Menu

Conteúdo, informação e notícias LGBTQIA+

in

Roteirista nega inclinação lésbica de personagem em Luluzinha Teen

Em junho do ano passado, Luluzinha, bem como o resto de sua turma, cresceu. Os personagens se tornaram adolescentes e viraram quadrinhos em formato mangá, nos mesmos moldes da Turma da Mônica Jovem.

No empreendimento da Pixel Media e da Ediouro, cada personagem passou a ter uma personalidade mais condizente com a mentalidade jovem dos tempos atuais. Como qualquer garoto adolescente dos dias de hoje, o personagem Bolinha emagreceu e passou a tocar guitarra, perseguindo o sonho de se tornar um rockstar.

Aninha, uma das melhores amigas da Luluzinha, também cresceu. É aficcionada por tecnologia. Na trama, ela joga um game de computador, intitulado Katana. Por conta da chatice de jogar com um personagem feminino, a garota escolhe um avatar masculino, intitulado Dado Anirim.

A personagem, que tem o cabelo curtinho, conhece no mundo virtual o caracter Rio Bravo, que depois descobre-se ser Jasmim, a irmã de Raio, um colega de escola. Após a conclusão da primeira temporada, ambas ficam super amigas.

Teria então Aninha uma inclinação lésbica? Renato Fagundes, o roteirista das histórias nega. "A Aninha de fato não se encaixa nos estereótipos da mocinha feminina e bem-comportada (…)  Mas, como (re)criador da personagem, posso dizer que isso [a homossexualidade] não faz parte do perfil dela, como foi escrito por mim", explica.

Em entrevista ao site A Capa, Fagundes revela que a saga das personagens no game online foi inspirado em Grande Sertão: Veredas, romance de Guimarães Rosa. Os nomes dos personagens no game fazem alusão ao casal gay da história, Riobaldo e Diadorim.

Fagundes explica também como se dá a interação com o público leitor e até a consultoria de moda, que define o estilo de cada personagem.

Fale um pouco sobre você: idade, formação, onde viveu e mora…
Tenho 37 anos, nasci em Niterói, moro no Rio, sou formado em jornalismo, trabalhei no JB e no Globo, tive uma revista na internet chamada 2K… Hoje sou roteirista, e coordenador de roteiro e conteúdo do núcleo de TV e Multiplataformas da Conspiração.

Quando você começou a trabalhar com roteiros de história em quadrinhos?
Escrevo roteiros de quadrinhos há tanto tempo quanto escrevo roteiros pra cinema, TV e animação, desde 2001. Mas a Luluzinha Teen é certamente o meu maior trabalho em HQ – tanto em volume quanto em visibilidade.

É exagero enxergar um viés lésbico na Aninha?
É. Ainda que todo mundo tenha o direito de enxergar o que quiser. A Aninha de fato não se encaixa nos estereótipos da mocinha feminina e bem-comportada, e os personagens não pertencem totalmente a quem os criou. Por isso, não vejo nada de ofensivo em se supor isso. Mas, como (re)criador da personagem, possa dizer que isso não faz parte do perfil dela, como foi escrito por mim. Ou seja, como a conheço bem, posso dizer que hoje, com toda a certeza, a Aninha é heterossexual.

Características como gostar de games, usar cabelo curto e agora estar mais amiga da personagem Jasmim, foram propositais ou apenas fruto da coincidência?
As características dos personagens são propositais, na medida em que definem o perfil de cada um. Mas não creio que ter cabelo curto, gostar de games e ter uma boa amiga sejam indicadores da orientação sexual de alguém. Na verdade, deixa eu revelar uma coisa que ninguém – até onde eu sei – percebeu: a trama da Aninha e da Jasmim no Katana, na primeira temporada, é inspirada em Grande Sertão: Veredas, do Guimarães Rosa. Daí os nicks dos personagens no game serem Dado Anirim (numa referência à Diadorim) e Rio Bravo (numa referência ao Riobaldo). Tem um twist na história, já que no Katana as duas personagens que se fazem passar por homens são mulheres. A trama brinca com os relacionamentos virtuais, com a possibilidade de se interessar por alguém mesmo sem saber como essa pessoa é exatamente. Mas a relação entre Aninha e Jasmim, fora do jogo, é de amizade, e só.

