Pesquisas mostram que as cores Rosa e Azul são as preferidas da humanidade, mas talvez nós nunca nos demos conta de que elas são cores determinadas a nós deste o útero materno. Quando vem a notícia de que uma mulher está grávida, a primeira pergunta que fazemos é: “Menina ou Menino?” E é aí que definimos antes mesmo do nascimento a cor preferida da criança. Será esta regra social que nos fará reproduzir outras tantas regras por toda a vida.
Na estréia da minha coluna, fiquei pensando como fazer dela um espaço onde posso falar da militância política pela Defesa da nossa Cidadania, sem torná-la um mundo distante da realidade das lésbicas e bissexuais.
Com isso, penso em usar este espaço para falar de todas as nossas pequenas ações cotidianas, que são atitudes políticas e de militância, mesmo não levantando bandeiras.
Iniciei meu texto com uma pequena reflexão sobre algo simples, mas que nos faz pensar o quanto a sociedade sutilmente nos coloca regras e a reprodução delas faz com os dogmas sociais se perpetuem.
Vivemos em uma sociedade binária, onde algo sempre se opõe a alguma coisa. O Rosa ao Azul, o Homem a Mulher, as pessoas negras e as brancas, as obesas e as magras, a homossexualidade e a heterossexualidade.
É possível imaginar que este binarismo entre as pessoas e as coisas na sociedade faz com que nós tenhamos sempre que escolher entre o certo e o errado, entre o que é normal e o anormal, e o quanto tudo isso nos influencia se nos darmos conta.
Fazendo as relações das situações e coisas que descrevi acima, podemos observar que há uma distinção entre um fato e outro, e esta distinção torna as coisas, pessoas e fatos diferentes e em situação de hierarquia, o que coloca algumas coisas melhores do que as outras, gerando vivências e pessoas privilegiadas na sociedade, como, por exemplo: os homens às mulheres, as pessoas brancas às negras, as magras às obesas, a heterossexualidade à homossexualidade.
Por isso, ao associar coisas às mulheres, por exemplo, faz com que elas todas sejam piores que as associadas aos homens e este contexto associativo nos é ensinado desde cedo, como demonstrei no início do texto ao fazer a associação da cor ao sexo do bebê.
No entanto, é no nosso cotidiano que esses contextos passam despercebidos e é para isto que quero chamar atenção, para quantas das nossas atitudes reproduzem ou contestam esta normatividade. Desde a escolha da cor das nossas crianças até mesmo quando escolhemos vivenciar nossa sexualidade dentro de quatro paredes.
Não quero dizer que todas nós tenhamos que sair do armário, mas destacar que ao manifestar o nosso afeto, quando andamos de mãos dadas as nossas namoradas, quando damos um selinho ao encontrá-la na rua, são atitudes de militância, são atos políticos que não nos fazem levantar bandeiras, mas mantê-las hasteadas na construção de um mundo melhor. Claro, sabemos que há muitos pais e mães que não aceitam e com isso nos submetem a situações de violência, seja física, moral ou mental, mas há também que evidenciar as atitudes que fazem com que as coisas e pessoas mudem.
Ademais, existem outras situações onde nosso posicionamento, ainda que pequeno, é um ato político, como, por exemplo, quando não partilhamos de piadas sobre pessoas negras, pessoas com deficiência, entre outras. Tais piadas, historicamente, só serviram para denotar a inferioridade de determinados segmentos.
Viver no armário pode ser uma atitude confortável e conseqüentemente de proteção, mas viver fora do armário é bem melhor!
Experimente! E até a próxima!
* Irina Bacci é militante do movimento GLBT, coordenadora geral do Coletivo de Feministas Lésbicas e adora a cor azul.