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Safoterapia

Um site para a troca de idéias que sirva de espaço de auto-afirmação para mulheres lésbicas e bissexuais. Essa é a idéia do Safoterapia (www.safoterapia.com.br), página criada pela consultora de empresas e “escritora aspirante” Márcia Regz, de 38 anos.

Graduada em Administração, Márcia se incomodou com a “racionalidade excessiva” de seu próprio universo profissional e viu a necessidade de incentivar a discussão de temas que pudessem “ajudar, ouvir, levantar o moral, a auto-estima da mulher lésbica”.

No Safoterapia, a internauta terá acesso a serviços de ajuda e orientação totalmente gratuitos, ou como explica a sua idealizadora, “é uma mistura harmoniosa de consultoria, relaxamento e interação para mulheres que amam mulheres”.

Nesta entrevista exclusiva ao Dykerama.com, Márcia, que atualmente escreve um romance lésbico regado a suspense e boas doses de erotismo, fala sobre a criação do site, explica sobre seu funcionamento e evidencia quais são as principais preocupações da mulher lésbica e bissexual em relação a assuntos como sexo, saúde e trabalho. Confira:

Dykerama.com – Como surgiu a idéia do site?
Até pouco tempo, era empresária em um setor de mercado totalmente desgastante. A racionalidade excessiva estava consumindo o melhor de mim. Distante do meu mundo e mergulhada em algo que não me dava prazer passei a me questionar o que me impedia de virar a mesa antes de mergulhar no caos pessoal. Uma aspiração antiga era disponibilizar serviços na Web para mulheres.

Já há muito tempo percorria sites e blogs direcionado às lésbicas, muitos dos quais sou fã e marco ponto freqüentemente. Há muita diversão, informação, páginas pessoais, sites de relacionamento, etc. Contudo, não encontrei nada aqui no Brasil que se propusesse especificamente a ajudar, ouvir, levantar o moral, a auto-estima da mulher lésbica. Abraçar a idéia foi quase instantâneo.

Dykerama.com – O que você pretende com ele?
A proposta do site é ajudar mulheres a serem felizes ou pelo menos a sofrerem menos. A superarem a dor, os medos, as correntes. A se auto-valorizarem. A valorizarem a vida. A valorizarem suas mulheres… e o amor que as envolve. O site não tem a pretensão de ser exatamente uma terapia online. Apesar da minha formação na área de humanas, ter conhecimento em coaching e PNL (programação neuro-lingüística) e amante da física quântica, mas não sou psicóloga. Não sou profissional, mas sou lésbica e já vivi muitos problemas e dramas para chegar ao ponto que cheguei, embora ainda tenha muito a crescer e apreender. Adoro “gente”, sou adepta ao estudo da alma, comportamento e apaixonada pela magia que envolve o relacionamento humano.

Dessa forma, a proposta do site é disponibilizar um canal a mulher que necessite por “n” motivos ser “ouvida” e ter um feedback despido de pré-conceitos e concebido por alguém que vive o mesmo mundo. Essa “realimentação” visa mudança de olhar, visa aceitação, visa valorização do eu enquanto pessoa.

Creio que se a mulher lésbica estiver de bem com ela mesma, todo o resto fica mais fácil. Acredito que o ato de amar só é possível quando primeiramente nos amamos e esse auto-amor só ocorre se estivermos ajustados internamente. O ser humano desconectado do seu EU não consegue amar e tão pouco sentir-se amado. Na maioria das vezes a desconexão ocorre porque (às vezes inconscientemente) não aceitamos que somos diferentes. Mas e daí e como? Se o diferente é que nos faz felizes e é o que nos dá prazer? Essa é uma briga paradoxal que se trava no íntimo e que se não for resolvida se propaga no amor, no trabalho, na vida. Isso enlouquece uma pessoa, leva a angústia, depressão, fuga etc. O outro objetivo é que o site traga maior proximidade do mundo lésbico das várias partes do país, para que no futuro possa conceber produtos e serviços em concordância com a demanda e expectativas das mulheres quanto a serviços e/ou produtos via Web.

