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Salgadinho e normatividade

Aquela empresa de nome estranho que fez a propaganda do Doritos que deu bafo, AlmapBBDO, lembram? Então… eles são responsáveis também por outras peças publicitárias do mesmo salgadinho. Vejam vocês mesmo.

Ambas funcionam ao fazer caricatura de comportamentos bem comuns, mas que dão vergonha alheia. Acho a segunda melhor que a primeira. É realmente engraçada, e a atriz que interpreta a "histérica" é realmente muito boa. A moral da história é que dá para fazer humor sem cair na linha tênue de brincar com estereótipos que podem resvalar para a questão da sexualidade.

Já outro salgadinho, por sinal do mesmo fabricante, investe em duas novas linhas de sabores. Um para meninos, outro para meninas. Sério. Damos um passo para frente e dez para trás e continuamos a dividir o mundo em rosa e azul.

Por achar que a questão que perpassa os preconceitos e discriminações está muito mais ligada a uma herança cultural, considero bastante perigoso o reforço deste tipo de comportamento heterossexista. Perigoso porque a crise que isso leva em pessoas heterossexuais assustada com essa visão mais diversificada de convivência entre possibilidades acaba levando naqueles pentelhos teimando em fazer "parada heterossexual". Lembram dessa brincadeirinha? Então, logo menos começam a pensar nela de novo.

Isso acaba reforçando valores e ideologias já bastante consagrados, sem falar em enraizamento de preconceitos e de visão de mundo e etc etc etc… E como estamos cansados de saber tudo isso ajuda muito na manutenção de uma sociedade homofóbica, excludente e pouco tolearante a diversidade.

Tinha outro salgadinho que teve uma versão queijo lançada há um tempo. Comentei dele aqui. Falava que a liga dos ingredientes era dada por uma mulher. Se for heterosexual tudo bem uma relação poligamica, mas se for gay é promiscuidade. Ah, faisfavor. Agora presunto vira uma bonita mocinha que gosta de jogar baralho com a vovó. Por que é que não dá pro presunto ser representado por um rapaz, hein?

Ah, tem um comercial, de um carro, que eu gostei pela inversão de valores apresentada. O homem é colocado como um romântico afim de sexo e relacionamento enquanto a mulher pensa na posição de poder em um futuro próximo. A forma como o off termina a peça é boa, porque se quem dirige o automóvel fez por merecer, quem tem um motorista particular então é fodão.

Outro comercial que não está sendo mais veiculado é de um outro carro, que tem o lindo ator Gustavo Haddad sem muita atuação. Esse eu gostei pelo caráter mais "igualitário". O locutor fala sobre as qualidades do carro enquanto dois atores – um homem e uma mulher -representando os concorrentes, vão tirando a roupa. Quem disse que só homem heterossexual compra carro e que mulher pelada garante aumento de venda?

Engraçada é a propaganda da Folha. É meu jornal preferido. Tem uma equipe incrível, mas derrapa em querer usar a palavra homossexualismo. Aí falam na propaganda que assinar ao jornal é assinar embaixo do respeito às diferenças. Não sei o que eles querem dizer com isso, mas eu, como leitor, me sinto desrespeitado quando vejo homossexualismo em uma matéria. É muita cara de pau. Nunca vi eles falando de heterossexualismo.

  

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