A revista Luluzinha pretende abordar o tema da homossexualidade em suas páginas? Outros temas considerados tabus como drogas, gravidez na adolescência, entrarão?
A gente conversa muito sobre os temas que vão fazer parte da série. Muitas questões importantes para o nosso público serão abordadas, seja diretamente, seja de forma alegórica – um exemplo é o fast chip, da segunda temporada. Não posso ainda dizer que temas teremos no futuro. Mas certamente a gente vai continuar a falar, com delicadeza e criatividade, de assuntos relevantes para o nosso público, nunca esquecendo que muitos dos nossos leitores e leitoras são bem novos. A gente quer trazer temas importantes, sim, mas sem atropelar pais e mães, ou ocupar o espaço deles. Por isso, a gente trabalha com muito cuidado e atenção na hora de abordar assuntos mais complexos.

A Turma da Mônica Jovem, que está no mesmo mercado que a Luluzinha Teen, tem uma personagem que usa constantemente gírias gays. O que acha disso?
Não vejo problema nenhum. E acho bem divertido. Gírias que surgem num ou noutro contexto social quase sempre acabam ultrapassando os limites do universo onde surgiram. É da natureza da linguagem ser viva e dinâmica.

Maurício de Sousa declarou algumas vezes que só fará um personagem gay quando a sociedade estiver preparada. É possível hoje um personagem homossexual nos quadrinhos brasileiros?
Demorei tanto pra responder à sua entrevista que o mestre Mauricio já lançou um personagem gay na revista da Tina. Ou seja, é possível sim.

A Luluzinha Teen se usa de alguns artifícios como blog, twitter e coluna na revista Atrevida. Qual é o posicionamento do público sobre isso? As pessoas interagem como se fosse uma pessoa real?
Muitos leitores interagem, sim, com os personagens como se eles existissem de verdade, especialmente os mais novos. Acho isso natural e positivo. É um exercício de imaginação e fantasia, e um sinal de que a revista está se comunicando com o seu público. Já outros falam de um jeito mais objetivo, dão ideias de historias, criticam, participam das promoções, etc.

Esse tipo de interação não é como criar um novo "papai Noel" para o público que lê o gibi?
Espera aí, você não acredita em Papai Noel???

Explorar essa interatividade entre  papel e digital não compromete o enredo da história, que conta com menos páginas por conta da "divulgação" desses espaços virtuais no meio da trama?
A gente tenta sempre integrar as mídias da forma mais natural e fluida possível, sem comprometer o enredo da história – e, eu acho, às vezes até enriquecendo a experiência da leitura. Não dá pra ignorar a realidade da internet e das redes sociais numa narrativa que trata de jovens de hoje. Se algum exagero comprometeu o andamento de uma ou outra das histórias, a culpa é toda minha.

Os personagens da Luluzinha Teen contam com consultoria de estilo do Chic, da Gloria Kalil. Como funciona isso?
No início, a Gloria Kalil definiu perfis de estilo para cada personagem. A partir daí, em cada revista, eu e a equipe da arte analisamos o roteiro, ainda na primeira versão, pra listar as situações diversas em que os personagens vão aparecer. O roteiro e um relatório de figurinos seguem, então, para o pessoal que cuida da moda, que manda uma série de referências fotográficas para orientar a criação dos modelos de roupas de cada personagem naquela edição. Nas últimas edições, esse trabalho foi feito pela estilista Daniela Connoly. E ficou, como diria o Alvinho, irado!

Sair da versão mobile