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Sex, dykes and rock n´roll

Quem são as mulheres que já dominaram e ainda dominam a cena do heavy metal mundial? Isso existe? Pois é, não pense que as dykes estão presentes apenas em movimentos como o queercore e o riot grrrl. Com muita competência, elas desafiam todos os clichês de uma cena musical dominada por homens. E mostram para muitos marmanjos que o “lesbian rock” é tão bom, se não mais original do que o machista “cock rock”.

Lembrar de todos os clichês do rock n’roll é fácil, ainda mais das figuras e da moda que compõem esse estilo musical: calças de couro apertadas, bandanas segurando os longos cabelos, óculos ray-ban, gritos estridentes e ensurdecedores, tatuagens, muito machismo, fãs taradas e enlouquecidas, letras sobre sexo, mulheres, bebidas, ou seja, o sonho de todo garoto que acabou de entrar na puberdade. Mas e as mulheres, como entram ativamente nessa história?

O rock já não é o mesmo, os tempos áureos das décadas de 70, 80 e 90 há muito tempo deixaram sua marca, que hoje é mera sombra de um passado de fama, criatividade, sucesso e sexo fácil, fácil até demais. Em um ambiente dominado por homens que adoram criar a imagem de “feios”, “sujos”, “malvados” e “sexistas”, nos dias de hoje são as mulheres quem mais prometem criar uma nova geração de roqueiros(as) eternos.

A diferença é que essas não são quaisquer mulheres. Pertencentes a movimentos musicais como o “queercore” (também conhecido como homocore) ou o movimento auto-intulado “riot grrrl”, muitas bolachas engajadas do mundo todo deixam um pouco de lado o gosto por Madonna, k.d. lang e Melissa Etheridge e caem nas graças de estilos musicais mais pesados, que se concentram não apenas no sexo (com mulheres), mas de cunho político-sócio-cultural, tratam sobre questões como o preconceito, sexualidade, identidade e questões gerais do universo gay.

O queercore e o riot grrrl são movimentos bem conhecidos do meio gay engajado, com conteúdo (massa encefálica ativa), e bandas como Bikini Kill, Indigo Girls, Le Tigre e as brasileiras do Dominatrix sempre fizeram a cabeça de garotas que gostam de garotas. Entretanto a meninas sempre quiseram muito mais e com tremenda capacidade e dom, já provaram que podem sim fazer muito marmanjo babar de inveja, não só pela sua música, mas também pelas suas fãs e os mais desavisados, claro, pelo seu “sex appeal”. Pobres “machos”!

Atualmente muitas dykes levaram esse engajamento para outras tantas vertentes do rock: hardcore puro, punk, hard rock, new metal, heavy metal, gothic metal, industrial; todos esses estilos possuem artistas lésbicas de peso. Sejam tomboys ou ladies, o que importa é o rock de alta qualidade que fazem.

O que falar então da diva do punk rock e precursora do “lesbian rock”, Joan Jett, da extinta banda The Runaways e criadora do hino mundial “I Love Rock N’ Roll”? Assumida, a cantora teve um papel fundamental no movimento riot grrrl durante a década de 90 e produziu artistas como Peaches e Bikini Kill. Continua na ativa até os dias de hoje e é influência não só para as garotas, como para toda uma geração de roqueiros.

Os anos 90 trouxeram grandes bandas de lesbian rock, como o L7, que na época figurava no time de primeiro escalão do movimento grunge/punk. Formado em 1985 pelas guitarristas Donita Sparks e Suzi Gardner, continuaram na ativa até 2001. Durante a fase áurea do grunge, a banda sempre se viu envolta em “pequenas” controvérsias, como o caso do absorvente feminino atirado na platéia do Reading Festival, em 1992.

No mesmo ano é lançado o álbum “Bricks are Heavy”, considerado pela revista Rolling Stone norte-americana como um dos álbuns essenciais da década de 90 e por muitos como um clássico do rock. Canções como “Pretend We’re Dead”, “Everglade” e “Monster” dominaram a MTV e as paradas de sucesso do mundo todo. A banda fez uma apresentação meteórica no festival brasileiro Hollywood Rock, em 1993, que ainda contava com bandas como Nirvana, Alice In Chains e Red Hot Chilli Peppers.

1993 também marcou o nascimento de outra banda de mulheres e tão importante para o movimento lesbian rock, quanto o L7, mas em um outro gênero (que a essa altura enfrentava uma dura decadência), o heavy metal. Saem o visual desleixado e masculinizado do grunge e entram os rostinhos bonitos e as calças de couro do rock. Naturais de Estocolmo, na Suécia, o Drain S.T.H. seguiu pela vertente de mestres do estilo como Black Sabbath e Metallica e com muita técnica conquistaram os marmanjões de plantão com uma mistura de heavy metal gótico e hard rock.

Apadrinhadas pelo ídolo Ozzy Osbourne, participaram, em 1999, do festival itinerante Ozzfest e contaram com a participação de Tony Iommi (guitarrista do Black Sabbath) nas gravações do álbum “Freak of Nature”, do mesmo ano. O grupo decretou seu fim no ano 2000, mas deixou um legado pra qualquer metaleiro de carteirinha não botar defeito.

Em outra vertente bem mais extrema, a banda Otep, liderada pela vocalista Otep Shamaya, faz uma mistura poderosa de nu metal, death metal e rapcore. O grupo, formado em 2000, já lançou três CDs (“Sevas Tra”, de 2002; “House of Secrets”, de 2004; e “The Ascension”, em 2007). Com um forte apelo político e social, Otep é uma das maiores críticas da guerra do Iraque e do presidente norte-americano George Bush e deixa sua mensagem clara em músicas como “Blood Pigs” e “Warhead”. Direta e sem muitos rodeios, suas letras são incômodas, relatam experiências passadas traumáticas e são recheadas de mensagens contra o fanatismo religioso, problemas sociais e a cultura norte-americana. Tudo isso carregado por um sentimento pesado de inconformismo contra a sociedade atual. Ligada às artes, a cantora ainda se dedica à poesia e já tem dois livros publicados: “Little Sins” e “Caught Screaming”, por enquanto apenas lançados nos EUA. Um paradoxo para uma vocalista tão feroz.

Com menos peso, mas não menos ferocidade, a cantora britânica Deborah Dyer, mais conhecida como Skin, da já extinta banda Skunk Anansie, segue com a mistura de britrock e rock industrial que tanto influenciou seu antigo grupo. Em carreira solo, Skin lançou o álbum “Fleswounds”, em 2003, mal recepcionado pela crítica e pelos antigos fãs, que se assustaram com o novo direcionamento musical da artista. Muito mais leve e bem distante do britrock pesado, o álbum não chamou tanto a atenção de seu público, mas em 2006, ela volta, outra vez de cabeça raspada, com o álbum “Fake Chemical State” e o single “Alone in My Room”. Atualmente Skin trabalha em seu terceiro álbum solo.

É uma pena que a decadência do rock, exatamente no período em que muitas dessas bandas foram criadas, ofuscou um futuro sucesso mais duradouro, afinal, poucas continuam na ativa nos dias de hoje.

Mas uma coisa pode-se atestar: mesmo tendo crescido e sendo influenciado pelo machista “cock rock”, o lesbian rock não perde nem deve nada aos grandes deuses do metal.

Veja fotos no álbum!

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