Entenda como o termo ‘mother’ representa acolhimento e resistência na comunidade LGBTQIA+
Você já deve ter se deparado com comentários como “Mother!!” ou “She is so mother” nas redes sociais, especialmente em posts de ícones pop como Lady Gaga, Beyoncé e Madonna. Mas esse título vai muito além do significado tradicional de maternidade. Na verdade, é uma expressão carregada de história e afeto dentro da comunidade LGBTQIA+, que representa uma figura materna que acolhe, protege e guia, muitas vezes em meio à ausência de suporte familiar convencional.
Origem e História do “Mother” Queer
O uso do termo “mother” no universo queer ganhou destaque com a cultura ballroom de Nova York, principalmente entre as comunidades negra e latina dos anos 1960 em diante. Casas como a House of LaBeija, fundada por figuras como Crystal LaBeija e Pepper LaBeija, criaram espaços de resistência e apoio, acolhendo jovens LGBTQIA+ rejeitados por suas famílias biológicas. Essas mães não só orientavam seus “filhos” nas artes do voguing e da performance, mas também ofereciam abrigo, amor e proteção contra a violência social.
Antes disso, já existiam registros históricos que apontam para o uso simbólico da palavra “mother” em contextos queer, como nas molly-houses da Inglaterra do século XVIII, que eram refúgios para homens gays e pessoas não conformes com o gênero, onde figuras maternas, como Margaret Clap, ofereciam segurança e comunidade.
O Que Significa Ser “Mother” na Comunidade LGBTQIA+?
Na prática, “mother” é aquele alguém que assume uma posição de cuidado e liderança emocional. É a pessoa que acolhe com respeito e amor, especialmente em uma realidade marcada pelo abandono e pela discriminação que muitos de nós enfrentamos em casa. Segundo especialistas em estudos de gênero, essa maternidade queer ultrapassa os laços sanguíneos, criando famílias escolhidas que garantem sobrevivência e fortalecimento.
Além das líderes das casas de ballroom, o termo se expandiu para descrever celebridades que representam modelos de empoderamento e resistência para a comunidade. Artistas como Charli XCX, FKA Twigs e Amanda Lepore são chamadas de “mother” por inspirarem e guiarem gerações com sua autenticidade e coragem.
A Apropriação e o Valor da Palavra
Nos últimos anos, o termo “mother” tem sido absorvido pela cultura mainstream, inclusive por pessoas cisgênero e heterossexuais, o que preocupa ativistas e estudiosos. Essa apropriação, chamada de semantic bleaching, pode diluir o poder e a importância original do termo dentro da comunidade queer.
Por isso, é fundamental reconhecer que ser “mother” em um contexto queer é mais do que um elogio estiloso: é um ato político e uma celebração de resistência, solidariedade e amor incondicional entre pessoas que muitas vezes foram invisibilizadas e marginalizadas.
Em um mundo ainda marcado pela transfobia e pela homofobia, o “mothering” queer é uma forma vital de construção de identidade, pertencimento e apoio mútuo. É a maternidade reinventada, que acolhe sem preconceitos e fortalece quem mais precisa.
Então, na próxima vez que você ouvir alguém ser chamado de “mother”, lembre-se: essa palavra carrega gerações de luta, amor e cuidado que moldaram a comunidade LGBTQIA+ que celebramos hoje.