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Rio de Janeiro, vanguarda e a Marta

Acabo de voltar do Rio de Janeiro,junto com o pessoal do Disponivel e do A Capa, fomos todos para a cidade maravilhosa trabalhar na Parada gay 2008. Eu e o Will fomos lá cobrir o evento, para mim pura novidade, nunca tinha ido à parada carioca, nem como jornalista nem como turista. Não sei dos outros anos, mas o que vi lá me fez refletir profundamente sobre inúmeras coisas. A primeira de todas é bem o que disse o governador Sergio Cabral, "São Paulo pode ter a maior parada do mundo, mas duvido que tenha um horizonte como a nossa", sem dúvida nenhuma governador, não há. Sobre o evento não há muito o que falar, parada é parada em qualquer lugar, o que vai fazer a diferença é a organização.

Os acontecimentos que me fizeram pensar sobre algumas coisas: primeiramente é a participação do governador fluminense Sergio Cabral (PMDB-RJ) na abertura da Parada, não é primeira vez, no ano passado ele também marcou presença. Algumas pessoas podem dizer que é oportunismo, mas quando você vê a pessoa de perto nota-se o quão verdadeiro é ou não. E, ao deparar-me com um Sergio Cabral só sorrisos e atenção a todos – ele fez questão de atender a todos da mídia – e o seu discurso em si.

Ao dizer que o "estado não tem que se preocupar com a opção (ele usou essa palavra, ninguém é perfeito) e sim tem o dever de garantir a liberdade de todos os cidadãos", o governador faz uma homenagem aos direitos humanos, como bem disse Luiz Mott, "não queremos direitos a mais", sim, queremos unicamente ser reconhecidos pela constituição. Particularmente, não sou favorável a política de segurança público do governador, que dá sinal verde a PM do Rio de Janeiro, porém, em contrapartida ele dá um exemplo de como um político deve atuar favoravelmente as políticas de direitos humanos.

Simbolicamente um governador de um dos maiores e mais conhecido estado brasileiro, subir no carro oficial da parada e gritar aos quatro cantos respeito à comunidade LGBT é de emocionar qualquer um. Pelo menos a mim tocou. E, pode anotar, Sergio Cabral desponta como um grande nome para uma futura presidência da República, quem lá esteve sentiu como o do Rio o admira, e ações assim têm respaldo nacional.

O Rio de Janeiro vive segundo turno disputado entre Gabeira e Eduardo Paes. A todo momento em que os ativistas do Grupo Arco Íris falavam sobre Fernando Gabeira ter assinado um termo de compromisso as questões LGBT e também de criar uma espécie de CADS carioca, as pessoas aplaudiam fortemente, reparei também que havia algumas pessoas com adesivos Gabeira prefeito e bandeiras. Na última pesquisa de intenção de votos, Gabeira ultrapassou Paes, mas ainda estão tecnicamente empatados.

Apesar do partido de Gabeira, o Partido Verde, estar coligado com o PSDB do Rio, ele representa sim o pensamento vanguardista que cidades como São Paulo e Rio de Janeiro precisam. Gabeira desde a sua juventude defende temas delicados, tais como: legalização das profissionais do sexo, com direito a carteira registrada e aposentadoria; descriminalização e legalização da maconha; sempre favorável as questões LGBT e defende a descriminalização do aborto.

Posto assim reflito: o Rio de Janeiro aos poucos se livra das piores mazelas políticas: o casal Garotinho, Cesar Maia e Marcelo Crivella. Assim, a cidade volta a ser aquela a maravilha vanguardista que foi nos anos 50/60/70, onde muita coisa cultural nascia: tropicália, Dizee Croquetes, Beth Carvalho, Velha Guarda da Portela, todo o povo da Bossa Nova, a luta das mulheres pelo direito do top less, Chico Buarque… Enfim, dá vontade de fazer duas coisas, a primeira é mudar de endereço e morar no Rio, a outra é fazer um convite para os políticos de lá migrarem pra cá. Pois, São Paulo está triste.

E, tal tristeza ficou mais clara no domingo. Ao tempo em que os cariocas têm dois candidatos, digamos progressistas – Eduardo Paes e Gabeira – a cidade de São Paulo já não sabe mais o que tem. No domingo, dia que marcou a volta da propaganda eleitoral política, a candidata do PT veiculou uma publicidade onde no final questionava, "Kassab tem filhos? É casado?", reforçou toda a cultura machista e preconceituosa que boa parte de seus eleitores acreditavam, no caso, a sua candidatura, estar contra.

Desespero político? Pode ser, mas foi um erro que não terá mais contorno, e sua trajetória será lembrada por tal ato. E dizer que "não viu  e apenas ouviu falar" é subestimar a inteligência do eleitorado. A principal interessada da campanha não tem conhecimento do que será veiculado? Foi triste constatar que usaram dos artifícios da extrema direita, da qual Kassab e seu partido (DEM, antigo PFL das oligarquias) fazem uso. Com tal ato, Kassab pode estar praticamente eleito e a capital paulista viverá mais anos de conservadorismo e obscurantismo político onde a maioria das ações são maquiagens e poucas ações são efetivas.  

Eduardo Paes também assina carta-compromisso com movimento LGBT

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