Esporte, preconceito e direitos humanos
A declaração do técnico do Goiás Esporte Clube, Hélio dos Anjos, de que "ciúme de homem com homem é viadagem" e que " No time do Goiás ele não contrata homossexuais" é de um alto grau de preconceito e desrespeito aos direitos humanos de 500 mil cidadãos Gays que vivem neste Estado. Importante ressaltar que quando se vende um ingresso, ou um produto de marketing do Time do Goiás, ninguém pergunta ao consumidor se ele é homossexual, mas na hora de agredir, o técnico utiliza-se de seu preconceito homofóbico para humilhar, difamar e excluir ainda mais a comunidade gay.
A Ciência diz que existem três orientações sexuais (e não opção sexual ) na natureza humana: heterossexual (de pessoas que sentem atração por pessoas do sexo genital oposto), bissexual (de pessoas que sentem atração por pessoas dos dois sexos genitais) e homossexual (de pessoas que sentem atração por pessoas do mesmo sexo genital ). O movimento de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais – LGBT – calcula que 10% da população seja de cidadãos e cidadãs homossexuais. Os homossexuais masculinos são conhecidos por gays. Com exceção do desejo sexual-afetivo que sentem por outras pessoas do mesmo sexo, nada mais difere um homem homossexual de outro heterossexual. Portanto é preconceituoso dizer que não se admite jogador gay no futebol, no exército, na sala de aula, no consultório médico, na polícia, entre outros ambientes de trabalho.
Ciúme de homem para homem não é viadagem e nem pratica exclusiva de homens homossexuais. Um pai pode ter ciúmes do filho, um amigo pode ter ciúmes do outro amigo, um colega de trabalho pode ter ciúmes de outro colega, e todos eles podem ser heterossexuais. A homofobia (ódio de pessoas LGBT) leva a declarações como essa do técnico do Goiás Esporte Clube e tem raízes na cultura fortemente machista que prega a tese de que Homem não chora, não tem ciúme e nem contribui para atividades domésticas, abrindo exceção apenas para os gays. Estes mesmos machistas que pensam isso, normalmente acreditam que futebol, a vida pública, a política é coisa de homem heterossexual e que às mulheres e aos gays cabe a vida privada e os esportes que exijam mais arte que força muscular. Em pleno século XXI é duro ouvir declaração tão machista e homofóbica de uma pessoa que é paga para treinar um time como o Goiás e não para agredir a comunidade de Gays do Estado.
Existem homossexuais nos esportes, inclusive no futebol e se eles não se assumem é com o medo de serem demitidos por técnicos e dirigentes que pensam igual a Hélio dos Anjos. O preconceito é tão forte no futebol, que fez o movimento Internacional LGBT criar o Gay Games (Jogos Gays), mostrando para o mundo que existe preconceito nos esportes e que ele precisa acabar. Um problema tão grave como esse é o assédio sexual e moral feito por dirigentes, técnicos, massagistas e empresários de jogadores de futebol, que em troca da ascenção deles no time que treinam exigem favorecimento sexual. Se os conselhos tutelares, a Delegacia da Criança e do Adolescentes, o Ministério Público, pais e familiares de milhares de crianças e adolescentes jogadores de futebol, conversassem mais com eles, descobririam o alto índice de corrupção sexual no meio esportivo.
Se cada jogador que já sofreu o assédio sexual e moral de técnicos, dirigentes, massagistas e empresários fossem a Justiça cobrar reparação de danos morais, pelo assédio sexual, provavelmente os times de futebol brasileiros quebrariam nos pagamentos das indenizações. Esperamos que o técnico do Goiás, faça o seu trabalho treinando seu time e não jogando para os homossexuais a responsabilidade do péssimo desempenho de sua equipe.
*Léo Mendes – Presidente de Honra da Associação Goiana, de Gays, Lésbicas, Bissexuais , Travestis e Transexuais – AGLT liorcino@yahoo.com.br