O álbum "Sessão das Dez", lançado originalmente em LP – discos de vinil… – em 1971, chegou ao CD há alguns anos, mas logo saiu de catálogo. No primeiro semestre de 2010, foi relançado em CD, dentro de um pacote de relançamentos da Sony Music. E periga sair de catálogo novamente ou passar despercebido. Então vamos resgatar essa que é uma das obras seminais da moderna MPB e do pop rock brasileiro.
Reza a lenda que o disco foi gravado de madrugada, clandestinamente, nos estúdios da gravadora CBS, onde Raul Seixas trabalhava como produtor musical. Tal história já foi desmentida por Edy Star, um dos integrantes do álbum, mas que é saborosa, não se pode negar.
O fato é que o genial Raul Seixas (1945-1989), músico baiano que na época estava radicado no Rio de Janeiro, teve a ideia de gravar um disco-manifesto inspirado no lendário "Tropicália" – gravado em 1968, e que lançara de vez para a imortalidade da MPB os artistas Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Os Mutantes, entre outros.
Curiosamente, o projeto de Raul revelou-se ainda mais anárquico e ousado do que seu "antecessor". Se "Tropicália" misturava bolero, samba-canção, música de protesto, marchinhas, música clássica e ritmos latinos, o disco de Raul e companhia pisava mais no acelerador juntando basicamente dois estilos: samba e rock. Mas não era o chamado "samba-rock" que seria consagrado depois. Havia ainda ritmos como chorinho, baião e até samba de breque.
Raul convocou três artistas na época em início de carreira: Sérgio Sampaio (1947-1994), Miriam Batucada (1947-1994) e Edy Star. O quarteto entrou então em estúdio e cometeu doze faixas antológicas, entremeadas por vinhetas hilárias e ácidas criticando e debochando do movimento hippie, do então nascente "milagre brasileiro" – que incentivava o consumismo em pleno governo militar do carrasco Médici – e da alienação reinante no Brasil daquele momento.
Os vocais principais de cada faixa foram divididos entre os quatro, mas Raul tocou praticamente todos os instrumentos, conforme comenta o historiador musical Rodrigo Faour, responsável pelos textos históricos de cada CD relançado no pacote da Sony.
Curiosamente, Edy Star é o único sobrevivente do quarteto. Aos 72 anos, ele carrega a honra de ser o primeiro gay assumido na história da MPB. Após o lançamento de "Sessão das Dez", Edy lançou seu álbum solo e foi identificado com o movimento glam rock, ou glitter, que bombava lá fora.
Edy canta as faixas "Sessão das Dez" – com uma letra e interpretação escancaradamente gay – e "Eu Não Quero Dizer Nada". Outras faixas antológicas: "Eu Vou Botar pra Ferver", com Raul e Sérgio, ""Chorinho Inconsequente", com Miriam, e "Eu Acho Graça", com Sérgio. Mas o disco inteiro é imperdível, e já chegou a ser chamado de "o Sgt. Peppers brasileiro" – em referência à obra-prima dos Beatles.
"Sessão das Dez" pode ser encontrado em lojas e em sites como o da Livraria Cultura.