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Salete Campari fala sobre as suas propostas para a Câmara Municipal de SP

É muito difícil imaginar alguém que viva o mundo LGBT e não conheça a figura de Salete Campari, a eterna hostess da casa noturna Danger. Porém, o que muitos não devem conhecer com profundidade é o lado político e militante de Salete. Esse ano, este ícone da noite paulistana concorre a uma vaga na Câmara Municipal dos Vereadores de São Paulo pelo PDT. Essa é a segunda vez que ela concorre a um cargo no parlamento, há dois anos pleiteou uma vaga na Assembléia Legislativa de São Paulo. A seguir, Salete fala sobre as suas propostas, como surgiu a questão política em sua vida e um pouco de sua biografia. Confira.

Primeiro gostaria que você se apresentasse.
Sou Salete Campari, tenho 22 anos de noite e durante o dia sou Francisco Rodrigues.

Como a política entrou em sua vida?
Entrou porque eu sinto que, nesses 22 anos de noite, tudo só é feito se tiver política. Eu vejo em São Paulo que, por mais que a gente seja o Estado mais politizado, o Estado que tem a maior parada do mundo, a maior comunidade gay do Brasil, aqui é o lugar que você pode se libertar mais e aqui não tem política.

Você recebeu convite para se candidatar ou foi em busca de um partido?
Primeiro eu fui atrás. A grande realidade é assim: eu sempre estive militando na política, mas nunca tive o interesse de sair como candidata, pois é muito caro fazer uma campanha e muito trabalhoso. A cada minuto que saio na rua, a cada hora que saio para trabalhar, sinto a necessidade de um representante. Aí eu conheci o Dr. Valadares, que era candidato a deputado federal por Guarulhos e ele disse "pô Salete, eu sempre vejo você militando, sempre vejo você em tudo que é movimento gay…", aí surgiu a idéia. E nós não temos um representante gay de verdade, tem aqueles que falam, "eu apoio", mas eu digo o gay. Nós tivemos alguns como candidatos, por exemplo, o Beto de Jesus, a Zuba, mas nenhum se elegeu.

E por que você acha que eles não se elegeram?
Porque a comunidade gay é preconceituosa. Ela não apóia os candidatos. E eu gostaria de saber o por quê?. Acho que eles não acreditam que um candidato [homossexual] possa ser um bom político. Acho que está na hora da comunidade gay ter os seus candidatos.

E o Clodovil, muitos gays votaram nele.
O pessoal confunde fama com militante. Mas, também não é só militar, tem que trabalhar em cima de uma comunidade.

Você esteve na Conferência Estadual e Nacional. Inclusive, foi eleita para uma chapa que representaria o Estado de São Paulo em Brasília. Como foi essa experiência para você?  
Foi maravilhoso, encontramos mais de mil pessoas gays, todas militantes de seus respectivos estados. Eu estive pela chapa de SP, que tinha as cabeças pensantes como Julian Rodrigues, Beto de Jesus, Xandão, pessoas que fazem pela comunidade. Por isso, digo que é importante a comunidade gay ter os seus representantes. A partir do momento em que estivermos na política a sociedade começa a ver como um todo. Quando tivermos quatro deputados, seis vereadores, a gente já pode exigir os nossos direitos em outro patamar. Nós já exigimos todos os dias, mas com o poder político será diferente.

Você eleita, já possui algum projeto? 
Antes de falar sobre projeto, quero falar que sou a candidata que irá defender a comunidade gay. Um candidato a vereador é para legislar por toda a cidade, não só para a comunidade gay, mas lógico que eu estarei a frente de todos os projetos gays. O que eu gostaria de fazer é: como a gente tem a CADS, eu gostaria que todas as subprefeituras de São Paulo tivessem uma coordenadoria. Isso seria uma forma de atingir as periferias.

Acredita que as políticas municipais LGBT’s estão concentradas no centro? 
Sim. Para a comunidade gay sim. Acredito que se a gente tiver dentro de cada subprefeitura um órgão que receba os problemas de sua região, no caso, um advogado, uma pessoa que esteja pronta para dar informação. Acontece muita coisa em Itaquera, em São Miguel Paulista, ou seja, regiões distantes que nós não estamos vendo.

Essa é a sua segunda campanha, a primeira foi para deputada estadual. O que mudou de lá pra cá na Salete Campari?
A Salete hoje tem uma coisa que ela não tinha na outra campanha, que é uma equipe. Eu não ficava na rua o tempo inteiro conversando com as pessoas e falando a respeito dos meus projetos…

Como tem sido esse contato?
Na rua há héteros, gays, famílias… Isso tem sido maravilhoso, porque a Salete vai às ruas como Salete, saio da comunidade gay e vou para as ruas. Todo mundo olha assim: "Gente é uma gay vestida de mulher. E, quando as pessoas começam a conversar, digo que sou candidata e falo dos meus projetos para toda uma comunidade. As pessoas têm me recebido muito bem.

Voltando para o assunto das conferências… o que você tirou delas para o seu projeto político? 
Consegui observar que as cabeças pensantes estão mais unidas e quase todas em torno de um mesmo ideal: ter o PLC 122, que criminaliza a homofobia, aprovado. Nós temos algumas leis estaduais e municipais  que combatem um pouco a homofobia, mas o ideal é que o projeto de Brasília seja aprovado, assim o país inteiro passará a punir tais crimes. Pois, os negros tem a sua lei, as mulheres tem a lei Maria da Penha e nós precisamos da nossa.

Esse ano a sua campanha está coligada com o PT/Marta Suplicy em São Paulo. Qual é a diferença?
Sinto que as pessoas aceitam mais. A Marta é uma candidata da comunidade gay, ela foi a primeira a brigar de verdade pela comunidade. Na outra eleição, vim com um candidato que era homofóbico, o Carlos Apolinário. Quando eu dava o meu santinho para os gays, eles diziam: "eu não vou votar em você, você está com um homofóbico".

Em algum momento você chegou a pensar em abandonar a personagem Salete Campari para sair candidata?
Não, de jeito nenhum.

E o que você acha de quem faz isso?
Acho que não tem amor a sua profissão e a sua personagem. Tudo o que eu tenho foi a Salete que me deu. Sou a primeira candidata drag a sair montada. Quando eu for falar no plenário irei de tailleur toda bonita, também não dá pra ir toda carnavalesca né?

Caso eleita, você teme não ser levada a sério por outros políticos?
Nunca, pois há 22 anos sou levada a sério. Eu vou a Brasília, em todos os lugares eu vou de Salete Campari. E isso é uma forma de lutar contra o preconceito.

Como você avalia a CADS?
Entendo que é primeira gestão, mas pode ser melhor.

No que pode ser melhor?
Em tudo. A prefeitura tem que dar mais apoio, apenas uma CADS para toda a São Paulo é sobrecarregar. O trabalho da equipe é bom, mas precisa ser fortalecido. A CADS é um passo maravilhoso, antes nem isso a gente tinha.

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