Cena 1
Um grupo com cerca de 300 jovens estavam reunidos com cartazes no centro do campus da universidade pública. Estavam cansados de andar pelo espaço e ter de conviver com gente de cabelo enrolado que fuma cigarro natural. Também não aguentavam mais ver tantos corpos do mesmo gênero abraçado e trocando carícias a olho nu.
Resolveram que era hora de honrar a universidade que foi palco de tantas transformações e incitar outras. Reclamavam que já não tinham mais segurança, estavam com medo de seu blindado ser roubado. E quem pagaria? Resolveram chamar os homens fardados para que se unissem a aquela nova revolução. Era hora de transformar as linhas tortas em caminhos estreitos. Encheram o peito e iniciaram a sua revolução.
Estavam felizes, pois havia bastante fotografo e gente vestindo Polo, calça social, gravata, cabelo cortado e corpos opostos enamorados. Gritavam que não era mais possível tanto vagabundo circular pela universidade, que era preciso fechá-la e selecionar melhor quem fosse nela entrar. Aproveitaram também e convidaram o blogueiro higienista para discursar, que falou muito e gritou que era hora de calar a minoria.
Mais?
Cena 2
Cerca de 300 de pessoas estavam reunidas com as roupas mais diversas possíveis. Dizem que faziam encontro para política pública, mas também diziam que o serviço do café e do almoço era muito bom. Debatiam a direita e a esquerda, mas havia também aqueles que se diziam anarquistas, ou que não estavam nem lá nem cá. Argumentavam também que ali tinha muito mau caráter. Só não sabiam explicar a partir de qual método chegaram a tal conclusão clínica. Foucault deve saber.
Com o passar das horas as coisas e as falas ficavam cada vez mais confusas. Tinha computador pra tudo quanto é lado. Microfone também. Só não tinham encontrado a voz, esta estava escassa, ou mesmo cansada, talvez perdida na farsa. Envergonhada. Contavam também que vinham de longe, que balançavam, mas que batiam. Agora que forma de gesto se buscava, isso não ninguém sabia. Ou não entendia.
Próximo do fim do encontro, tudo estava muito cansado, muito confuso. Antes na esquerda, agora na direita, de anarquista para conservador em alguns minutos. Outras pessoas preferiram ir embora pra chegar mais cedo e aproveitar um pouco da televisão.
Conclusão
A barraca estava armada no Centro há mais de dez anos. Curiosos, um grupo de jornalista foi entrevistar a pessoa que nela ainda permanecia. A lona da barraca estava perfurada, as bandeiras desbotadas, o estomago vazio e a esperança… Já não se lembrava. Mas permanecia.
Faziam várias perguntas à pessoa que não tinha mais o que falar. Ficava olhando para os prédios, para as ruas sujas, para as latas furadas e abandonadas. Por que ainda permanece aqui? Depois de tanto tempo ainda acredita que as coisas vão mudar? Todos os outros foram embora, atrás de dinheiro e emprego, por que não fez o mesmo?
A pessoa ainda não conseguia responder. Lembrava dos vários livros que tinha lido, dos cadernos de anotação, das refeições coletivas, dos movimentos de outras línguas… Será que eles ainda resistem? Foram pra gabinetes? E de repente uma angústia nasceu na pessoa. As perguntas não paravam, ele não conseguia responder, a angústia aumentava. Ele não sabia o que era sentir isso desde que resolvera acampar lá no centro.
Os jornalistas curiosos foram embora e deixaram a angústia naquela pessoa. Iniciou um choro triste… Triste por que ele tinha as respostas, mas não tinha coragem de assumi-las.