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Sou Trans_

Certa vez li a seguinte frase da filosofa Beatriz Preciado, “criaram as categorias para naturalizar umas e patologizar outras”. Considero uma das afirmações mais perfeitas desde as obras a respeito da historia da sexualidade de Foucault.

E amanhã é comemorado o Dia Nacional da Visibilidade Trans, que deveria ser comemorado por todos nós que vivenciamos sexualidades e experiências não reprodutoras. Pois, estamos naturalmente na categoria dos patologizados e também somos aqueles que sempre estão na mira da norma e dos “por que”.

Por que você é viado?

Por que você fala no feminino?

Por que você usa gravata?

Por que você joga bola?

Por que você usa vestido?

Ativo?

Passivo?

Só haverá tranqüilidade e menos paranóias quando as classificações homossexual, bissexual, heterossexual, enfim, quando todos os tipos de norma que visam enquadrar os sujeito em algum tipo de ação, seja afetivo ou sexual, caírem em desuso. Por enquanto continuamos a ser obrigados a responder a expectativas dentro de cada norma/ classificação comportamental sexual.

Engana-se quem pensa que as mesmas instituições que normatizam a categoria heterossexual não faça com sexualidades outras. A partir do momento em que não foi mais possível extirpar as sexualidades não reprodutoras e não patrimonialistas da sociedade pensa-se de que maneira “podemos controlá-los”. E assim todo um aparato se comove para nos tornar mais “higiênicos”.

E assim vamos vivendo dentro das paranóias da homofobia internalizada, que muitas vezes nos leva a misoginia às mulheres e às travestis e transexuais, por que estas ultimas estão no limite do rompimento com o bom comportamento. É fato que parte delas ainda opta por viver dentro do padrão da constituição familiar. Assim como muitos gays ainda tem ojeriza por serem tratados no feminino ou ser chamado de bicha.

Ainda somos massacrados pelas normas.

Por isso foi com tesão que entrevistei a meses o cartunista Laerte. Grande sujeit@ que está dando bofetadas na cara desta sociedade careta e reprimida. Nos revela o quanto o guarda-roupa nos reprime e nos impõem papel: de cores e de peças. Me senti tão pequeno perto  daquela pessoa e ao mesmo tempo tão incentivado…

O trabalho de desconstrução das identidades pré-estabelecidas pelas instituições pode começar pela roupa, pelas cores, pela não definição de ativo-passivo (reprodução mor do estilo de ser reprodutor: penetra, recebe, engravida), pelo artigo usado na fala etc. Já que abri com uma citação da minha amiga Preciado, fecho com ela, “as sexualidades são como as línguas, podemos aprender várias”.

Tudo é uma questão de treino.

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