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Resposta à Cassandra: Homofobia Não!

Não pretendo analisar as origens históricas do horror à homossexualidade, e o parentesco deste preconceito com o racismo e o machismo. Deixo a reflexão para os especialistas. Não posso como homossexual assumida silenciar-me frente aos recentes atos homofóbicos, ocorridos nesta metrópole, dita “civilizada”. Cidade que abriga todos os anos a maior parada gay do mundo!

É impressionante constatar que tem gente que acha que a discriminação não existe. Eu como homossexual tenho a certeza que ela existe. Independente da orientação sexual, qualquer pessoa sabe que ocorrem diariamente atos de violência contra as minorias sexuais em São Paulo. Basta andar pelas avenidas, ler os jornais, acessar a internet, assistir à televisão. Enfim, se você mora em São Paulo, no Brasil, e acompanha minimamente as questões relativas a esses grupos, percebe que a discriminação é flagrante e visível.

Algumas notícias publicadas nas últimas semanas nos jornais comprovam os fatos:
“Acusados de agressão na Paulista são soltos”. “(…) em dois ataques, a polícia diz haver indícios de homofobia. As vítimas relataram que os agressores diziam para elas: Suas bichas, vocês são namorados”. – Folha de SP 16/11/2010.
“Jovem atacado na Paulista escapou da morte, diz polícia”.
“Universidade em São Paulo quer ter o direito de ser homofóbica”- Blog da Folha 11/11/2010.

Recentemente, o encarte Folhateen, de 1º/11/2010, também publicou uma matéria corajosa, denunciando a homofobia, com o título “Preconceito Fatal”. No texto, o índice de suicídios entre jovens homossexuais por causa da discriminação. Em um dos casos relatados, o jovem conta que o namorado se matou aos 19 anos, pulando do sétimo andar, porque “achava que não tinha futuro sendo gay”. Afirmo, não só como homossexual, mas como ser humano, que ser gay não é errado! Errado é passar fome, ser explorado, enganado e principalmente ofender e agredir.

O homossexual sofre discriminação, sim! Às vezes, em níveis insuportáveis. Tem gente que ainda acha que os homossexuais não são confiáveis e normais. Tem gente que ainda afirma que a homossexualidade é uma doença! Essas ideias e sentimentos são totalmente equivocados e demonstram ignorância. Eu tenho vizinhos que me dão as costas no elevador, não me cumprimentam. São homofóbicos, sim!
Tenho orgulho de dizer que sou homossexual. Não tenho vergonha, e sei me defender.

Esse clima geral de gargalhadas, tipicamente brasileiro, parece liberdade, mas engana. Precisamos denunciar e combater diariamente a homofobia. Ela esta aí, nas escolas, nas ruas, no trabalho, na política e em todos os lugares. Ela é o medo, a aversão e o ódio. É a causa principal da discriminação e da violência física, moral ou simbólica contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais.

Todos são iguais perante a lei. Por isso, todos podem e devem ser punidos por discriminação homofóbica.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos reconhece que as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos.

Como editora da única Editora Lésbica da América Latina, a Brejeira Malagueta, não posso deixar de citar duas frases, que me chamaram muita atenção de autoras completamente diferentes no seu tempo e origem, mas tão iguais quanto aos efeitos da discriminação homofóbica, por que eram lésbicas: Cassandra Rios e a inglesa Hadcliffe Hall.

Hadcliffe Hall no romance “O Poço da Solidão” publicado em 1928 (considerado a bíblia do lesbianismo), a protagonista Stefhen Gordon se dirige a Deus dizendo: “Então, levante-se e nos defenda, reconheça-nos ó Deus, ante o mundo inteiro, de-nos o direito de existir!”

Cassandra tem mais de 60 títulos publicados no Brasil. O primeiro em 1948. No romance de 1979, “Eu sou uma lésbica”, cita no último parágrafo: “Eu sou lésbica. Deve a sociedade rejeitar-me?”.

Eu respondo à Cassandra: Não! A prática da violência homofóbica é inaceitável e deve ser repudiada.

Viva a diversidade!

* Hanna Korich é uma das sócias fundadoras da Editora Malagueta, agora Brejeira Malagueta – a primeira e única editora dedicada à literatura lésbica da América Latina, desde 2008.

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