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“Soldados não choram” denuncia corrupção, assédio sexual e homofobia nas Forças Armadas

"Se a cada despir e agachar fosse um ato sexual teria morrido de tanto prazer", diz um dos versos escritos pelo sargento gay Laci de Araújo no capítulo ‘Escrever, escrever’ do livro ‘Soldados não Choram’ – criado a partir dos depoimentos de seu companheiro, Fernando Figueiredo.

Além da história de superação dos dois sargentos, a publicação revela detalhes das humilhações que Laci, "o lado fraco do inimigo" – como descreveu Fernando em referência à doença de seu companheiro  -,  sofreu no período de 58 dias em que ficou preso por deserção. Proibido de falar e sem poder se desvincular do Exército, Laci ainda vive o seu filme de terror.

Os relatos começam em uma terça-feira (03/06/2008), após entrar em circulação a revista Época que trazia os sargentos gays na capa com a seguinte manchete: "Eles são do exército. Eles são parceiros. Eles são gays". Com a repercussão da reportagem de Rodrigo Rangel, os dois receberam uma ligação de Luciana Gimenez e um convite para participarem do programa ‘SuperPop’, da Rede TV!. Fernando e Laci seriam capturados pelos militares neste dia em "uma armadilha do programa para alavancar a audiência", revelou Fernando.

Na seqüência, o ex-sargento conta passo-a-passo seus procedimentos – tanto no sentido de se envolver com a militância gay, como no de procurar advogados e pedir ajuda ao Senador Eduardo Suplicy (PT-SP) – para impedir que Laci fosse preso. Antes de encerrar o livro, ele volta a tocar no assunto, mostrando detalhes do processo criminal e das acusações injustas contra seu companheiro, às quais não encontra motivos senão "homofobia".

Nas páginas do livro, Fernando também relata sua história de vida, seus sonhos, dramas e o motivo para ter seguido a carreira militar. "Eu precisava mostrar para o meu pai que era macho", diz.

Além de sutil e romântico quando aborda o medo que os soldados tinham em se relacionar com outros homens antes de se conhecerem, o livro denuncia sobre superfaturamento de materiais cirúrgicos, assédio sexual e homofobia dentro das Forças Armadas do Brasil, além de narrar a facilidade que os sargentos tinham para conseguir outros soldados e realizar transas a três, sempre que sentiam a necessidade de apimentar a relação.

‘Soldados não choram’ consegue romantizar a relação de dois homens que aprenderam com as rígidas regras do serviço militar a serem duros, mas mantiveram vivos os seus sentimentos. "Quem pode se opor à verdadeira força do amor?", indaga Fernando no Epílogo.

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