adquiri a de número 5 – e levei três amigos, para não sofrer sozinho. A festa acontecia em um sex club que eu já conhecia, no Centro de São Paulo, perto do Minhocão. Naquele momento, eu acompanhava um dominador e seu "escravo avulso".
Rubens*, um homem na faixa dos 35 anos, sente prazer em humilhar seus parceiros. Por isso, fez Luiz*, 29, um moreno peludo, trajar calcinha, sutiã, meia-calça e passear na frente dos outros freqüentadores, que observavam entre surpresos, atônitos e curiosos. Para finalizar, "comeu-o" na cama coletiva.
O clube ali não é grande. Uma porta discreta o separa da rua e é aberta ao toque da campainha. Só homens entram. A escada leva a um barzinho, ao lado do qual há armários para guardar objetos pessoais. No dia da festa, não era necessário tirar a roupa, mas, nos dias comuns, a ordem é ficar só de cueca ou peladão; ou ainda, quem sabe, de calcinha, como Luiz…
Seguindo pelo lado esquerdo, eu e meus amigos, Marcelo*, William* e Haroldo*, chegamos aonde "rolava a festa de verdade": duas camas coletivas, uma sling para a prática de fist fucking, uma poltrona e, ao fundo, uma espécie de quarto com grades, onde o staff abusava de quem usava a pulseira.
Na sling, um senhor barrigudo de cueca preta apareceu depois de um tempo. Eu já o tinha visto antes, em outro clube, no Largo do Arouche. Nas mãos, ele acenava com uma luva, para quem quisesse usá-la. Queria ser fistado – e foi.
Marcelo, o amigo meu que mais se divertiu, tomou do apetrecho, melou-o numa pasta branca e enfiou a mão nas entranhas do outro. Fez isso já cercado de curiosos. Entre eles, estava eu, que via de pertinho e inconformado, um ânus se expandir de forma admirável e engolir dedos, um punho inteiro e o que mais coubesse. O senhor ainda foi fistado mais uma vez naquela noite.
Quanto a Marcelo, ele estava mesmo com o "diabo no corpo". Ousado, desafiou os militares com uma pulseira número 6. Levou gritos, foi amarrado, obrigado a engraxar bota, deitado no chão, humilhado e largado num canto.
Sexo regrado
Só cheguei a ficar de joelhos e levar uns gritos, por um dos rapazes inconformados porque eu não desvirava a pulseira. William e Haroldo, que não compraram pulseira, assistiam – mas saí dali quando cansei.
Do lado de fora do "quarto", os demais freqüentadores se divertiam entre si. Vi um rapaz malhadinho socando o membro com força em um homem na faixa dos 40 anos, deitado em "frango assado". Eu e William nos postamos bem ao lado. Tão perto que podíamos tocar e passar a mão nos dois – o que fazíamos, principalmente William, que teve outras "vítimas". Eles não se importavam.
O passivo, na verdade, parecia não se importar com nada. Ficamos espantados ao vê-lo, minutos depois, sendo "traçado" de quatro, com força e velocidade – mas fumando languidamente seu cigarro. Quem "comia" era Marcelo, em outra de suas aventuras naquela noite.
De certa forma, essa era mesmo a regra tácita: as pessoas estão ali para se pegar (ou assistir) e todos podem participar. Claro que ninguém é obrigado a aceitar ser tocado por quem não deseja – mas o "carão" não é bem visto (embora sempre haja algum "desavisado" que o faça), e a tendência é haver um mínimo de abertura. Para quem quer mais privacidade, alguns sex clubs disponibilizam cabines – o que não era o caso ali.
Saí da festa sado sem levar nem um tapinha, mas a experiência teve pontos em comum com outros sex clubs que visitei:
1º. Alta discrição
Sex clubs são, a rigor, lugares discretos. Alguns exibem letreiros, como é o caso de um que vi no Centro e de outro no bairro de Pinheiros. Nada comparado a uma boate, entretanto. Letreiros pequenos, porta pequena, sem filas. Não raro, ela fica fechada. Para entrar, campainha.
Apenas homens são permitidos. "Penso que, na hora do sexo, deve ficar cada um na sua tribo", justifica Gil Braz, 37 anos, dono do Station Vídeo Bar e que topou ser entrevistado.
Para ele, uma mulher não tem sentido em um sex club, pois causaria inibição e até revolta. As travestis também: "Se eu ou você chegar em um daqueles boys que procuram travestis, o boy não vai gostar, nem elas. Vale o mesmo. Ali, não é o público delas – e não se trata de preconceito".
E se o homem for mais efeminado? O Station já foi acusado de não permitir "pintosas". "Não é verdade", diz Gil. "O máximo que pode acontecer é a pintosa se sentir constrangida, porque o ambiente e a decoração evocam o tempo todo uma masculinidade. Fora isso, só se alguém se comportar de maneira mais espalhafatosa". "É como se houvesse um código de comportamento?", pergunto eu. "Isso. Agindo de acordo, pintosa ou não, tudo bem".
Camilo Albuquerque, 27 anos, é antropólogo. Conheci-o sem camisa no sex club do Arouche, o peito torneado à mostra. Era aniversário de um amigo meu ligado ao BDSM. Camilo estava ali analisando seu objeto de estudo: "sou pesquisador do doutorado em Ciências Sociais da Unicamp. Minha pesquisa tem como objeto investigar a relação de marcadores sociais diversos – gênero, sexualidade, classe, raça/cor, idade, estilo, práticas e posições sexuais – na constituição da subjetividade e da corporalidade entre freqüentadores de sex clubs".
Ele complementa o que disse Gil: "Há vários códigos e gestos valorizados e desvalorizados […], mas um aspecto que salta aos olhos é a valorização da masculinidade e a reiteração de posturas, gestos e atributos corporais que evoquem a virilidade […]. Outro aspecto que chama a atenção nas salas de sexo é o relativo silêncio. Quase não se conversa […]. A linguagem é sobretudo corporal e gestual". Não foi à toa que olhares atônitos haviam reagido à ousadia de Luiz e seu desfile de lingerie.
2º. Nu com a mão no bolso
Estar nu, ou pelo menos só de cueca, é básico. Alguns permitem o trânsito com roupas completas, mas, na esmagadora maioria, a vestimenta, com exceção de meias e sapatos, só vai até a seção de armários.
Tudo fica ali guardado, trancado com um cadeado, de maneira similar à