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Ser filha de lésbica

Nunca me esqueço do dia em que minha mãe nos apresentou sua “amiga”. Eu tinha dezessete anos, e ela a levou para um jantar em casa. Na mesa, eu, minha irmã, minha mãe e… meu pai. O casamento dos dois sempre foi conturbado, mas naquele momento tive certeza de que não duraria muito mais.

Foi uma época difícil. Para todos. O sofrimento do meu pai estava estampado o tempo todo no seu rosto, o esforço para manter o casamento e a mulher que amava ao seu lado. Eu e minha irmã sem saber direito como agir, já que ninguém falava explicitamente o que estava acontecendo, mas nós sabíamos… Brigas homéricas, noites sem dormir, e nós no meio do fogo cruzado.

Mas, até hoje, nunca falei para minha mãe como admirei sua coragem. Ela lutou de todas as formas para viver a sua verdade e a sua felicidade. Enfrentou o preconceito e a incompreensão da família dela e a raiva da família do meu pai. Sofreu muito e tentou nos proteger, a mim e à minha irmã, o quanto pôde, mas não éramos mais tão crianças para não perceber o que acontecia. E a nossa decisão, consensual e muda, foi apoiar minha mãe, e torcer para que meu pai superasse a dor.

Onze anos depois, eu estava largando um casamento heterossexual para assumir minha homossexualidade e viver meu primeiro amor lésbico. Hoje, sou assumida e extremamente feliz. Porém, nunca disse à minha mãe como ela foi importante para que eu conseguisse me assumir lésbica. Nunca disse o quanto a amo, admiro e entendo, e que, naquela época, apesar do meu silêncio de quem não sabia o que dizer e do sofrimento de ver a dor de todos, me surpreendi e admirei sua força.

Minha mãe e a namorada estão juntas desde aquela época, há exatos dezessete anos. Com certeza, se eu não tivesse o exemplo dela, estaria até hoje dentro do armário, vivendo uma mentira… Mas eu tenho muita sorte por ter uma mãe corajosa e que me apóia.

Muito, muito obrigada, mãe. Te amo.

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