in

“Sou soronegativo e namoro um HIV positivo”

O estudante Lucas Patrick tinha 21 anos quando, em outubro de 2014, após um teste sorológico no hospital onde se encontrava internado para procedimentos cirúrgicos simples, descobriu ser portador do vírus HIV.

Em retrospecto, ele conta que naquele momento pensou que sua "vida tivesse acabado": "Foi um grande choque, tive muito medo. Me julgava morto, um lixo", declara. "Depois conheci a Rede de Jovem e compreendi que ter HIV não é o fim. Então passei a falar sobre HIV, sem medo dos julgamentos".

Lucas faz parte do grupo que mais tem preocupado organizações de saúde e de combate e prevenção ao HIV: os jovens. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, junto com as mulheres e os idosos, essa parcela da sociedade representa a maioria dos novos casos de infecção do vírus.

Uma explicação para esse aumento da incidência de HIV deve-se ao fato do tema ainda ser considerado um tabu na sociedade, um assunto pouco falado, mas extremamente estereotipado. Para as pessoas portadoras do vírus, pior que ser HIV+, é ter que conviver com o preconceito, principalmente na hora de se relacionar.

Resultado de imagem para pessoas com hiv

O estudante Carlos*, de 23 anos, conta que descobriu ser soropositivo em setembro de 2015, e desde então enfrenta dificuldades para revelar a sorologia a um potencial parceiro.

"Um questionamento muito comum na vida de uma pessoa portadora do HIV é sobre contar ou não contar para o parceiro (a) a respeito de sua condição sorológica", diz. "Se sim, em que momento: no começo, quando ainda não há um sentimento concreto e a rejeição doerá menos; ou depois, quando você está envolvido?".

Para a psicóloga Maria Hiroko Watinaga, que trabalha há mais de 20 anos com esse público, não existe uma "forma" de abordagem, "a pessoa tem que sentir em qual momento falar".

"Conversando antes dá para sentir se a pessoa está aberta para ouvir. Cada caso é um caso", aconselha. "Para muitos casais, a sorologia não é mais problema", afirma.

Resolvido com sua sorologia, Lucas Patrick mantém, há um ano e meio, uma relação sorodiferente (quando um dos parceiros é positivo e o outro negativo). "Quando a gente começou a namorar ele sabia da minha sorologia. Não temos problema com relação a isso, para nós é muito tranquilo vivenciar essa discordância", disse.

Com carga viral indetectável, Patrick afirma que, após conversa com seu parceiro, eles optaram por manter relações sexuais sem o uso do preservativo: "Usamos camisinha muito raramente, tivemos uma longa conversa e decidimos não utilizar. Ele faz o teste sorológico regularmente e nunca deu positivo".

A imagem pode conter: 1 pessoa Lucas Patrick, jovem soropositivo, militante de HIV/Aids

 

Ser positivo indetectável significa que a quantidade de cópias de vírus no corpo é insuficiente para transmitir o agente causador da moléstia. De acordo com informações da revista Aids, publicado em 2016, o indivíduo com sorologia positiva para HIV na condição de indetectável, além de não possuir quantidade suficiente do vírus no sangue, não detecta no líquido pré-ejaculatório de homens que fazem uso da terapia antirretroviral supressiva.

Para Ricardo Vasconcelos, médico infectologgista do Hospital das Clínicas da FMUSP, "Tirar a camisinha não é deixar de usar uma estratégia de prevenção, mas escolher a indetectabilidade como estratégia de prevenção".

"Se são casais que têm relacionamento fechado, ou que com terceiros usam camisinha, que se testam periodicamente, e que tem o soropositivo em tratamento com boa adesão obtendo carga viral indetectável, não existe contra indicação à retirada da camisinha", esclarece. "Existe uma literatura médica já publicada bastante robusta, que mostra que uma pessoa com carga viral indetectável deixa de transmitir o vírus por via sexual desprotegida", completa.

Ainda de acordo com o profissional, existem outros métodos de prevenção adotado por casais sorodiferentes,além do tratamento, como o uso da camisinha, e a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição), que impede a infecção de um soronegativo pelo HIV.

"Costumo dizer que é muito mais seguro você só transar com um parceiro sabidamente HIV positivo, mas que faz o tratamento certinho e é indetectável, pois você tem certeza de que não contrairá HIV dele, do que transar com um parceiro que desconhece sua sorologia", afirma Vasconcelos.

