Em carta encaminhada ao Ministro dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, o sargento Fernando Alcântara de Figueiredo pede que os fatos envolvendo a prisão de seu companheiro sejam apurados e logo no início diz, "fomos vítimas de uma série de atrocidades cometidas por autoridades ligadas ao Exército Brasileiro". Na sequência ele explica ao ministro como tudo ocorreu.
Por se tratar de um longo documento destacamos alguns trechos. Dividos em tópicos, ele começa pela saúde de seu companheiro Laci Marinho de Araújo. Fernando explica ao ministro que a partir de 2003 Laci "fora acometido de síndromes vertiginosas acompanhadas de âncias de vômitos, cefaléias intensas, quadro fóbico, dentre outros sintomas". Revela que o quadro de saúde de Laci piorou em 2006. Ao fazer exames constatou-se que ele sofria de esclerose múltipla. Segundo ele todos os exames foram realizados no hospital das Forças Armadas.
Após ter ciência de seu quadro, Laci "passou a sofrer com a idéia de possibilidade de ter sérias restrições cotidianas, convivendo diuturnamente com a possibilidade de permanecer restrito a uma cadeira de rodas, assim, em outubro de 2006, iniciou-se um quadro fóbico: ‘pânico’ associado a outros transtornos emocionais graves". Mesmo com tais resultados, deram-no como apto para voltar a seus exercícios profissionais.
Fernando explica também como se deu a vida artística de Laci e o relacionamento de ambos, "Há muito o militar era mal visto na caserna posto que se apresentava, nas horas de folga e quando dos períodos de remissão de sua enfermidade, como côver da cantora Cássia Eller". Conta que depois passou a ser chamado de "Sargento Cássia Eller". Sobre a vida íntima dos dois ele conta que, apesar de estarem juntos desde 1997, sempre se mantinham na discrição, e mesmo assim assim foram "vítimas de toda sorte de sarcasmos por parte de colegas de farda e de superiores que já difundiam a relação amorosa dos dois".
A perseguição
Na carta, divida em duas partes, após falar sobre a relação deles e sobre a saúde de Laci, Fernando dedica boa parte do comunicado a perseguição que começariam a sofrer, como ele bem coloca no texto, "Tudo ficaria em boatos, especulações e comentários sarcásticos não fosse à chegada ao Hospital Geral de Brasília, do Tenente IVANILDO CLEMENTINO DOS SANTOS, amigo íntimo do General ADHEMAR DA COSTA MACHADO FILHO".
Afirma que o tenente Ivanildo passa a adotar um comportamente extremamente homofóbico com eles e diz, "promover uma série de atos administrativos para forçar o Sargento LACI a ter que cumprir e comparecer em atividades das quais não possuía condições físicas, em conseqüência às supostas faltas levou adiante seu plano macabro, concluindo em conluio com outros militares demandas ‘sindicâncias’ e ‘inquéritos’ eivados de vícios que culminaram em sanções ‘punições’ mesmo no período em que o militar encontrava-se restrito ao leito". Fernando também conta que nesse período descobriu "a existência de fraudes no Sistema de Saúde do Exército, FUSEx, chegando inclusive a sofrer ameaças externas de uma empresa do ramo de matérias médicos para cirurgias de grandes complexidades".
O processo de perseguição, segundo a carta, iria se intensificar entre abril e maio de 2007. O sargento de Figueiredo entrou com perocesso no Ministério Público Federal contra o General Adhemar. Entre as provas dos destratos promovidos pelo tal general, havia uma mídia onde Adhemar chamava o casal de sargentos de "viados", "canalhas", "um é marido do outro", e que iria "dar um jeito de separar ambos". O processo contra o General Adhemar foi arquivado.
Sobre uma possível viagem que teria feito com Laci, Fernando alega que a promotora da Escola Superior de Guerra, Claudia Rocha Lamas, "se apropriou das representações promovidas por este servidor, mandando citar pessoas e levando a diante uma demanda com clara intenção em blindar os Generais envolvidos", e violou dados das empresas aéreas Gol e Tam, para assim desqualificá-los e desacreditá-los "num intuito de demonstrar falsamente que uma viagem realizada por este e seu companheiro, num período remissivo da doença, ensejaria em forjada prova de fralde".
Sobre a prisão no programa no SuperPop Fernando diz, "A prisão em São Paulo, SP, nos estúdios da rede tv, se deram, como os outros atos das autoridades do Exército, de forma extremamente arbitrária, posto que os militares CORONEL MOURA e SANTIAGO, adentraram a rede tv sem instrumento legal para tal mandado de prisão".
Para fechar, o sargento Fernando clama, "ante ao exposto venho suplicar por justiça por intermédio deste órgão respeitável e, que seja exigido não só a extinção do processo de deserção concomitante com o devido alvará de soltura como também a punição exemplar a estes TORTURADORES SAUDOSISTAS DA DITADURA ARBRITRÁRIA DA DÉCADA DE 70".