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“Somos marionetes nas mãos dos héteros que estão no poder”, diz candidato Léo Áquilla

"O deputado da gravata rosa". É assim que Léo Áquilla, um dos performers mais conhecidos do país, gosta de ser chamado quando está longe dos palcos.

Pela segunda vez, Léo tenta uma vaga na Assembleia Legislativa de São Paulo. A primeira vez foi nas últimas eleições, em 2006, quando a drag teve quase 22 mil votos, isso "sem estrutura, sem comitê e com apenas cinco amigos ajudando", diz.

Desta vez, Léo Áquilla, que concorre pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), espera ter apoio maciço da comunidade LGBT, que considera "mais politizada e confiante". Entre as principais propostas do performer, está um projeto educacional que ele chamou de "I.E. – Inteligência Emocional na formação do Indivíduo", disciplina que, segundo o candidato, ensinará aos estudantes "que somos diferentes e que todos merecem ser respeitados".

Confira abaixo nossa conversa com Léo, nesta primeira entrevista de uma série com presidenciáveis e candidatos a deputado estadual e federal nas próximas eleições.

Esta é a segunda vez que você compete por um cargo de deputado. O que você aprendeu com as derrotas passadas e que ideias novas apresenta desta vez?
Ao contrário de me sentir derrotado, vejo a campanha passada como uma grande vitória. Um candidato sem verbas, sem horário político na TV, sem estrutura, sem comitê e com apenas cinco amigos ajudando, ter quase 22 mil votos! Foi o que me incentivou a continuar lutando para ver gays no poder.

Como pretende financiar sua campanha?
Terei algumas "dobradinhas" com candidatos a deputado federal e cada um me ajudará com alguma coisa, no entanto, minha grande força esse ano vem da própria comunidade gay, que mais politizada e confiante, vai comprar a "briga" junto comigo. Vamos surpreender o planeta com uma votação extraordinária!

No âmbito federal, o PLC 122 está parado no Congresso. Você acredita que, se eleito, é possível pressionar por sua aprovação?
Acredito sim. O que todos precisam perceber é que apresentar um projeto é fácil, o grande desafio vem depois que é esbravejar por ele, se articular, conquistar corações, derrubar barreiras… Isso não é para qualquer um, precisa ser gay para lutar por um projeto gay.

Qual é a sua posição sobre a união civil e a adoção por casais do mesmo sexo?
Sou favorável, claro. Sou pai de dois meninos, um adotado e um biológico. São felizes, bem educados, amáveis e bem alimentados. Ser pai não é isso? Hoje eles têm 13 e 14 anos e dão um show quando o assunto é respeito à diversidade.

O que pensa sobre a descriminalização das drogas?
Não uso drogas, por isso é mais difícil opinar. Porém, aquilo é proibido é mais gostoso e causa mais curiosidade. A liberação para usuários poderia eliminar essa questão. Mas para liberar é preciso orientar, reeducar a população. A liberação banalizada sou contra. Vale ressaltar que o cigarro comum também causa grandes danos à saúde e aos cofres públicos.

Como pretende angariar votos da comunidade LGBT?
Isso é um trabalho que venho fazendo desde 2006. Em meus shows, na TV, na Rádio Metropolitana… Acredito na conscientização da nossa comunidade. Além disso, me preparei e estudei. Sou formado em jornalismo pela faculdade Anhembi Morumbi e estou terminando uma pós-graduação em política pela PUC. Se não acreditarmos uns nos outros, vamos nadar, nadar e morrer numa parada gay. Estamos virando marionetes nas mãos dos héteros que estão no poder. Todo mundo faz tudo que quer com a gente, fala aquilo que bem entende, mesmo que isso seja uma grande ofensa, como tem feito o bispo Malafaia, e ninguém faz nada? É hora de dar um basta e começar a calar a boca dos homofóbicos.

Que propostas específicas você tem para a população homossexual de São Paulo?
Vou lutar pelos projetos que já foram apresentados, só de maneira adequada. Talvez reapresentá-los com formato mais adequado. Apesar disso, não acredito que alguma lei vai obrigar alguém a me respeitar. Quem quiser me chamar de "boiola" nas ruas vai me chamar, quem quiser me olhar de maneira preconceituosa vai continuar olhando, e como vou processar isso? Se as leis não podem agregar respeito, a educação pode. Vou lutar por um projeto educacional que elaborei que se chama I.E. – Inteligência Emocional na formação do Indivíduo. A grosso modo, essa disciplina trata de ensinar que somos diferentes e que todos merecem ser respeitados. Ensina a tolerância. Paralelo a isso tenho projetos para nossa arte, nossa cultura e estou aberto a ouvir sugestões do meu eleitor.

Ao contrário de outras drags, você disse das outras vezes que não irá "montada" ao Plenário e foi criticada por isso. Continua defendendo essa postura?
Não entendo porque ser criticada por isso. O que querem então? Ir ao plenário montada seria incoerente já que personagens normalmente moram dentro de uma bolsa ou de um armário. É preciso conhecer o candidato como ele é, e não fantasiado e fervido! Já sofremos muito preconceito e uma postura errada pode colocar tudo a perder. Mas não existe mais tanta diferença entre eu e minha personagem já que diminui de maneira considerável a quantidade de maquiagem que usava. Então essa questão esse ano não será relevante. Não sou contra, apenas acho mais cabível ir de cara limpa, para conversar de igual para igual.

Quais são as suas propostas para combater a violência homofóbica no estado de SP?
Educação e reeducação da população, inclusive dos gays mais jovens. Há um conceito errado sobre homossexualidade na sociedade como um todo e, combater a homofobia, será tarefa árdua. A postura dos gays mais jovens, de querer se assumir cedo, é legal, mas de afrontar, é ruim para eles mesmos e para todos nós. É preciso preparar esses jovens para que não sofram retaliação imediata e não sejam pegos de surpresa no futuro, na faculdade, no mercado de trabalho…

O seu partido não tem candidato à Presidência. Em quem pretende votar?
Gosto da Marina Silva mas não votarei nela pelo fato de ser evangélica, já que os evangélicos somam 9% no Congresso enquanto nós, gays, ainda não temos poder representativo. Tenho receio que ela não queira ou não possa defender os projetos gays. Em relação ao PT, prefiro o rodízio de cadeiras, por isso descarto a Dilma. Acredito que essa mudança de tempos em tempos é mais adequada e rompe com a corrupção. Enfim, estou analisando o Serra ou esperando um milagre.

N.E.: Esta entrevista faz parte de uma série que o site A Capa pretende publicar nos próximos meses com candidatos à presidência da República, governador, senador, deputado estadual e federal.

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