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“Ruim comigo, pior sem mim. Precisamos de gay no poder”, diz Léo Áquilla candidato a vereador

Não há como negar que sobre os palcos, a drag Léo Áquilla seja um sucesso de público e crítica. Mas, muitos não conhecem o político por trás da personagem. Jadson Mendes de Lima, o Léo Áquilla, deve se formar esse ano em jornalismo. Simpático, ele diz o que pensa. Polêmico, abandonou seu personagem e vestimenta já em sua primeira candidatura a Deputado Federal, em 2006 – quando teve 22 mil votos – para ser reconhecido como o "candidato da gravata rosa". Perguntado sobre o porquê dessa opção, ele disse acreditar que drag seja um palhaço feminino e afirmou temer sobre os rótulos criados sobre os gays, caso Salete Campari seja eleita. Em entrevista ao A Capa, ele conta ainda como foi o começo na política e quais são suas propostas.

Você já se candidatou como deputado. Porque decidiu entrar na política?
Indignação. Acho que é isso que leva a maioria das pessoas honestas a se candidatar. A gente tem que parar de falar e ir lá fazer. Se eu tenho amor ao meu próximo e eu não faço nada estou sendo tão corrupto quanto. Há exatos quatro anos, fui levar um projeto de uma idéia que eu tinha e os políticos me receberam super bem, me elogiaram e eu fui embora. Quando cheguei ao elevador, percebi que tinha esquecido minha agenda e voltei para buscar. Então eu ouvi: ‘Esses viados tem que morrer’.  Fiquei indignado com aquilo e chorei muito. Foi um choro que lavou a minha alma. Falei pra mim mesmo: ‘Vou ingressar na política para lutar contra isso’. A primeira idéia que eu tive, foi apoiar o Márcio Yussef. Ao lado dele eu fui percebendo que eu não precisava apoiar ninguém, eu podia me candidatar e não ficar mendigando poder aos outros.

Me conte mais de sua primeira experiência.
Foi péssima, porque houve muita rejeição. Até do próprio gay, que admira a Léo Áquila estrela, mas não conseguia aceitar a Léo Áquila política. Acho que hoje as pessoas já refletiram. Os gays já assimilaram melhor a idéia e agora as pessoas até me cobram: ‘E aí você não vai se candidatar?’. Elas estão percebendo que ruim comigo, pior sem mim e quando digo isso, estou falando de um candidato gay, que pode ser qualquer candidato, a própria Salete Campari. O que a gente precisa, é ter gay no poder.

A Salete Campari vai se candidatar trajada como a personagem. Porque você decidiu abandonar a Léo?
Eu acho que ela pode ganhar. É o eleitor que tem que ter esse discernimento. Saber quem ele quer ver na Câmara. Pode ser que ela seja excelente, mesmo montada. Mas, eu tenho receio de que isso vire um pouco de espetáculo. Porque o gay já não é muito bem visto. Colocar alguém com visual extravagante demais, entra em descrédito. A Elke Maravilha tem uma definição perfeita para drag queen. Uma vez, conversando comigo, ela disse: ‘Drag Queen é um palhaço de luxo’, e é verdade. Um palhaço é um profissional que pinta a cara para animar platéia. Gente, a drag queen é exatamente isso. É um palhaço feminino. Como você vai votar em um palhaço?

Como surgiu a idéia de ser o candidato da gravata rosa?
Na verdade, como me desmontei para me candidatar eu precisava de algo para me identificar, e o gay é ligado ao rosa. Já que não podia usar um terno cor de rosa porque ia virar uma palhaçada, achei que podia brincar com a história da gravata. Quando eu estiver no meio daquela multidão de deputados, as pessoas vão ver a minha gravata Pink gritando e vão saber que estou trabalhando.

Você acha que o Clodovil defende os nossos direitos?
Nem os nossos, nem os de ninguém. Não se pode cobrar nada do Clodovil, porque em pleno horário político, ele olhava para a televisão e dizia: ‘se quiserem votar votem, eu não vou fazer nada’. O Clodovil está lá para ocupar uma cadeira, ele nunca foi desonesto.

Quais são suas propostas?
A frase da minha campanha é: ‘Eu não sou macho, mas homem eu sou’. Quando as pessoas entenderem que ser homem não é ser macho, vamos viver em um mundo muito mais tolerante à diversidade. A minha primeira proposta é criar uma disciplina que vai mexer com o emocional da criança. Ela vai se chamar IE (Inteligência Emocional) e vai falar de amor. Existem várias coisas que compõem o amor: a tolerância, a paciência, o respeito ao próximo, aos pais, aos professores. Na verdade, a inteligência emocional é um resgate de valores. Do tempo em que o aluno abaixava a cabeça quando o professor falava. Vou lutar também pelas leis homoafetivas e pela criminalização da homofobia. Só que temos que começar cortando o mal pela raiz. Tenho um outro projeto de lei que é sugerir o uso da camisinha no casamento através de um projeto de conscientização da saúde da mulher. É um projeto muito complexo que vai ter que vir com muita informação. Com isso, vai haver diálogo em casa. E esse diálogo vai impedir o contágio da AIDS. Meu terceiro projeto é mais direto aos gays. Vou lutar pela valorização da cultura das minorias. Vai ser como se fosse a Lei Rouanet G. Eu quero criar um projeto onde as empresas, através de algum benefício, possam ajudar os eventos das minorias. Isso ajudaria, por exemplo, a Parada Gay, que precisa de patrocínio.

Você concorda com a Parada Gay da forma como ela é hoje?
Concordo, a Parada chegou numa dimensão que não dá mais para controlar as pessoas presentes. Ela tem um teor político sim, mesmo que tenha algumas travestis mais abusadas, que fiquem peladas. Se é que a Parada é um mal, ele é necessário. É uma manifestação muito importante, se está ruim com ela, podia estar muito pior sem ela.

Por que os gays devem eleger um candidato gay?
Porque a diferença entre eu ir lá e apresentar um projeto para o casamento gay e a Marta fazer isso, é que é uma causa minha e eu vou esbravejar por ela. Entrevistei a Marta Suplicy uma vez e ela disse: ‘Eu apresentei o projeto, não foi aprovado, não posso fazer nada’. Falei olhando nos olhos dela: ‘eu não voto nunca mais em você e acho que os gays precisam saber disso’. Eu quero fortalecer a bancada LGBT, me tornar forte no primeiro mandato e patrocinar a campanha de outras pessoas do mundo gay como Silvetty Montila. Eu vou convencê-la a ser candidata, ela vai ganhar a eleição e ninguém vai mais conseguir nos tirar da Câmara.

Você disse ao jornal Folha de São Paulo que os homens adquirem AIDS quando transam com travestis e passam o vírus quando dormem com suas esposas. Isso é verdade?
É isso, mas não foi o que eu disse. Me perguntaram qual é o foco de contaminação. E eu respondi que é o fato dos maridos traírem suas esposas com a vizinha, com uma prostituta e até com travestis. E aí o jornal colocou só as travestis. Eu pedi uma retratação inclusive. Mas, retificando, eu até acho que as travestis transmitem menos perigo.

Porque você não participa de eventos de militância?
Eu participo quando me convidam. Não tenho bola de cristal, se me chamarem eu vou.

Como você pretende conciliar sua carreira artítica com seu trabalho como vereador?
Vereador não trabalha de final de semana, estou livre.

O que você acha da CADS?
Gosto do trabalho da CADS, mas precisamos de mais agressividade em busca do objetivo.

Você apóia algum candidato à prefeitura?
Meu partido apóia o Kassab.

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