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Seminário carioca desmistifica passagens bíblicas usadas para condenar homossexualidade

"O homossexualismo é anti-natural, porque Deus fez Adão e Eva e não Adão e Ivo." Quantas vezes não ouvimos frases que já ultrapassaram os limites do clichê com citações bíblicas descontextualizadas para impor a heteronormatividade e justificar atos homofóbicos?

Para quebrar tabus e promover uma série de reflexões sobre o fundamentalismo religioso, a comunidade Betel do Rio de Janeiro – uma igreja cristã inclusiva – organizou no último fim de semana a segunda edição do seminário "Homossexualidade e a Bíblia – verdades e mitos", no Hotel Pouso Real, na Lapa.

"O evento tem cunho acadêmico, não temos a intenção de propagar a fé. É importante desconstruir a Bíblia de um ponto de vista histórico, antropológico, para que a gente chegue à conclusão de que em nenhum momento ela condena a homossexualidade", disse Márcio Retamero, teólogo e mestre em História Moderna pela Universidade Federal Fluminense, que organizou o seminário. O estudo está baseado em pesquisas feitas pela americana Rev Yvette Dube, pastora da Igreja da Comunidade Metropolitana – a primeira igreja inclusiva do mundo, fundada em 1968.

O módulo I, ministrado no sábado, tratou da polêmica que envolve as quatro passagens do Antigo Testamento utilizadas para atacar os homossexuais: Levíticos 18, 19 e 20; e Deuteronômio 23, além dos capítulos que tratam da cidade de Sodoma e Gomorra em Gênesis. Foram apontados vários quetionamentos, como a infalibilidade bíblica – ou seja, tudo que está na bíblia está certo – o uso de passagens descontextualizadas e a questão da "inspiração divina", que teria originado as escrituras.

Já no módulo II, no domingo, foram abordados outros dois livros do Novo Testamento: Romanos (a carta ao apóstolo Paulo, no capítulo 1) e Primeiro Corintios (outra carta que declara a lista dos que não herdarão o reinos dos céus).

Após a última aula, os alunos assistiram ao documentário "Assim me diz a bíblia" (EUA – 2007), do diretor Daniel Karslake, que conta a história de gays pertencentes a cinco famílias protestantes. A próxima edição do seminário está prevista para ocorrer em meados do ano que vem.

Embora fosse notável a participação de muitos gays no evento, as palestras, segundo reverendo Márcio, são voltadas a qualquer tipo de público interessado nas questões religiosas. Pâmela, de 30 anos, que se descobriu lésbica recentemente, falou sobre a importância de ter participado do evento. "Achei muito esclarecedor, passei a vida num contexto extremamente tradicional. Esse seminário foi uma resposta de oração. Eu precisava de subsídios para argumenatar com aqueles que estão proximos de mim. Nada resiste ao saber", afirmou. Para Márcio, esse estudo precisa ser mais divulgado e utilizado pelos próprios homossexuais. "A militância precisa se apropriar desse tipo de conhecimento, já que a frente parlamentar usa a bíblia para nos negar direitos".

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