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(Sem nome)

É hora de gastar meu latim, fazendo assim, assim o meu maior amor por mim:
E meu caminho na cidade por ora se encerra, engasga e emperra. Desço a serra.
À beira da praia, tudo começa de novo, porque a vida é gerúndio, acontecimento rodante que nunca pára de jorrar como a água do mar que joga e não erra.
Sem alvo, me salvo de um tanto de coisas sem rosto e que assustam:
Sorrisos ensaiados, remorsos preenchidos de uma existência incompleta, pomares de frutas maduras que caem do pé, e caem de pé sobre a cabeça dos desavisados.
Gravidade nesta idade de chuvas e trovoadas pode ser crença, maldição ou ‘bença’. Peço a meu pai! Mas a pergunta da cabeça não sai:
Como ela aprendeu a andar naturalmente entre nós? Na garganta, ela coloca uma faca, me ataca, mas não morde nem mata. Eu grito já basta! Ela se afasta tola e casta!
Sem piscar, mato aquela charada com um tiro certeiro no plexo solar, fazendo-a sangrar pelo umbigo, de onde nascera e por onde morreria a jorrar e ‘llorar’.
Como num artifício de filme, eu podia ver as folhas do meu calendário voando tela afora e caindo lá fora, no chão, como folhas que anunciam a chegada da nova estação.
Mas meu trem não pararia ali. E eu precisava saber seu itinerário. Ele estava dentro do horário e fora dos trilhos, ao menos, por ora. As folhas ainda voando para fora. E os filhos? Um grande desejo, mas ainda não é hora.
Todas as músicas, todas as lágrimas e lambidas de cachorro. Todos os livros, filmes, momentos, joelhos ralados, gritos de prazer, arrepios calados estavam adentrando os vagões e sabiam que somente por eles eu me mato e não morro.
Não havia nenhum atraso previsto para nossa viagem de agora.
Já é outubro. Primavera. Libra. Crianças. Professores. Aparecida Nossa Senhora.
Sempre dias de inferno, depois o bom astral. Não havia como não deixar de lado todos os momentos mais errados, os presentes acertados, os cigarros apagados, os medos deflagrados. O balanço do mar, do tempo, do lar, do momento atual, a coisa e o tal. Afinal, é normal, relembrar: o natal, a festa, a cidade, a testa e o mal.
E lá vem este mais um a bordo tentar me alegrar. Cantando no coro que já tinha desafinados vinte e quatro a berrar. Sigo então ouvindo o som, sem perder o dom e o tom. Assopro a vela e acerto a direção.
Estibordo, bombordo. Tudo bem, eu concordo.
E embarco neste novo corsário, mais uma chance sem ensaio: chegou o meu aniversário!”

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