in

Também somos filhos, ou filhas, de Deus

Esta semana teve o Dia Internacional de Combate a Homofobia e também aconteceu a II Marcha Contra a Homofobia, em Brasília, organizada pela ABGLT, por ONGs, entidades e diversos cidadãos que caminharam na intenção de mostrar aos governantes a importância da aprovação de uma lei que criminaliza o preconceito contra a população LGBT. Aliás, parabéns e muito obrigada a todos que estiveram na capital do país levantando as cores do nosso amado arco-íris…

Num país como o nosso, onde estamos bem atrás – comparados com nossos hermanos – no que se refere às conquistas dos direitos dos homossexuais e, sobretudo, num país onde a religião tenta a todo custo barrar estes avanços (até hoje não entendo a troco de quê!) a discussão sobre os direitos dos homossexuais e a criminalização da homofobia parece que vai longe.

Dos meus 14 anos até os 24 (número cabalístico), fui um fiel seguidor da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui catequista, preparava a liturgia da missa, ensaiava os cantos e hinos de louvor, fazia parte da Renovação Carismática e adorava o Padre Marcelo (acreditem, eu usava até aquelas camisetas com imagens religiosas, sabe?). Hoje não suporto ouvir a voz do padre, o tal Marcelo, principalmente depois do que ele fez com o Jorge Lafond, a eterna Vera Verão, no programa do Gugu. Mas confesso, já cantei e dancei muito aquela músiquinha: "Erguei as mãos e dai glória a Deus…"

Na verdade, a minha saída da igreja não foi tão repentina. Ela foi um processo, aos poucos, em doses quase homeopáticas. Eu sempre fui muito curiosa e crítica e não aceitava, muito facilmente, o que a igreja dizia através dos seus ministros em relação a minha sexualidade. Por isso, desde muito cedo, mesmo membro ativo (e passivo) da igreja… Ai, mona, cada baphô… Enfim, mesmo participando dos ritos da Santa Madre Igreja, eu a questionava, sobretudo neste ponto, que era onde o calo me apertava… Aliás, nunca me encaixei muito bem no papel de mula de presépio!

O fato é que, com o tempo, fui percebendo que Deus e religião eram coisas totalmente dissociadas, e que eu poderia muito bem ter acesso ao Criador sozinha, sem a necessidade de um intermediador, de um porta-voz ou qualquer babado que fosse. Aliás, essa coisa de intermediadores entre a divindade e a humanidade nos leva à pré-história, quando os mitos todos foram ritualizados e aí era preciso que alguém conduzisse tais ritos criados. Mas é uma longa história que podemos deixar para outra oportunidade.

No entanto, na época que eu era um fiel cordeiro (hoje tô mais pra gazela!), uma das coisas mais sem sentido, que eu percebia, dentro do Catecismo da Igreja Católica é a questão da homossexualidade. Segundo este documento, os homossexuais são pessoas chamadas à castidade, pois a prática da homossexualidade seria um pecado, uma aberração. Segundo a igreja, Deus ama o homossexual, mas não ama a homossexualidade. Esta frase é até um clichê nas igrejas e nos grupos religiosos. Cansei de ouvir isso… Agora, eu me pergunto: alguém é homossexual sem praticar a homossexualidade? Seria a mesma coisa dizer que eu sou Palmeirense, sem nem torcer para o time… Estranho isso.

Na verdade, o clero se baseia em alguns trechos bíblicos para poder classificar a homossexualidade como "aberração". Mas consideremos algumas coisas: 1. o próprio Vaticano, através de seu catecismo, afirma que não existe nenhuma base científica que comprove as causas da homossexualidade e que eles se baseiam unicamente, guiados pela fé, nas escrituras sagradas; 2. Tantos outros trechos bíblicos, que estão junto com os que falam contra a relação entre dois homens, são completamente desconsiderados pelas igrejas, por exemplo, trabalhar ao sábado (que dependendo do caso, poderia ser motivo de condenação de morte); 3. A bíblia, diferentemente do que dizem muitos religiosos, não é palavra de Deus, mas sim um livro de fé onde existem textos (cuidadosamente selecionados) onde são descritas as experiências do "povo de Deus" com o seu próprio criador – como disse uma vez um padre, que é além de sacerdote, professor universitário de teologia e filosofia "Deus nunca escreveu nada… Ele não tem fax, não tem e-mail, não tem nem uma caneta bic. A Bíblia é tão somente, e assim deve ser vista, como um livro de fé, que conta a trajetória de um povo, num determinado espaço e num determinado tempo".

Não percamos de vista que, o maior problema na leitura da bíblia, é a interpretação que se dá as leituras. Existem duas formas de interpretá-las: aos olhos da fé, acreditando-se cegamente em tudo o que está escrito, da forma que está escrito e; de uma forma histórica/crítica, tentando contextualizar os textos ao povo e época em questão e não, simplesmente, adaptando os mesmos textos de 5 mil anos atrás, para os tempos de hoje. Eu, particularmente, fico com a segunda. E é justamente por esta interpretação que eu não vejo a menor necessidade de freqüentar uma denominação religiosa (seja ela qual for), mas respeito e apoio quem tem esta necessidade. Afinal, a crença religiosa é protegida por lei.

Enfim, teria tantos outros argumentos para falar aqui, mas o texto tá ficando grande e daqui a pouco o Paco dá um grito comigo! (brincadeira). Ele é um fofo e nunca me censurou ou me editou. Mas, para terminar este post, vou deixar o pensamento de um bispo católico que diz: "A Bíblia é como um farol. Se utilizada de forma correta ela serve para iluminar nosso caminho. No entanto, se deixarmos que esta luz se volte contra nossos olhos, então ficaremos cegos".

Tá dado o recado…

Beijo, beijo, beijo… Fui…

Documentário sobre moda traz depoimentos de Herchcovitch, Tufvesson e Clodovil

Assista ao vídeo da campanha do Rio para atrair os turistas gays gringos