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“Sou mulher transgênera, pastora e mãe de duas crianças”

A religião sempre foi parte essencial na vida de Alexya Salvador, 36, que só conseguiu se identificar como mulher depois de conhecer a igreja inclusiva da qual hoje é pastora. Em depoimento ao UOL Estilo, ela conta sua história.

"Quando subimos as escadas da igreja e nos deparamos com uma drag queen no altar animando os fieis, tive certeza de que havia encontrado o meu lugar. Olhei para os casais gays de mãos dadas e travestis que oravam e sorri para Robeto, meu namorado, explodindo de alegria, porque finalmente poderia viver minha fé.

Eu ganhava carrinhos de brinquedo dos meus pais, mas durante a noite pegava escondida as bonecas da minha irmã para brincar de casinha, sonhando com o dia em que seria mãe.

Na adolescência ficou tudo mais difícil, é claro. Enquanto meus colegas de escola me batiam e xingavam, eu odiava tudo o que os hormônios estavam fazendo com meu corpo. Ao mesmo tempo, eu tinha uma relação muito forte com a religião, sentia um verdadeiro chamado dentro de mim.

Então, no final do colégio, tomei uma decisão que uniria minha fé com uma tentativa de solucionar meus problemas: entrei para o seminário, seria padre. Nem preciso dizer que não deu certo, NE? Depois de quatro anos sem conseguir reprimir quem eu era, falei para mim mesma que não seria um desses padres que causam escândalo para a igreja e larguei o seminário".

Contei metade da história e me assumi gay

Assim que voltei para a casa dos meus pais, resolvi parar de me esconder. Chamei meus pais no quarto, fechei a porta e comecei a chorar. Mãe, pai, eu não sou como meus primos. Minha mãe disse que já sabia e eu respirei aliviada. Ia contar que sou mulher quando meu pai falou: Se você for veado, eu até aceito. Mas se vestir de mulher, eu mato. Minha coragem acabou ali, pelo menos me assumir gay já era um começo e acabei contando só metade da história.

Eu tinha 22 anos na época e, apesar de ainda ter de reprimir toda a minha vontade de poder ser uma mulher em todos os sentidos, agora podia viver a parte amorosa da vida. Tive alguns relacionamentos que não deram certo até os 28, quando conheci o Roberto.

Nossa história é coisa de filme: nos vimos pela primeira vez na estação de metrô da Sé, enquanto fazíamos a baldeação. Nossos olhares se cruzaram, ele veio me perguntar as horas, puxou conversa e nos apaixonamos. Mas eu voltei para o interior e namoramos por cinco meses à distância, até que em 2009 decidimos morar juntos.

Após quase dois anos juntos, tomamos a decisão de nos casar. Mas como a religião sempre foi importante para mim e eu estava afastada desde o seminário, resolvi procurar alguma igreja que fazia casamentos gays. E foi assim que descobri a Igreja da Comunidade Metropolitana, que abraça toda a diversidade de gente que existe!

Matéria originalmente publicada no UOL, para continuar lendo, basta clicar AQUI.

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