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Retrospectiva: A pauta gay penetrou a mídia em 2008

Uma das lutas diárias do segmento LGBT é por visibilidade. Em 2008, a pauta gay esteve presente na mídia. Criação de veículos especializados, crimes, brigas, saídas de armário e muito mais fatos marcaram os últimos doze meses.

O que foi notícia e destaque na grande imprensa em 2008 é o foco desta retrospectiva, para relembrarmos e refletirmos como estamos sendo abordados pelos profissionais dos meios de comunicação.

Os grandes acontecimentos gays na imprensa começam cedo este ano. Um sósia do Kaká foi capa da revista G Magazine de janeiro. Não demorou muito para o caso ganhar destaque e repercussão internacional. A história foi parar nos jornais e telenoticiários. O jogador Kaká ameaçou processar a revista.

Depois da polêmica envolvendo o craque. foi anunciada em matéria da Folha Online a venda da G Magazine para um "grupo norte-americano" chamado "Ultra Friends International". A história foi desmentida no final de fevereiro na Coluna Destaques GLS, do jornalista Sergio Ripardo. A legislação brasileira não permite a compra de uma publicação por estrangeiros e não havia registro do tal grupo nas páginas da internet.

A partir de então, quem ficou responsável pela administração da G foi a empresa Ad Business, responsável por sites como Arrasa! e Babado.nu, A nova empresa reformulou a linha editorial da publicação, passando a privilegiar cada vez mais os ensaios de nudez.

Em fevereiro, a homofobia que acontece no cotidiano de universidades públicas ganhou as páginas do semanal Megazine, publicação voltada ao público jovem do jornal O Globo. A reportagem do jornalista Alessandro Soler trazia histórias, depoimentos e relatos de jovens universitários que enfrentaram ou enfrentam preconceito e homofobia em suas vidas acadêmicas. Na matéria, eram citadas até casos de bandeiras do arco-íris de grupos LGBTs nas faculdades que foram roubadas e incendiadas por estudantes preconceituosos.

O jornal O Estado de São Paulo, por sua vez, publicou matéria do jornalista William Glauber sobre as novas baladas gays que começavam a surgir na periferia paulistana.

No começo de março, mais especificamente entre os dias 9 e 11, O Globo também realizou uma série de reportagens especiais em que a homossexualidade era o grande gancho. As matérias traziam um panorama da situação do movimento LGBT no andamento do legislativo quanto a projetos como a criminalização da homofobia e trazia dados novos, como o aumento de empresas com direitos homoafetivos e causas judiciais envolvendo a comunidade. No último, fizeram até perfil de travestis que trabalham na área administrativa da prefeitura do Rio de Janeiro.

Na metade do mês de março, surgiu a notícia da chegada de uma nova publicação voltada para o público gay masculino: a revista Aimè. Diferente das concorrentes Junior e DOM, que já circulavam desde Novembro e Dezembro de 2007 respectivamente, o projeto do Grupo Lopsos seria mensal.

Em abril, a polêmica por um beijo gay na televisão voltou ao centro das atenções após Aguinaldo Silva, autor de Duas Caras, afirmar em seu blog que a novela teria um beijo entre Bernardinho e Carlão. Como sempre, criou-se um diz que diz midiático e a tal cena jamais foi ao ar num folhetim de horário nobre.

O final de abril não foi dos melhores para o hoje corinthiano Ronaldo. O jogador saiu com três travestis achando que fossem garotas de programa e teve uma pequena "surpresa". Do caso, a mídia inteira fez chacota. Andréia Albertini, a travesti que ficou mais em evidência após a confusão é hoje um rosto conhecido, dentro e fora da comunidade gay. Recebeu convite para participar de peças teatrais, deu milhares de entrevistas e já voltou à sua vida de antes.

O mês seguinte foi um dos mais agitados em termos de acontecimentos midiáticos. Chegou ao fim a batalha judicial envolvendo Richarlyson e o cartola do Palmeiras José Cyrillo Júnior, que afirmou na TV ser o volante são-paulino o jogador que iria se assumir em entrevista ao fantástico. Como pena do processo de danos morais o palmeirense foi obrigado a doar 10 cestas básicas a uma instituição de caridade.

Em maio aconteceu mais uma edição da Parada Gay de São Paulo, a maior do Brasil e também do mundo. A Folha Online fez um especial, publicando a coluna Destaques GLS diariamente até o dia da Parada. No dia da manifestação o Estadão publicou uma grande matéria sobre os 30 anos do movimento gay e soltou uma pesquisa sobre discriminação.

No dia 25, ninguém soube explicar muito bem o que aconteceu, mas a mania de grandeza entre os responsáveis pela manifestação acabou gerando notícia que desagradou alguns militantes. Durante o evento a APOGLBT – Associação da Parada do Orgulho GLBT – colocou na internet o comunicado que havia 5 milhões de pessoas no trajeto. Embora não desse para caminhar na Paulista e na Consolação, foi um chute considerado alto demais.

Um pouco antes, mais uma mudança aconteceu no mercado editorial gay. A revista Dom, que antes era bimestral, passou a ser mensal a partir da edição de maio. A Junior até sinalizou seguir os passos da concorrente no segundo semestre, mas, em edição seguinte, André Fischer, diretor executivo da publicação, assinou editorial afirmando que tornar a revista mensal era "sacrificar parte de seu processo de produção".

Por falar em Junior, a revista também se envolveu em uma polêmica pouco antes de sua edição de maio ir às bancas. O ator Rômulo Arantes Neto, capa da publicação em entrevista à coluna da Mônica Bergamo, comentou o episódio em que se desentendeu com travestis em 2007. Na ocasião, o rapaz chegou a dizer que travestis eram insatisfeitas e muito infelizes e que viam o fato de famosos as confundirem com mulheres como uma oportunidade. A declaração ofendeu uma parte da comunidade gay, que prometeu boicote à revista.

Junho foi o mês da tão esperada I Conferencia Nacional LGBT. Antes disso, matéria de capa da revista Época trouxe a história dos então sargentos Fernando Alcântara de Figueiredo e Laci Marinho de Araújo. A reportagem e a saída do armário dos militares desencadeou uma série de fatos, prisões arbitrárias, respostas escusas e julgamentos do todo tipo.

Em torno da causa dos sargentos, que vieram à tona denunciar não somente a perseguição homofóbica que sofriam, mas também irregularidades na compra de materiais medicinais, se mobilizou senadores, advogados, especialistas e até o ministro Gilmar Mendes do Supremo Tribunal Federal, que atendeu ao pedido de habeas corpus e determinou a libertação de Laci, que se encontrava em poder do Exército. No final do ano, um livro contando a saga destes dois corajosos rapazes foi editado e lançado pela editora Globo.

Em junho também foi a vez da MTV

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