Na falta da praia, nada mais paulistano do que ir ao shopping, sobretudo num domingo à tarde. E o que não falta são opções. Centenas desses impérios do consumo se espalham pela cidade. Somados todos os shoppings, aposto que há quilômetros de corredores de lojas de roupas, calçados e acessórios. As praças de alimentação, juntas, dão quase um bairro inteiro de guloseimas, as salas de teatro e cinema são capazes de proporcionar entretenimento para o ano inteiro. Ou seja, meu bem, é só pegar o seu bofe e ir linda dar um close…
Quer dizer, não é bem assim…
É indiscutível que qualquer shopping queira seu aqué, meu amor. Mas eles não querem você, se você for um gay assumido, bem resolvido e pronto para saltitar dentro desta orgia de ofertas.
Dia desses estava conversando com um amigo e falávamos sobre os encontros das gays mais jovenzinhas que se reúnem nos shoppings. O mais conhecido destes encontros é o que acontece no Shopping Tatuapé. Eu mesma cheguei a participar desses encontros anos atrás, quando acontecia na praça de alimentação (hoje a coisa acontece na rua, atrás do shopping). E garanto, era uóóóóóóóó… Não o encontro em si, mas a postura da administração do local que fazia com que seus seguranças ocupassem a praça de alimentação como se os meninos e meninas fossem marginais. Lembro de um episódio que as drags Dolly Dolly foram impedidas de entrar por estarem montadas. Depois de tanto baphô, atraque e confusão entre as bibas e os seguranças, o shopping acabou vencendo e o pessoal acabou parando na rua. O que tem sido um problema, pois, segundo ouvi dizer, existem casos de furtos e confusão com pessoas mal intencionadas que vão até lá, se aproveitando da falta de proteção que, bem ou mal, o shopping fornecia.
Outro baphô horroroso aconteceu num dos shoppings mais colorido da cidade, o Gay Boneca – quer dizer, o Frei Caneca. Por conta de sua localização babadeira, o local é frequentado por Barbies, Suzies, e Lu Patinadoras. Mas as Barbies – com camisetinhas apertadíssimas, em corte V – imperam… Enfim… O fato é que, em 2003, um casal gay foi vítima do preconceito de um segurança que pediu a eles parassem de se beijar dentro do local etc e tal… O babado foi tão escândalo que, na semana seguinte, duas mil pessoas se reuniram num beijaço dentro do shopping para protestar contra a postura homofóbica do segurança.
Eu e um ex-namorado também fomos vítimas desta homofobia descabida. Em 2001, na praça de alimentação do Shopping Penha, enquanto nos beijávamos carinhosamente, um segurança nos abordou e exigiu que parássemos, pois ali era lugar de família. Nem preciso dizer que fiquei louca e rodei a baiana e, ainda bem, uma moça que estava no local disse que, seria nossa testemunha, caso viéssemos a processar o shopping. Uma outra vez, no Shopping Anália Franco estava ficando com um menino – hoje meu amigo – e passamos pela mesma situação constrangedora. Ele, apesar de ser jovem, já tinha um discurso militante maravilhoso e tombou com o segurança sem nem precisar levantar a voz…
Ainda bem que muita coisa tem mudado. Muitos locais já se retrataram e requalificaram seus funcionários para saber lidar com a diversidade sexual. Mas ainda é pouco e, vez ou outra, ainda ouvimos algum baphô. E um dos problemas é que nem todo mundo denuncia esses atos de violência.
Enfim… Se os shoppings ainda nos tratam como consumidores em potencial, afinal, reina o mito de que gay gasta muito dinheiro, então, que no mínimo, sejamos muito bem tratados. E pense bem onde você deixará seu "pink money"… Lembrem-se: nos dias de hoje quem tem o aqué, meu amor, tem o poder.
Sugestão para bibas do Tatuapé. Conheço espaços bem mais interessantes que a rua de trás do shopping e que muitos gays já usufruem tranquilamente. O Centro Cultural São Paulo é um deles e também está do ladinho de uma estação do metrô.
Tá dada a dica… Beijo, beijo, beijo… Fui…
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