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Sargento Fabiane

A história de Fabiane Amaral, nascida Fabiano de Barros Portela há 26 anos, é digna de aplauso. Expulsa do Exército após ter se submetido a uma cirurgia de mudança de sexo, a terceiro sargento é, talvez, um exemplo corajoso e sui generis dentro das Forças Armadas brasileiras.

Fabiane trabalhava no departamento de enfermagem do 17º Batalhão Logístico de Juiz de Fora (MG) e, no último mês de março, fez a cirurgia de resignação sexual em Jundiaí (SP). Em maio, após processo na Justiça Federal, Fabiane recebeu por meio de uma liminar o direito de voltar a receber salário e assistência médica. Ela também processa a União, pedindo uma indenização no valor de R$ 300 mil.

Em entrevista ao Dykerama.com, Fabiane, que já foi casada durante seis anos e não teve filhos, relembra um pouco de sua história, fala sobre vida pessoal, opina sobre a prisão dos sargentos Laci e Fernando, que assumiram sua relação em entrevista à revista “Época”, e diz que a homossexualidade não é assim tão mal vista dentro do Exército, como se supõe. Confira:

Dykerama.com – Me conte um pouco sobre sua história. Quando você entrou para o Exército?
Vinda de uma família simples, eu percebia que eu era diferente desde os quatro anos. Não sabia definir tal coisa e tentei viver a vida de acordo com o corpo que eu tinha, tentando ser um homem comum. E, aos 18 anos, em 1998, passei no concurso para sargentos do Exército, vindo a ser de fato em 1999.

Dykerama.com – Qual é a sua situação no momento? Você continua licenciada das Forças Armadas?
Por ordem judicial eu retornei a ser sargento do Exército e recebo meu salário normalmente, apenas não exercendo mais nenhuma atividade, já que estou processando a União para ser aposentada.

Dykerama.com – Como seus companheiros militares e superiores reagiram quando você decidiu mudar de sexo?
Os demais militares nem ficaram sabendo de tal fato.

Dykerama.com – Há muitos transexuais no Exército? Como eles (as) são vistos (as)? Pode falar a respeito?
Não há outros transexuais no Exército que eu conheça, visto a raridade que é o transexualismo. Por isso, talvez eu seja a única.

Dykerama.com – Você chegou a sofrer algum tipo de violência por companheiros e superiores no Exército por ser transexual?
Não, justamente por eu buscar seguir a moral, não praticando libidinagem de nenhuma forma dentro ou fora dos quartéis. O que houve de mais indigno foi a expulsão compulsória e desmedida.

Dykerama.com – O que você achou da prisão dos sargentos Laci e Fernando? Acredita que a prisão deles tenha sido motivada também por preconceito?
Laci e Fernando foram sim alvos de preconceito, mas a homossexualidade não é tão mal vista dentro do Exército como as pessoas supõem. Os homossexuais que eu conheço pessoalmente não fazem nenhum esforço de se esconderem e os comandantes, nenhuma intenção de combater. O erro dos dois sargentos pode estar relacionado ao fato de os dois buscarem uma carreira artística, e isso foi o incômodo gerador da perseguição.

Dykerama.com – Recentemente, uma pesquisa nos EUA mostrou que as lésbicas são mais rejeitadas que os gays nas Forças Armadas. Você saberia me dizer se o mesmo acontece aqui no Brasil?
Não sei, pelo fato de eu não conhecer pessoalmente lésbicas.

Dykerama.com – Qual é a sua orientação sexual? Como é ser militar e transexual no país?
Sou bissexual. Ser militar e transexual no Brasil é uma anormalidade, pólos distantes como o Alasca fica da Antártida. Eu tinha certeza que eu enfrentaria um vespeiro e não aconteceu nada já não esperado. Apenas tive sorte do Exército ter cometido o crime de ser tão preconceituoso e ter expulsado uma ex-transexual que possui o direito de ser aposentada por ter outros transtornos mentais.

Dykerama.com – Fora do Exército, quem é Fabiane? Como sua família e seus amigos encaram sua condição?
Infelizmente, por todo o processo traumático, eu carrego a seqüela de estar ainda em estado de depressão e distúrbio emocional, o que me incapacita de possuir um dia inteiro em bom estado. Quanto à família, amigos, próximos, cães, gatos, todos, houve um abandono total e completo. Com o fim do tratamento é que a família me aceitou novamente, novos amigos foram feitos e animais de estimação trocados (risos).

Dykerama.com – Você namora?
Não.

Dykerama.com – O que falta para os que os homossexuais sejam plenamente aceitos em todas as esferas da sociedade?
Acordo. O preconceito não acontece apenas em quem age com preconceito, mas também naquele que sofre preconceito. Gays, lésbicas e outros precisam entender que viver em sociedade é buscar se comportar dentro de uma moral e não num lugar de libertinagem. Já os preconceituosos poderiam entender que o mundo não é branco e preto, mas colorido e diverso.

Dykerama.com – Pretende continuar no Exército? Quais são seus planos no futuro?
Não pretendo porque o próprio me impede disso, além de eu ter problemas psiquiátricos incapacitantes. Os meus planos, no momento, são buscar tratamento para meus distúrbios e seguir o sempre almejado e no que sou bacharel: a teologia e o trabalho religioso.

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