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Romance gay “Segredos da casa grande” é rico em referências históricas

A história começa assim: estamos nos anos 60. O jovem Antônio Araújo, que herdou as terras do pai assassinado em uma disputa familiar, toma conta da fazenda Esperança, uma coisa meio "Abril despedaçado" (Walter Sales, 2001). Antônio se encanta com o jovem Luís Kristo, que vive com a sua família de imigrantes húngaros, que por sua vez prestam serviços para os Araújo.

Luís vai viver na fazenda Esperança a mando de Antônio, e eles passam a dividir o mesmo quarto e a viver todo o tempo juntos. A situação não gera qualquer desconforto: aqui, começam alguns dos problemas que persistirão ao longo do romance.

O autor Marcelo Santanna volta no tempo para nos contar a rápida passagem de Luís pelo seminário. Sim, ele se apaixona por um colega do curso. Os padres desconfiam e expulsam os dois. Não, não é o filme "Má educação" (Pedro Almodóvar, 2004). A narrativa retorna ao tempo presente, quando ficamos sabendo que Antônio e Luís irão viver uma tórrida paixão.

Nos momentos em que o personagem de Luís descreve o patrão e amante, as suas falas estão mais para discursos em torno do gay viril e discreto do que uma discrição de um homem forte e atraente. A trama segue. Luís e Antônio se relacionam às escondidas. Porém, o patrão tem surtos autoritários e Kristo resolve fugir. Vai para São Paulo e, na metrópole, torna-se michê no parque Trianon. Desta parte em diante, o autor busca soluções fáceis demais para os dramas do personagem principal. Por exemplo: Kristo conhece um francês em seus programas noturnos. Adivinha? Ele vai para a França e lá chega a dar aula em Sorbonne.

No fundo, "Segredos da casa grande" é um livro previsível, homogeneamente morno. Ainda por cima, repete clichês de outras obras gays: tem uma trama discursiva e coloca o personagem gay como redentor – é aquele que tem de provar que a homossexualidade não é um demérito.

O grande ponto positivo de "Segredos da casa grande" é o seu referencial histórico. A partir de Luís Kristo, presenciamos a queda do presidente João Goulart, deposto pelo golpe militar, e o início da ditadura no Brasil. Já na França acompanhamos os atos revolucionários de 68, quando estudantes tomaram as ruas da Cidade Luz. Marcelo Santanna também faz um retrato interessante sobre a vida dos michês no Trianon. Seus medos, sonhos e angústia ganham voz no personagem de Kristo.

Serviço:
"Segredos da casa grande"
Autor: Marcelo Santanna
Editora: Nelpa
Preço: R$ 39

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