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“Sempre vai existir quem goste dos shows”, diz Vitor sobre os 19 anos da Blue Space

Na história da noite gay, inúmeras casas, clubes e boates abriram as portas tão rapidamente quanto fecharam. Mas uma delas segue investindo na tradição dos glamorosos shows e comemora 19 anos de sucesso: a Blue Space. 

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A “casa azul” é conhecida por investir em shows de dublagem e performances com grandes artistas da nova geração e veteranas. E também faz sucesso por apostar em DJs de formação, cantoras, sistemas modernos de som e iluminação. 
 
Neste sábado (14), a Blue fará a comemoração desta história com uma noite de aniversário especialíssima. O tema será Cassino e vários artistas – bem como Silvetty Montilla, Natasha Rasha, Thalia Bombinha, dentre outras – estarão comemorando os 19 anos de arte, música e jogação.
 
O A CAPA conversou com Vitor, o proprietário do clube, que falou um pouco sobre a noite, os desafios e momentos de glória. Confira: 
 
– A Blue Space comemora 19 anos, um número bastante significativo frente a tantas casas que fecharam as portas. Qual é a sua avaliação ao pensar nesta trajetória?
 
Como você disse, é meio raridade uma casa que não é pequena durar tanto tempo, né? Sinto satisfação, orgulho não só de mim, mas de toda a equipe que já passou por aqui. Tem gente que está desde o primeiro dia. Também sinto orgulho de ter a casa sempre com público, de conseguir manter desde o nosso início a nossa preocupação, que é a diversão. É lógico que se trata de um comercio, mas se estamos fazendo as pessoas se divertirem é que estamos dando certo. 
 
– Poderia falar um momento de glória ou emocionante que viveu no clube? 
 
Nossa, teve tantos e ao pensar nesta resposta posso dizer que sou um homem muito realizado. Acho que o momento de glória foi quando eu abri a casa. É isso. Foi abrir e ver a casa lotar logo no primeiro dia. Eu era muito novo e nunca tinha tido uma casa noturna. Era um sonho, uma loucura minha. 
 
– O que você recorda dos primeiros anos da Blue? Foi difícil abrir uma casa na Barra Funda? 
 
Foi porque ninguém vinha para cá. Todos os clubes eram dos Jardins. Como era frequentador dos clubes, percebia, por exemplo,  que muitas não tinham lugar para estacionamento e nem para estacionar. Daí, notei que na Barra Funda havia uma rua inteira para estacionar, além de um estacionamento. Foi bem arriscado e muita gente nos chamou de louco. Mas hoje está todo mundo para cá. Lembro que a gente tinha três luzinhas no palco, era uma iluminação pequena, não tinha as duas pistas, era bem precário. Mas o som sempre foi legal.
 
– Quais inspirações que você teve para a Blue? Foi a Medieval? 
 
A Medieval foi a primeira casa que eu frequentei, mas não me pergunte o ano que eu não lembro (risos). Recordo que fiquei maravilhado. Mas frequentei e me inspirei mesmo na Corinto e na Nostro Mondo. 
 
 

 
 
– O clube é considerado o único a manter a valorização do artista da noite, no sentido de investir no show de drags, transformistas e trans. O que move você a apostar neste glamour? 
 
Eu conheço outras casas que também colocam as artistas. Mas aprendi uma coisa na vida: ou você faz bem feito ou não faz. Aprendi isso desde moleque. Por exemplo: se você quer abrir um restaurante, não adianta ter 500 tipos de pratos. Às vezes, é melhor ter um bacalhau maravilhoso que as pessoas vão lá para comer exatamente aquele bacalhau, além de outras opções igualmente saborosas, que não atender nenhuma expectativa. Ou seja, os shows acabam sendo o nosso diferencial e ficamos com a fatia do mercado de quem gosta de show e quer ver um espetáculo bem feito. A gente procura fazer o mais bem feito possível.
 
– Qual é a relação que você tem com as artistas?
 
É uma relação de família e a gente se respeita. É claro que existe a exigência, o ensaio e o trabalho. Mas também há o respeito. Eu, particularmente, admiro o trabalho de todas elas. Tem gente que acha que ser artista é colocar uma peruca e subir no palco. Não! Tem que ter talento, tem que ensaiar, tem que se produzir, tem que ter roupa e a roupa é cara. Elas são heroínas. A Blue só mantém a tradição por causa delas, que investem e que estudam. Se manter fazendo show é muito difícil. 
 
– Você paga por apresentação? 
 
Elas recebem por apresentação e ninguém tem exclusividade. Inclusive, eu procuro facilitar quando elas têm algum show em outra casa. E, para trabalhar aqui, tem que ter talento e carisma. 
 
– Qual é o tipo de apresentação que você mais gosta? 
 
