O assunto do dia é a autorização para que a cantora cabeluda Maria Bethânia possa captar R$ 1.300.000,00 para criação de um blog de poesia com e publicação de 365 vídeos produzidos pela sua equipe, paga com esta verba que ela poderá levantar junto a empresas públicas e privadas com dedução do valor no Importo de Renda.
Claro que o assunto foi parar no Twitter e em pouco tempo ganhou os Trend Topics nacionais e mundiais, mas o que espanta é a velocidade que uma informação truncada é disseminada e passa a ter outra conotação para quem não leu a notícia em si ou não entende da mecânica de financiamento de projetos culturais.
Não estou defendendo a cabeluda, mas me espanta que as pessoas saiam falando por aí o que não é bem isso. Lendo as mensagens na rede social, a esmagadora maioria das pessoas acha que o Ministério da Cultura vai transferir o dinheiro para a conta da moça e pronto. Não é bem assim.
Ela tem uma autorização para pleitear editais de empresas públicas e privadas e essas também se beneficiaram com seus vídeos, já que vão abater o valor dado para Bethânia no seu imposto e com isso vão ganhar exposição da marca no blog, que seguramente vai virar um hit, pois já é um feto famosíssimo.
Para as empresas esse é um excelente negócio, já que torna gratuita sua participação em projetos nobres, bacanas e que refletem positivamente na marca, aumentando seu valor de mercado e tornado-a mais querida entre seus consumidores. Outro caso emblemático foi o patrocínio de 9 milhões que o Brasdesco deu ao Cirque Du Soleil em 2008, deixando de pagar esse valor ao fisco e tendo sua marca amplamente exposta – e o espetáculo custando ainda R$ 300.
Esta é a forma que o governo encontrou, e se fortalece a cada gestão, de incentivar as empresas a investirem na cultura, papel que na realidade é deles, mas a transferência de responsabilidade é mais fácil. Ainda sim sou a favor desde modelo de financiamento, já que desta maneira os investimentos acontecem efetivamente – ainda que seja puro interesse das empresas e não necessariamente preocupação com a causa e nem todas as causas.
Se todo esse dinheiro que é captado por milhares de projetos em diversas áreas fossem para os cofres públicos seguramente não teríamos a quantidade de filmes, peças teatrais, congressos, eventos culturais, e tantas ações que fortalecem a sociedade e leva conhecimento, cultura, diversão e saúde para os brasileiros.
Porém isso não justifica toda essa dinheirama para um blog. A sociedade não deve pressionar só o governo, mas também ficar de olho nas empresas que vão apostar nessa idéia. Se fosse um projeto para cuidar de travestis com HIV com certeza a autorização de captação não seria nem 10% desse valor e dificilmente alguma empresa gigante – como o Bradesco – se interessaria em associar sua marca com a temática.
Mas empresas que estão realmente interessadas em fazer o bem sem se importarem unicamente com suas marcas não precisam de edital, de lei de incentivo, elas simplesmente fazem. O Disponivel.com, que destina um dia de faturamento, e Blue Space, que promove um evento para arrecadar fundos, estão realmente preocupadas em contribuir para a manutenção de uma casa que acolhe a mais vulnerável das populações LGBTs – as travestis com HIV.
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Ah, achei superdivertido o novo encurtador de URL. Na verdade não está totalmente em produção, pelo que notei, mas eu já estou usando. É o Senta.La. Para acessar use http://senta.la/claudia.