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“Saúde pública não pode mais ignorar travestis”, diz Drauzio Varella em artigo na Folha

Apesar de cometer alguns equívocos, como por exemplo chamar travestis de homens, tratá-las no masculino e também colar nelas a imagem de que são pessoas sempre a margem da sociedade, o médico Drauzio Varela, famoso por suas participações em programas dominical como o "Fantástico", escreveu ótimo artigo ao jornal Folha de São Paulo na edição de sábado (11/04). O texto abre dizendo que "de todas as discriminações sociais, a mais pérfida é a dirigida contra os travestis".

Para o médico, "se fosse possível juntar os preconceitos manifestados contra negros, índios, pobres, homossexuais e outras minorias da sociedade, a somatória não resvalaria os pés do desprezo virulento que a sociedade manifesta pelos (sic) travestis".  Drauzio segue e questiona: "Quem são esses jovens travestidos de mulheres fatais, que expõem o corpo com ousadia nas esquinas da noite e na beira das estradas?".

O médico aceita que há uma diversidade que os distingue, porém acredita que "todos tem em comum a origem: são filhos das camadas mais pobres da população". Em seguida, Varella reflete a respeito da homossexualidade e afirma ser ela "tão velha quanto a humanidade", mas garante que as travestis "só aparecem nas famílias humildes". 

Ao afirmar que as travestis são uma minoria da minoria e que apenas surgem em famílias humildes, o médico pinta um possível retrato da infância e da juventude dessas personagens. Para ele, essas travestis "foram meninos com jeito afeminados que, se tivessem nascido entre gente culta e com posses, poderiam ser profissionais liberais, artistas plásticos empresários, costureiros, atores de sucesso".

Neste parágrafo o autor do artigo volta a colocar a questão da pobreza, afirmando que nesse meio a ignorância reina. Portanto, acredita que "por terem nascido no meio da pobreza e da ignorância, experimentaram toda a sorte de abusos: foram xingados nas ruas, ridicularizados  na escola, violentados pelos mais velhos, ouviram cochichos e zombarias por onde passaram e apanharam de pais e irmãos envergonhados".

Sendo assim, Drauzio Varella faz a sua matemática social e chega no resultado de que, por terem nascido "em ambiente tão hostil, poucos conseguem concluir os estudos elementares", depois questiona: "quem da emprego para homossexual pobre?". Para ele, o máximo que os homossexuais (ou travestis?) conseguem é "lugar de cozinheiro em botequim, varredor de salão na periferia ou atividade semelhante sem carteira assinada".

Após pintar este cenário "animador", Drauzio acredita que "uma vez na rua, todo travesti é considerado marginal perigoso, sem nenhuma chance de provar o contrário". "Poder ser preso a qualquer momento, agredido ou assassinato por algum psicopata, que nenhum transeunte moverá um dedo em sua defesa", constata o médico.

Após traçar o cenário urbano das travestis, Drauzio faz recorte para a questão da saúde, onde afirma não existir nenhum "serviço de saúde com endocrinologista para orientá-lo a respeito dos hormônios femininos que tomam por conta própria". A respeito do silicone, Drauzio aponta que, pelo fato não terem dinheiro, as travestis fazem uso do mesmo sem acompanhamento médico e, o que é pior, usam "silicone industrial comprado em casa de mateiriais de construção, injetado por pessoas despreparadas, sem qualquer cuidado  de higiene".

Por fim, o médico conclama que os "hospitais públicos deveriam ser obrigados a criar pelo menos um posto de atendimento especializado nos problemas médicos mais comuns entre os (sic) travestis". "A Saúde pública não pode continuar dando as costas para essa minoria de homens (sic), só porque eles decidiram adotar a identidade feminina, direito de qualquer um. Quem somos nós para condená-los?", finaliza o médico.

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