Eu gosto muito do humor e é uma área que eu me aventuro a dar ideias. Gosto muito de números bem criados, não importa se é das antigas, drag ou bate-cabelo. Gosto de números que acontecem coisas no meio, muito além daquela coisa de a pessoa dublar e o balé dançar atrás. Gosto de ideias novas, do palco descer, girar, de trocar a roupa, o que a gente acaba fazendo. 
 
– É complicado o exercício de ser tradicional e ao mesmo tempo ser um clube atual?  
 
Penso que podemos manter a cultura gay e manter os shows, mas também é importante sempre termos em mente a renovação. Eu posso ficar velho, mas a casa não. Não posso deixar o público enjoado e é por isso que tem o toque da decoração, da iluminação e do som. É por isso que invisto em DJs de profissão e não de pen drive. E é por isso que as artistas que colocamos, sejam elas novas ou não, devem ter talento. As novas devem mostrar talento e as que estão desde o início devem ir se renovando.  Antigamente, o show era montado e ficava seis meses em cartaz. Hoje, temos que montar um show por semana e todos modernos. A época é outra.
 
– Das artistas, quem está desde quando abriu a Blue? 
 
A única que está desde o começo é a Natasha Rasha. A Silvetty (Montilla) entrou logo depois e a Michelly (Summer) também. Elas continuam porque têm talento, porque procuram dar tudo de si. E também porque eu pago (risos). 
 
– Acho justo (risos). Você sente que o público também mudou ao longo dos anos? 
 
Claro! Quem começou aqui com 21, hoje tem 40 e já está em outra vibe. Sinto que hoje pegamos a geração que acompanhavam as performances pelo Youtube, vê a Thalia, a Silvetty, e quer assistir de perto. Daí elas completam 18 anos e vem aqui para conhecer. Às vezes vem algumas vezes e depois mudam. Algumas ficam vindo um tempo e depois mudam. Mas é uma geração nova.  
 
– Certa vez conversei com a Nany People e ela disse que as drogas atrapalharam os shows, uma vez que as pessoas acabam não tendo paciência para a performance. Você concorda?
 
É um assunto delicado, mas que não tenho problema em falar. Aqui na Blue não somos uma igreja, mas acredito que as pessoas que vem acabam querendo dançar e ver o show. Acaba que não temos muitas ocorrências. Conheço pessoas que, ao usarem as drogas sintéticas, não conseguem parar para assistir, pois tem que ficar dançando. Não é que elas não gostam dos shows, às vezes ela não gosta naquele momento. Deveria haver um estudo para saber melhor sobre isso. Eu não vendo droga e nem quero. Não vou manter pessoas que ficam explorando os meus clientes. 
 
 
 
– Atualmente, qual é o maior desafio de manter um clube?
 
A maior dificuldade de manter uma casa aberta é a crise que o Brasil está passando. Todo mundo está com dificuldade de manter as coisas. E não é só a noite, é o dia! Não querendo ser pessimista, mas está complicado e todo mundo sabe disso. Não é simples manter uma casa aberta com 40 funcionários todo fim de semana. 
 
– O que você não gosta na noite? 
 
Eu não gosto de VIP, dessa cultura do VIP. Acho que isso não ofende dizer, né, pois cada um faz o que quer. 
 
– Você acredita que os shows de drags e artistas trans duram mais 19 anos? 
 
Acredito, pois sempre vai ter um público que gosta. Mas desde que ele sempre seja atualizado e moderno. Não podemos ficar com a história das transformistas de antigamente, sendo que até o bate-cabelo é coisa de dois anos atrás. Hoje, uma ou outra bate-cabelo, mas sempre bem feito. Sinto que as próprias artistas são responsáveis por manter essa cultura. E cada vez mais elas sabem que a drag tem que saber dançar, se jogar, se movimentar. E que as humoristas tem que fazer rir com piadas novas. Sinto orgulho de trabalhar com a Silvetty, Thalia (Bombinha), Michelly, Natasha, Valentinni e Stefany di Bourbon. 
 
– O tradicional Futebol das Drags não vai haver neste ano. Por qual motivo?  
 
Infelizmente, desta vez não conseguimos o apoio e a estrutura necessária da CADS (Coordenadoria de Assuntos da Diversidade Sexual da Prefeitura de São Paulo ) em relação à segurança. E eu não vou promover um evento em que não posso proteger ou preservar as pessoas que participam ou assistem. Não tem relação com dinheiro, mas com segurança. Pois, a segurança particular não acaba tendo a mesma visibilidade que a da polícia. Imagina se durante o evento ocorre uma agressão com lâmpada, carro roubado… Isso cai nas minhas costas.  
 
– O que podemos esperar deste show da Blue no show de aniversário? 
 
Um grande show, claro. O tema é um cassino e teremos um grande elenco no palco. A casa também estará toda decorada para ficar mais moderna e atraente. É a minha forma de agradecer o público e as pessoas estão conosco. 
 

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