Dykerama.com – Quais serão os serviços oferecidos? Serão todos gratuitos?
Inicialmente o site só disponibilizará o serviço de ajuda, orientação como já descritos anteriormente. Sim. Será totalmente gratuito.

Dykerama.com – A quem ele se destina?
Exclusivamente as mulheres que amam mulheres independentemente de como elas se definem (lésbica, bi, sáfica, femme, lady, dike, andrógina, buch, sapata etc.).

Dykerama.com – Pode me falar um pouco de como pretende ser a estrutura do site?
O site é simples e estático. A interatividade ocorrerá via e-mail podendo incorporar outros recursos tecnológicos no futuro caso a proposta do site seja aprovada e corresponda às expectativas das mulheres lésbicas. A estrutura despretensiosa foi proposital para que seja moldado e receba outras seções e recursos de acordo com o anseio, desejo e perfil das mulheres que o freqüentarem.

Dykerama.com – Quais são as principais preocupações da mulher lésbica e bissexual em relação a assuntos como sexo, saúde, trabalho etc? Como o site pretende ajudá-las?
Como mulher lésbica, já passei por vários problemas em relação a cada uma dessas questões e sei o quanto foi complicado.

A estabilidade financeira e profissional é sem dúvida a maior das preocupações. Porque sem dinheiro não há como viver, não há como estar bem. Mas será que só o emprego é o caminho? Penso que não. Há muitas formas de sobreviver de maneira digna, basta ampliarmos nossa visão de mundo para constatar quantas oportunidades há para aquelas que não cruzam os braços a espera de milagre. Uma mulher antes de tudo deve ser consciente de que é uma guerreira e pode sim conquistar um lugar ao sol. Basta estar bem com ela mesma.

Saúde é um assunto delicado. Quantas de nós abominamos ir ao ginecologista por medo? Quantas não ocultam sua sexualidade? Há profissionais despreparados? Sim claro. Mas a quem culpar? A nós mesmas pela invisibilidade? Os profissionais que não levantam bandeiras? Mais uma vez estamos girando em torno da questão da auto-aceitação, de ter orgulho de ser o que é.

Quando nos aceitamos não há porque temer a “exposição” a um (a) profissional que está ali pra nos prestar um serviço que pagamos direta (particular) ou indiretamente (pelos impostos) quando serviço público. Caso o profissional não seja o que esperamos, basta trocá-lo.

Sexo… ah isso não deveria ser um problema não é mesmo? Mas infelizmente a questão sexual é um problemão na vida de muitas mulheres. Um problema porque muitas não se cuidam. Desconhecem ou ignoram os riscos envolvidos na relação sexual, assim como os métodos de minimizar/eliminar esses riscos.

Outro problema é relacionado ao prazer mesmo. E quando uma relação não retorna prazer? Quando não se está bem, quando não há diálogo na relação, quando vemos o ato de amar uma mulher como pecado (quando olhamos com os olhos dos outros), quando não aceitamos integralmente o fato de ser lésbica.

Por mais que pareça mesmice, todas as situações na vida são resolvidas mais facilmente quando a cabeça, a alma e o coração estão em harmonia. E este é o propósito do site. Além disso, a página de links privilegia sites e blogs que contemplam conteúdo informativo diversos, como o Dykerama, e outros que proporcionam diversão e prazer. Porque a vida não é só trabalho!

Ah, sim, só mais uma coisa: confesso que nunca me preocupei com sexo seguro por dois motivos: um, porque cuidamos da nossa saúde e outro por vivo uma relação de vinte anos em que a fidelidade impera (sabemos que somos uma da outra e além de tudo vivemos 24 horas juntas). Contudo, recentemente me deparei com essa questão (abordada inclusive no Dykerama) e me surpreendi com os riscos envolvidos. Que bom estar casada…

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