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Safado, puto, sem vergonha

Enquanto isso, no mundo real… Como eu ainda não moro ali perto da Frei Caneca numa kit alugada com a Diana, estava na noite de ontem no metrô voltando para minha casa. Na Bresser, beijo na boca e tchau. Ouço um “viado”, mas podia ser só mania de perseguição. Desencano. Sigo até a Penha, abstraído com a leitura de uma revista. Ao descer do vagão ouço um “safado, puto, sem vergonha”.

Então não era impressão. O metrô apita e sai da estação. Olho para o lado para  ver se o xingamento era mesmo destinado a minha pessoa. Do vagão um cara me xinga de novo e mostra o dedo do meio. Olho ao meu redor. Ninguém a minha volta. Eu quieto no meu canto, que não fiz nada pra ninguém, tocando minha vidinha sem incomodar ninguém, sem ser cafonalha de deixar a música alta no celular no vagão, fui chamado de safado, puto e sem vergonha e nem foi na cama, por alguém que eu gosto. Bléh.

Semana passada foi bem parecido. Quarta-feira a noite, na consolação um rapaz desce nos encarando na escada rolante. Anda acompanhado com um amigo e uma amiga e olha para trás com muita frequência. Paramos. De longe ele continua nos olhando, nos medindo. Como se estivéssemos errados ou fossemos uma praga que devesse ser exterminada. Eu hein. Tive até pesadelo com ataque homofóbico aquela noite.

É tanta coisa errada no mundo acontecendo ao mesmo tempo agora, que as pessoas não estão satisfeitas e sempre querem arrumar um jeito de foder as coisas cada vez mais. Gente sem comer, pessoas sendo assaltadas, mortas, desvios financeiros, tráfico, máfia, pessoas doentes, Israel bombardeando a Faixa de Gaza.

Não sei nada nem do rapaz dos xingos, nem do que me encarou. Sei de mim das minhas vivências, dos meus problemas e preocupações. Fico imaginando como deve ser a vida dessas pessoas. Será que um besta desses não tem nada melhor com o que ocupar seu tempo e cabeça do que com o fato de eu estar beijando outro cara? Sei lá, será que ele não tem dívida, nome sujo, namorada, uma prima grávida, um irmão desempregado, um pai aposentado, problemas na conexão da internet, para eu, ali naquele instantezinho de merda ser a coisa mais importante da ignóbil atenção dele?

Mas que puta que pariu, viu. Esse tipo de coisa cansa minha pouca beleza. “Não poder” ficar junto, dar pinta, ser eu mesmo, dar beijo, abraço, aperto de mão sossegado, em paz, sem ser martír ou algo do tipo, correndo o risco de apanhar. Mas que merda, viu. Pra quê? Por quê? Por nada.

Então eu continuo. Beijando, pegando, andando de mão dada (apesar de não gostar muito), combatendo o preconceito nessas pequenas, mas significativas atitudes. As vezes “fugindo”, maneirando. Pra fazer tudo de novo no dia seguinte.

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