Gustavo Mineiro tem 28 anos, vive no interior de São Paulo, e se dedica à escrita. Autor de peças, poemas e de um romance, agora o rapaz pretende alçar vôos mais altos: o cinema. Gustavo ( foto ) escreveu o roteiro de um filme em longa-metragem, que de cara traz dois elementos alienígenas ao cinema brasileiro: trata-se de um musical. E com canções de Whitney Houston.
O roteirista sabe das dificuldades que o projeto pode ter de enfrentar, mas não se intimida. Ele procura possíveis patrocinadores e apoiadores, que podem contactá-lo no email mineirounespbr@gmail.com. Confira a entrevista exclusiva que Gustavo concedeu à redação de A CAPA.
Como surgiu a idéia de escrever um musical GLS com músicas da Whitney? Por quê você escolheu ela?
O musical em si não trata da Whitney. A princípio eu tinha outra idéia de musical, era para ser com uma artista brasileira, Elis Regina, a história seria em torno de um fã que tentaria conhecê-la, no entanto eu ouvi o último CD da Whitney e foi inevitável, além de ser fã, as letras contemplam uma nova fase da cantora, então, a ideia veio à cabeça. Comecei uma pesquisa de toda a discografia dela, trabalhei na tradução das letras pra ver como elas poderiam se encaixar dentro de um contexto, então comecei a escrever o roteiro, encaixando as músicas, as quais substituem em todo ou em parte diálogos inteiros, na verdade essa contrução do roteiro foi muito rápida. Outro motivo, é que sempre suas músicas estiveram presentes no meio GLS, eu mesmo já presenciei várias performances de drags com as músicas da Whitney e já as ouvi muito nas boates.
Fale mais sobre o filme. As músicas dela estarão em inglês ou português?
O nome é meio que óbvio, "Whitney’s". Pode parecer pretensão pra quem está apenas no começo, mas é um longa, de todos os projetos que tenho esse é o primeiro no qual realmente estou investindo pesado, ele agrega valores que as músicas trazem e a própria história ganhou vida por si só, tanto que depois do trabalho de pesquisa em dois meses o roteiro estava pronto. É claro que sempre existem adaptações a serem feitas durante o processo, mas nunca me dediquei tanto a um dos meus roteiros como a esse. Pelo próprio formato da história, as músicas serão todas em inglês, as pessoas vão se perguntar como vão entender o filme e como elas entrarão no contexto, por isso pretendo trabalhar com as legendas nas partes onde entram as músicas, pois a idéia central é que as músicas sejam interpretadas como performances da mesma forma que é feito nos shows nas boates, quero trazer esse lado do glamour que só a performática drag queen tem, na verdade considero a própria performance como uma arte, no que tange a parte musical é essa a idéia.
Como você pretende conseguir os direitos dessas músicas para poder usá-las no filme?
Essa é uma pergunta complicada. Na verdade eu ainda nem entrei em contato com as gravadoras, tampouco com quem os detêm no Brasil, pois a minha maior preocupação em si é conseguir uma produtora pra poder rodar o filme, tendo toda a estrutura acredito que facilitará na obtenção dos direitos, mas vejo aí uma grande negociação, principalmente por ser tratar de uma artista do porte dela e das negociações não serem só em âmbito nacional.
Você mesmo vai dirigir o filme? Já existe uma equipe?
Quanto à direção realmente tenho outro nome, mas que têm sido de difícil acesso, apesar das várias tentativas de contato. Gostaria muito de ter o Miguel Falabella como diretor, pela experiência que apresenta nessa parte de musicais, pelo caráter profissional e pela competência que tem, mas até agora não recebi nenhuma resposta dos e-mails que enviei pelo seu site pessoal. As performances não estão descritas no roteiro, não ainda, já as tenho em mente, por isso uma co-direção há de acontecer independente de quem seja a direção. Ainda não há equipe, tenho contatos com profissionais para os quais já apresentei o projeto, alguns ficaram bem animados, mas como sempre pra poder se começar algo mais concreto é necessário um investimento inicial, sem ser conhecido no circuito cinematográfico e pela temática do filme tem sido um entrave encontrar empresas que estejam dispostas a patrocinar o projeto. Já entrei com o processo de registro do projeto para poder arrecadar fundos por meio das leis de incentivo à cultura.
Conte um pouco sobre a história do filme
A história começa quando eles são adolescentes, onde eles se tornam amigos, então rapidamente dá-se um salto no tempo onde eles já estão adultos. O desenrolar da história se dá quando um deles volta da Europa recém operado, Lohaine (Carlos), na verdade ela volta porque pega o marido com outra e resolve passar um tempo com os amigos, então cada um vai vivendo seus conflitos. Julio é um homossexual com traços mais femininos, seu pai não o aceita como é, então ele inventa uma namorada falsa pra poder não ter grandes problemas em casa. Samanta é uma travesti dona de um sexy shop e mora em um apartamento simples que divide com Leandro que tem o sonho de ser uma drag queen famosa, lá acontece boa parte da história. Por último, tem Adriano que é estudioso, o típico gay mega discreto, que nunca contou a ninguém de seu convívio sobre a sua homossexualidade, a qual tenta esconder ao máximo, acontece que acaba sempre se apaixonando por caras héteros. A história vai sendo costurada dentro dessa trama, onde um amigo ajuda o outro, ou não, eles tem seus conflitos e vão sendo superados dentro da história. Isso tudo casou muito bem com as letras da Whitney, principalmente do seu último CD que fala muito de superação.
E elenco? Você pretende convidar atores famosos?
Na verdade minha pretensão não é ter muitos famosos, gostaria de ter no papel de Samanta uma verdadeira travesti, assim como no papel de Lohaine uma transex, mas principalmente que a maioria do elenco fosse constituído por atores e atrizes homossexuais que não tem grande visibilidade no meio artístico, quero rostos novos, pessoas que sejam apaixonadas tanto pela arte e que ainda não tiveram sua oportunidade. Trabalharíamos toda a construção das personagens com estes, isso traria maior veracidade à história e muito mais sentimento. Várias situações abordadas já foram passadas por muitos de nós, alguns sentimentos como o de exclusão social, humilhação, garra, força de superação, conflito interno entre outros podem ser mais bem esboçados por quem já os sentiu na pele. Atores profissionais com certeza conseguiriam trazer esses sentimentos à tona no filme, mas acredito que intensidade maior pode ser dada por um homossexual. Mesmo assim alguns nomes por mim já foram pensados para alguns papéis. E para a produção, principalmente depois desse último BBB, gostaria muito de ter o Dicesar trabalhando, principalmente, na construção das performances. Confesso que pro papel de Adriano penso em um ator mais conhecido como Cauã Reymond.
As pessoas vão cantar de verdade no filme ou as faixas estarão em playback?
Como já expliquei, a intenção é trazer toda arte drag queen para as telonas, então as pessoas não vão cantar, mas sim interpretá-las, conforme a pedida do local onde se passar a cena. Teremos coreografias e o importante vai ser fazer essa sincronização labial com a música para realmente parecer que eles estão cantando e não apenas dublando sem haver sentimento algum.
O que você acha dos filmes brasileiros atuais de temática gay, como DO COMEÇO AO FIM e QUANTO DURA O AMOR?
São filmes densos, que tem histórias bem particulares, tiveram grande repercussão, eu mesmo ainda não tive a oportunidade de assistir "Quanto Dura o Amor?", mas acompanhei os elogios recebidos pela crítica. Como falei, é bem diferente da proposta do
