Ai, mona… Estou exausta! Tudo por conta da decisão histórica e emblemática do Supremo Tribunal Federal, que no dia 5 de maio de 2011 votou com unanimidade a favor do reconhecimento das uniões estáveis homoafetivas, tal qual as uniões estáveis heterossexuais são reconhecidas e amparadas pelo Estado. Há quem diga que o dia era propício, afinal, 05/05/2011 somados, é igual a 14, que somados, resulta em 5 e, segundo alguns numerólogos, a energia deste número é a da liberdade, do avanço e da mudança… Será? O que eu sei é que, depois de anunciado o último voto eu só pensei em uma coisa: comprar um modelão escândalo na rua São Caetano e tratar de marcar a data do casório…
Claro que, vale lembrar, que não se trata ainda do casamento homossexual propriamente dito, mas acredito que este já seja um grande passo rumo ao reconhecimento dos direitos dos homossexuais. Mas esta a gente ganhou. Prevaleceu o bom senso e a laicidade em detrimento do falso moralismo e do preconceito mascarado de pseudoreligiosidade.
No entanto, como eu costumo dizer, o caminho rumo à cidadania plena dos homossexuais, no Brasil, é bem mais longo que os cerca de quatro quilômetros que percorremos no dia da Parada do Orgulho de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Trangêneros (LGBT). Mas sim, é graças a este fenômeno, é graças às Paradas, que começaram em São Paulo e foram pipocando pelo Brasil afora, que as pessoas tiveram mais contato com uma realidade, antes tão camuflada e escondida nos guetos dos centros urbanos.
Um ditado que sempre carrego comigo diz: "A ignorância é vizinha da maldade". Digo isso por experiência própria. Quantas pessoas já me disseram que mudaram sua ideia acerca da homossexualidade depois que me conheceram e perceberam que "a única coisa que mudava era minha opção sexual".
Percebam que, muitas vezes, o fato de alguém não conhecer de perto uma realidade pode fazer com que ela tenha um julgamento ou pré-julgamento deturpado sobre isso. Um grande amigo meu, quando o conheci, dizia que viado tem que apanhar. Hoje sou padrinho de casamento dele e nos amamos… Mas esta relação só aconteceu porque eu me mostrei e esclareci conceitos que para ele eram corretos e ponto final. Um destes conceitos é justamente a questão da "opção sexual". Parece até uma coisa tola, mas faz toda a diferença… Opção tem relação com escolha e, no caso da sexualidade e da afetividade humana, não se trata de escolha. Ninguém escolhe ser gay, hétero ou bissexual. Aliás, vale lembrar que nenhuma ciência é capaz de determinar o que define a sexualidade humana. O que se tem consenso é de que hétero, homo e bissexualidade são variáveis da sexualidade humana e todas são normais.
Mas mona, pare e pense: muitas pessoas (diria que milhões delas, no caso do nosso país), acreditam que a homossexualidade é uma opção, logo uma escolha. Desta forma, fica fácil para elas concluírem que um cara é gay ou uma menina é lésbica porque simplesmente querem. Assim, por consequência, a heterossexualidade (por ser maioria) seria natural e aceitável e as outras variáveis da sexualidade não.
Muitas são as justificativas para dizer que a homossexualidade é uma opção. Há quem diga, por exemplo, que uma pessoa é homossexual por ter se desiludido sentimentalmente com o sexo oposto. Já ouvi caras dizendo que um gay só é gay porque nunca pegou uma mulher gostosa (aviso: eu já transei com mulher e pude perceber que não era o que me excitava ou me agradava… será que esses caras que dizem que o problema é a falta de experiência teriam coragem de experimentar uma transa com outro homem?). Há quem surte e diga que a homossexualidade é coisa espiritual, que vai deste uma inadequação da alma com o corpo ou então entidades malignas que fazem uma pessoa ter tendências homossexuais… (se for assim, meu bem, estou toda trabalhada no encosto do oxiuris!).
O curioso é que, quando as pessoas, sobretudo as que dizem que homossexualidade é opção, são questionadas sobre quando escolheram ser heterossexuais elas são enfáticas em dizer: "Eu não escolhi ser heterossexual, eu sempre fui assim, faz parte da minha natureza!".
E foi justamente isso que me motivou ir às ruas e fazer exatamente estas perguntas às pessoas. A primeira pergunta era: "Você acha que uma pessoa é homossexual por opção ou isso faz parte da identidade dela, da essência dela?". Alguns responderam que a sexualidade (hétero ou homo) é parte da pessoa e ponto. Outras, porém, disseram que é opção, que é escolha… Neste caso eu fazia uma segunda questão: "Quando você decidiu ser heterossexual?". Aí todo o discurso de opção mudava e as pessoas respondiam que a heterossexualidade delas era natural e não havia escolha. Com esta resposta eu voltava ao tema da homossexualidade… Das duas uma: ou a pessoa voltava atrás de sua resposta ou não tinha argumentos para sustentar o que tinha dito.
Posso garantir, meus queridos, que muitas vezes esses discursos são passados de pais para filhos, sem que sejam refletidos. Uma vez que você traz o tema ao nível da consciência e as pessoas param para pensar sobre o assunto, no mínimo, ela ficará confusa e, se tudo der certo, ela poderá mudar sua opinião…
Veja o resultado da minha aventura nas ruas da cidade no vídeo abaixo:
Tá dado o recado… Beijo, beijo, beijo… Fui…