Guarda Municipal do Rio de Janeiro, o homem trans Jô Lessa participou na tarde de quinta-feira (18) da 9ª edição do Encontro Regional Sudeste, na ALESP, em São Paulo, e divulgou o seu primeiro livro "Eu Trans, a Alça da Bolsa – relatos de um transexual".
+ Deputado comete gafe e é corrigido em coro por travestis e transexuais
A obra, publicada pela editora Metanoia, conta em 138 páginas a trajetória do guarda de 47 anos, as violências físicas e morais sofridas desde a infância – bem como a expulsão de casa, a internação na Febem e um "estupro corretivo". Sobretudo, aborda a superação de quem conseguiu chegar lá – na Guarda Municipal desde 1997 – e ser exemplo positivo para o grupo.
Ao A CAPA, Jô afirma que a ideia da publicação partiu da esposa. "Comecei a escrever em 2009, mas depois parei. Em 2013, quando conheci o João W. Nery (autor do livro Viagem Solitária), levei o projeto pra frente, até porque foi ali que me descobri homem trans. Até então, não me via em nenhuma caixa. Nem mulher, nem lésbica, nem gay, nem homem. Era só Jô".
A contra-capa é assinada por ninguém menos que o responsável pela descoberta, Nery: "Parece ficção, mas esta vida é contada depois de 46 anos, onde "cada poro do corpo estava preso e sufocado (…) Este livro mostra que é o gênero que nos define e que, no caso, funcionou como uma alça carregando todo peso de um corpo que nunca foi sentido como seu".
TRANSFORMAÇÃO… SOCIAL
Ele afirma que o livro deve ser lido não apenas por pessoas trans ou LGB, mas por toda a sociedade, que pode entender e elucidar melhor sobre a vivência de tais pessoas e contribuir para o respeito, aceitação e cidadania delas na sociedade. "Muitos pais ainda não sabem como lidar com a questão dentro de casa e, por meio das referências, pode haver alguma transformação", diz.
+ Cerca de 100 travestis e transexuais marcham pelo direito de ser quem são
Diante de novos exemplos na mídia, Jô dá um recado aos homens trans da nova geração e espectadores: "Ser homem trans não se trata de modismo, é algo muito sério e que pauta o futuro da vida. Ser homem trans não é sair tomando hormônio por contra própria para ter barba. Se não é o corpo que define quem somos, não é a barba ou uma questão meramente estética que deveria definir alguém homem".
No próprio trabalho, Jô afirma que não teve nenhum problema depois de sua vivência ter sido revelada em um livro e ganhar a mídia. Ao contrário. Ele afirma que a convivência com os colegas de Guarda melhorou e que sua identidade é respeitada. "Eles me tratam no masculino, muitos me dão abraços, recebi elogios e abri precedente para que as pessoas pudessem ser quem elas quiserem", declara.
A obra custa R$ 25 e pode ser adquirida clicando aqui.
Jô posa ao lado de ativistas de Encontro Regional Sudeste
de travestis, mulheres transexuais e homens trans