Assim como Lucas, muitos outros casais sorodiferentes, após diálogo e esclarecimento do assunto, decidem não fazer uso do preservativo.

A reportagem conversou com outros dois rapazes que mantém, ou mantiveram relações com sorologias divergentes, e os depoimentos você confere abaixo:

 

André*, 27 anos, químico

Conheci meu namorado em janeiro deste ano, através de um aplicativo de relacionamento. Por morarmos em cidades diferentes, passamos alguns dias nos conhecendo e conversando apenas de forma virtual. Nesse momento, ele ainda não tinha conhecimento de sua sorologia.

Depois de um mês teclando, resolvemos marcar um encontro para se conhecer pessoalmente. Fui até a cidade dele e passamos um dia juntos, onde dormimos. Apenas ficamos, não houve sexo.

Voltei para minha cidade e continuamos nos falando por WhatsApp. Passaram-se 30 dias e nos encontramos novamente. Foi quando o pedi em namoro.

Quinze dias depois, um ex-namorado dele ligou dizendo que havia sido diagnosticado com HIV, e como na época em que eles estavam juntos houve um episódio em que a camisinha estourou durante a transa, ele ligou avisando para que o Miguel* fizesse o teste.

O teste de Miguel deu reagente para HIV e sífilis. Foi um momento muito difícil, principalmente para ele, além do mais, havíamos iniciado um namoro há pouquíssimo tempo.

Quando ele me contou, disse-lhe que estaria ao lado dele para qualquer coisa. Então, ele fez os procedimentos para iniciar o tratamento e etc.

Passada essa fase de aceitação da realidade, tivemos nossa primeira relação sexual, com preservativo apenas na penetração. Ele sempre faz sexo oral em mim sem camisinha, e eu, quando faço nele, também é sem preservativo.

Sempre o acompanho nas consultas, até para saber como está a saúde dele, porque me importo. Há momentos em que ele se sente um lixo, uma bomba… aí a gente para, senta e conversa, então ele fica mais calmo. Confesso que tenho meus medos, mas procuro não ficar pensando. Na realidade, quando estamos juntos, eu particularmente esqueço de sua sorologia.

Como ele iniciou o tratamento recentemente, ainda não está indetectável. Desse modo, fazemos o uso da camisinha na penetração como forma de prevenção.

De mais, posso afirmar que somos felizes juntos.

 

Diego*, 28 anos, enfermeiro

O enfermeiro Diego, de 28 anos, viveu em um relacionamento sorodiscordante por três anos, quando, por motivos não relacionados à sorologia de seu parceiro, eles terminaram a relação. Confira abaixo o depoimento concedido pelo mesmo à reportagem, onde ele relata como foi essa experiência.

Quando eu conheci o Rafael*, não sabia de sua sorologia. Ambos somos da área da saúde: eu enfermeiro, ele médico. Foi um baque, por mais que eu trabalhe com saúde.

Naquele primeiro momento quando me contou, ele tinha receio de que me afastasse, entretanto, falei para mim mesmo 'pera aí, deixa eu entender o que está acontecendo'. Após absorver a notícia, ele me ensinou muito sobre o assunto. Me levou à casas de apoio aos portadores de HIV e clareou minha mente para o assunto.

DEPOIS QUE ENTENDI O QUE É O HIV, O MEDO PASSOU. TINHA MEDO DAQUILO QUE NÃO CONHECIA, ENTRETANTO, A INFORMAÇÃO CUROU MEU PRECONCEITO.

A partir de então, a sorologia dele passou a ser apenas um detalhe, quase não lembrado. Não atrapalhou em momento algum nossa vida sexual.

No começo, a gente transava com camisinha, até que ambos se sentissem mais à vontade. Ele já era indetectável na época, e passado um tempo, de forma consensual, a gente optou por não fazer mais uso da camisinha.

Devo salientar que, como profissional de saúde, minha recomendação é que, independentemente da sorologia, é sempre importante fazer uso da camisinha. Dito isso, é importante ressaltar que mantenho meus testes sorológicos em dia, até por causa da minha profissão, e sempre deu negativo.

***Nomes fictícios para preservar a identidade dos personagens que pediram para não serem identificados

É tudo ruivo! Modelo Seth Fornea posa completamente pelado para calendário de 2018

Que GROSSERIA! Vídeo de José Loreto se masturbando vaza na internet; assista