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Salete Campari afirma que será candidata a vereadora; confira a entrevista completa

Candidata a deputada estadual nas últimas eleições, em 2006, a drag-queen Salete Campari, a famosa hostess da boate Danger, em São Paulo, não conquistou o cargo, mas também não desistiu da política (“Política não se faz de primeira, vou tentar novamente”).

À frente do movimento gay dentro de seu partido, o PDT, Salete diz ter sofrido com o preconceito durante o pleito, “tanto de heterossexuais quanto de homossexuais”, e defende que os gays olhem para si mesmos e acabem com seus próprios preconceitos.

Afirmando que sairá candidata a vereadora nas próximas eleições, Salete nos concedeu a entrevista abaixo:

A Capa – Conte-nos um pouco sobre a nova “ala” gay do PDT.

Salete – O Movimento GLBTTT do PDT surgiu incentivado pela ideologia de algumas pessoas que apostaram em minha candidatura para deputada estadual. Após a eleição, sentimos a necessidade de continuar um trabalho de organização e conscientização em prol da cidadania gay.
Durante a campanha eleitoral, percorrendo o Estado de São Paulo, pude vivenciar e sentir na pele como as pessoas encaram a inserção de gays de forma plena na sociedade. Além disso, há números assustadores, em pesquisas realizadas por Departamentos de Segurança Pública, que revelam um crescimento nos crimes de ódio contra homossexuais em todo o Brasil.
Diante dessa realidade, não pude deixar que minhas idéias ficassem limitadas ao momento eleitoral, era necessário arregaçar as mangas e começar a organizar nossa comunidade na sociedade. A partir daí, contatei alguns amigos que também têm essa vontade de fazer acontecer, e juntos levamos a proposta da criação de um Movimento GLBTTT dentro do partido político que havia aberto as portas para a minha candidatura.
O Movimento GLBTTT do PDT representa primordialmente uma conquista na ocupação de espaços de visibilidade em que a comunidade gay precisa estar. Além disso, será uma ponte entre as organizações da sociedade civil e os poderes Legislativo e Executivo, através dos parlamentares eleitos pelo PDT nas últimas eleições.
Queremos agregar pessoas que estejam dispostas a contribuir para uma sociedade na qual se exerça uma cidadania que valorize a diversidade como um todo, e juntos reuniremos uma voz mais forte para reivindicarmos dos governos o respeito que nos é de direito.
Quero aproveitar a oportunidade para convidar os leitores do Site A Capa, para se juntar a nós na luta por uma sociedade mais igualitária. Quem quiser conhecer melhor o Movimento GLBTTT do PDT pode entrar em contato comigo através do e-mail saletecampari@hotmail.com

A Capa – A saída do Vereador Carlos Apolinário do PDT contribuiu para a criação de um núcleo homossexual em seu partido?

Salete – Foi uma iniciativa que surgiu de mim, e não do partido. Acredito que mesmo que o Carlos Apolinário estivesse ainda no PDT, teríamos criado o movimento, pois política não pode ser feita com particularidades, e sim sempre pensando no coletivo.
Quando fui convidada a ser candidata a deputada, me surpreendi com o convite e ao mesmo tempo pensei no preconceito que enfrentaria. Porém, minha maior surpresa foi quando conheci a executiva do partido, quando recebi o apoio de muitas lideranças, como a do Paulinho da Força, do Ministro Carlos Lupi e até mesmo do vereador Carlos Apolinário.
Ser candidata a deputada na chapa do Carlos Apolinário foi minha primeira vitória, pois mesmo não compactuando com a proposta da minha candidatura ele teve que me respeitar e me apoiar, afinal de contas, eu fazia parte da chapa dele.

A Capa – Nas eleições de 2006, nas quais você foi candidata a deputada estadual por São Paulo, você obteve pouco mais de 3 mil votos. Gays não votam em gays?

Salete – Não acredito que gay não vote em gay. Os homossexuais estiveram durante muito tempo desamparados política e judicialmente na sociedade. E com o cenário político brasileiro em que nos deparamos, é comum que haja desconfiança nos políticos.
Minha candidatura foi vítima de muito preconceito, tanto de heterossexuais quanto de homossexuais. As pessoas não conseguiam associar um político sério à imagem de uma drag-queen, de uma transformista. Fui candidato como Salete Campari, pois acredito que a imagem de um gay montado é a mais genuína imagem do preconceito. Se por acaso tivéssemos vencido as eleições, a sociedade como um todo avançaria, pois estaria massacrando todos os seus preconceitos ao eleger deputado um homossexual, nordestino (com sotaque) e drag.
Nós homossexuais precisamos começar a colocar nossos discursos em prática; quando falamos que somos vítimas de preconceito, esquecemos de olhar para o preconceito que existe em nós. Preconceito não é apenas contra negros, mulheres ou homossexuais. Vivemos numa sociedade extremamente preconceituosa, em que o gênero, a condição sexual, a nacionalidade, a condição social, a forma como andamos, como falamos, como nos vestimos são constantes motivos de discriminação.
O resultado das eleições, ao contrário do que muitas pessoas imaginaram, não me desanimou. Acredito que nesta eleição obtive um grande aprendizado. Além disso, hoje me sinto na obrigação de retribuir a confiança de  mais de 3 mil pessoas que abriram mão do preconceito e acreditaram numa nova opção e acreditaram na candidatura da Salete.

A Capa – Em sua opinião, o que falta para que os homossexuais tenham seus direitos plenamente reconhecidos?

Salete – Nos últimos anos, o preconceito vem diminuindo em grande escala, porém, ainda há uma resistência das pessoas em relação a visibilidade que os gays ocupam hoje na sociedade; tal resistência sugere uma certa imposição para que a comunidade GLBTTT ocupe espaços isolados, em guetos e sem visibilidade. O problema se encontra aí!
Enquanto vivermos escondidos, submissos e desorganizados não veremos nossos direitos em execução. Precisamos nos organizar, ocupar espaços na política, no mercado de trabalho, na mídia.
No momento em que estivermos organizados, será notório para todos que somos cidadãos e devemos ser respeitados de acordo com o que rege a Constituição.

A Capa – Você é a favor de se criar um partido gay? Por quê?

Salete – Não sou a favor da criação de um partido GLBTTT. Acredito que devemos sempre lutar pela inserção na sociedade e não pela separação.

A Capa – Saíra candidata nas próximas eleições?

Sim. Política não se faz de primeira, vou tentar novamente. Serei candidata a vereadora em São Paulo.

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