Um tapete nas cores do arco-íris cobriu a escadaria da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. O ato foi um protesto contra a forte presença religiosa na política nacional e pela aprovação das leis que tornam plenos os direitos civis dos LGBT. Sindicalistas, políticos e militantes (somente do PT compareceram) e religiosos juntaram-se aos ativistas da causa LGBT.
Marjorie Marchi, presidente da associação de travestis e transexuais do Rio de Janeiro (Astra), revelou-se preocupada com rumos da campanha presidencial. "Enquanto os candidatos estão usando as reivindicações do movimento LGBT como moeda de troca com a comunidade evangélica, as pessoas estão morrendo. A negação de direitos cria mais exclusão, mais violência. Ou o Estado assume o compromisso de ser laico ou vamos caminhar para uma era muito perigosa no que tange o direito para o meu igual", alertou.
A luta pela aprovação da lei que criminaliza a homofobia e a de união civil foram lembradas em todos os discursos proferidos durante a tarde. Os manifestantes vaiaram o pastor Silas Malafaia, autor de outdoors espalhados por todo o estado fluminense com a frase "Deus fez macho e fêmea". O apoio de Malafaia foi veiculado no horário eleitoral de José Serra.
Quando chegou Cláudio Nascimento (coordenador do movimento Rio sem Homofobia e membro do governo do estado), houve um momento de tensão. O equipamento de som tocou o jingle da campanha de Dilma Roussef. Nascimento ficou irritado: "Isso queima nosso filme", alegou. "Tanto Serra quanto Dilma têm conteúdo programático em defesa dos direitos dos homossexuais. Nosso objetivo é realinhar a campanha do segundo turno para a defesa do Estado de direito. Defendo a liberdade religiosa, mas tal liberdade não pode ser instrumento de incitação da violência ou para aprofundamento de uma agenda de obscurantismo e fundamentalismo", definiu.
O perigo do uso religioso do voto foi comentado pelo presidente do Grupo Arco-Íris, Júlio Moreira, e pelo Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. Júlio foi taxativo ao temer um holocausto no Brasil. "A partir do momento que o Estado deixa de ser laico e se submete a religião, corremos o risco de perder nosso direito de ir e vir", falou.
Minc por sua vez vê com preocupação o uso de fiéis como massa de manobra. "Não é possível aceitar a existência de currais eleitorais religiosos. A consequência pode ser a guerra entre as religiões. Isso é péssimo para o Brasil", concluiu.