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“Se me atacar, vou atacar” – Gay assumido, atleta olímpico Ian Matos não teme ofensas

Com frase de Inês Brasil, atleta se mostra preparado para possíveis ataques homofóbicos.

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É assim que o paraense Ian Matos, de 27 anos, chega para a disputa dos saltos ornamentais na Rio 2016. Em 2014, o atleta se mudou de Brasília para o Rio de Janeiro e tomou a decisão que se não mudou sua vida, tirou um peso de suas costas. Assumiu sua orientação sexual e mostrou engajamento com o tema.

De lá para cá, sempre conversou abertamente sobre o assunto e agora, em sua primeira Olimpíada, espera que o país que ele considera preconceituoso e sem preparo para educar as pessoas possa aprender com a diversidade que os Jogos trazem.

Mesmo assim, Ian diz que não se assustaria caso fosse ofendido, como muitos anônimos são diariamente no Brasil, e ressaltou que entidades como o Comitê Olímpico Internacional poderiam usar melhor o esporte para combater a intolerância.
 

"O que precisa mudar é a sociedade. Se as pessoas se comportam desse jeito é porque elas são condicionadas a se comportarem assim. Em lugares onde as pessoas têm a mente aberta tanto sobre feminismo quanto questão de orientação sexual, você não vê esse tipo de ataque. Não vê as pessoas sentirem vergonha do que elas sentem, do que elas são. A mudança não tem de sair da pessoa para o geral. Ela tem que vir do geral. Se eu não estivesse preparado para lidar com tudo que eu pudesse lidar quando abri minha sexualidade eu não teria falado. Não temo nenhum ataque. Nunca recebi nem antes, nem depois de assumir. Se as pessoas quiserem me atacar, vou fazer que nem a Inês Brasil, se me atacar, vou atacar!", brincou Ian.
 
O paraense estudou pedagogia por seis semestres e acredita que a maturidade que atingiu é parte dos ensinamentos recebidos na faculdade. Assim, ele crê que as escolas brasileiras deveriam trabalhar melhor o conceito de gênero, o que para ele não acontece ainda, muito por conta de questões políticas.
 
"Ninguém nasce preconceituoso, ninguém nasce ignorante, ninguém nasce racista, ninguém nasce machista. Nós aprendemos a ser racistas, nós aprendemos a ser homofóbicos, nós aprendemos a ser machistas. É uma coisa que nós aprendemos. É claro que dá para desaprender também, as pessoas vão quebrando preconceitos com o tempo. Você vê pessoas no Ministério da Educação que não conseguem trabalhar gêneros de jeito nenhum na escola, que era o lugar que era para ser trabalhado. Por quê? Porque existe todo um movimento de uma bancada evangélica que barra a discussão de gênero na escola. Existem movimentos políticos por trás disso", diz o saltador brasileiro.
 
COI PODERIA AJUDAR SOCIEDADE
 
Em sua primeira Olimpíada, Ian lembrou o que aconteceu em Sochi, na Olimpíada de Inverno na Rússia, em 2014, para citar como acha que deveria ser a ação do Comitê Olímpico Internacional (COI) com o tema. Lá, a lei antigay dos russos foi duramente atacada por atletas. Para o brasileiro, os dirigentes e entidades poderiam utilizar melhor o esporte para tratar a questão e formar uma sociedade que aceite com naturalidade um tema que para ele nem deveria mais ser discutido.
 
"O esporte é uma ferramenta muito boa, mas o momento que estamos historicamente não está refletindo isso. Claro que se o Comitê Internacional, o Comitê brasileiro fizessem um trabalho por trás seria importante, mas eu entendo que esse não é o foco dos comitês. Depois que assumi, nenhum atleta com a mesma orientação veio falar comigo, mas recebi muitas mensagens, de muitas pessoas falando: "Nossa! Que orgulho! Eu não consegui fazer, mas fico muito feliz porque você conseguiu". Recebi muitas mensagens desse tipo", lembra Ian.
 
O discurso engajado, porém, limita-se ao seu mundo. Ian não vê necessidade de auxiliar outros atletas a seguirem o mesmo caminho. Para ele, assumir ou não sua orientação é algo pessoal e que não necessariamente é público.
 
"O atleta homossexual não assume por medo ou vergonha. Ou por achar que não precisa. É uma coisa muito pessoal. Assumir minha sexualidade não mudou em nada a minha vida pessoal, nem a minha carreira. Foi um movimento político. Não posso chegar e falar para alguém: "Olha, isso é o melhor para a sua vida". Não tenho o direito. Sei que existe um movimento muito grande de quem se assumiu falar para as outras pessoas, falando que será bom, será libertador. Não posso brincar com a vida dos outros. A pessoa tem que estar pronta para vir coisas boas, e tem que estar pronta para vir coisas ruins", garante.
 
Fonte: Globo Esporte

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