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“Temos que andar juntos com os partidos”, diz vereador gay Sander Smaglio

Sander Smaglio (PV) foi eleito vereador pela cidade de Alfenas no ano passado. Convidado pela organização do III Congresso da ABGLT a palestrar, o político concedeu uma entrevista exclusiva ao site A Capa.

No bate-papo com a reportagem ele defende que a militância gay se politize e se aproxime mais dos partidos políticos para, dessa maneira, ocupar os espaço de decisões de políticas públicas e assim avançar a questão gay no que tange o legislativo.

O mineiro tambem se mostrou contrário à proposta de Luiz Mott, antropólogo e fundador do Grupo Gay da Bahia, que defendeu que LGBTs "matem em legítima defesa". Para o vereador "não é assim que vamos conquistar a paz". "Daqui a pouco vão querer propor um projeto para financiar armas e eu sou totalmente contra", declarou. Na entrevista ele também revela que almeja chegar a prefeitura de sua cidade e que sairá candidato a deputado pelo Estado de Minas Gerais. Confira a seguir entrevista na íintegra.

Como os vereadores de sua cidade receberam o seu mandato?
Nós temos uma grande vantagem pelo trabalho anterior feito, não só na militância gay mas, sempre militei na questão dos Direitos Humanos. Por isso cheguei na Câmara com muito respeito. Inclusive fui eleito o primeiro secretário da mesa. Então, chegamos com certo respeito devido ao trabalho anterior. Isso, independente de ser gay ou hétero.

Como é a questão da homofobia em Alfenas?
Alfenas é uma cidade interiorana de 70 mil habitantes do Estado conservador que é Minas Gerais. Tem uma vantagem por ser uma cidade universitária e por isso tem uma cabeça mais aberta. Mas o movimento gay organizado de lá, que já tem nove anos, fez com que a cidade repensasse essa questão. Hoje Alfenas tem muita informação sobre o movimento gay e direitos humanos. Nós temos uma revista (Diversidade) que mantém o pessoal atualizado, temos a semana da diversidade que, além da parada, fazemos uma série de debates e estamos juntos com o movimento negro, de mulheres, conselhos municipais. Então a homofobia em Alfenas não é tão gritante como em outras cidades e acho que prova de que a cidade não é tão homofobica é que elegeu um vereador gay. E eu acabei de entrar com projeto, no dia 6 de abril, que cria o dia municipal de luta contra a homofobia.

Acredita que será aprovado?
Acredito que passa porque parte de um vereador sério, porque tenho uma história de luta. Não cheguei do nada. Então, por conta disso, acredito que passa tranquilo.

O que você achou da campanha do Luiz Mott, "Mate em legitima defesa"?
Sou contra. Se a gente quer paz não é assim que vamos conquistar. Daqui a pouco vão querer propor um projeto para financiar armas e eu sou totalmente contra. Nós só vamos vencer a homofobia com políticas públicas e o principal para mim é que nós precisamos nos organizar mais, nos politizar mais, demarcar território, se aliar a partidos. Pois, quem define política pública são os parlamentares e se você não está dentro das Câmaras e Assembleias não acontece nada. Começa um congresso e termina e nada acontece. Precisamos participar da vida política do pais e para isso você tem que estar inserido na política. O que não podemos deixar acontecer é o discurso de governo tomar conta da gente. Por exemplo, se na Câmara de Alfenas não tivesse um vereador gay, será que teríamos um projeto para criar um dia contra a homofobia?

Gay deve votar em gay?
Não devemos votar em gay por ser gay. Antes de eu ser eleito nos tínhamos um gay candidato em Alfenas que era uma figura folclórica, uma figura caricata e nós do movimento gay não apoiamos e não votamos. Ele foi eleito e nunca falou a palavra gay na Câmara. Foi eleito com 3 mil votos e quando tentou a reeleição teve 200. Por isso eu não voto em gay por ser gay. Temos que votar em gay ou em hétero compromissado verdadeiramente com a nossa bandeira. Mas é difícil eleger candidatos do movimento gay, de todos que foram eleitos o único do movimento sou eu. Você pode observar que a Moa e a Léo Kret são figuras caricatas.

Você almeja ser prefeito?
Com certeza. Em 2010 sou candidato a deputado Estadual pelo Partido Verde (PV).

Como é a questão gay no PV?
É muito nova e inclusive eu estou fundando em Alfenas o setorial LGBT do Partido Verde. O PV fora do Brasil é mais moderno. Agora no Brasil é muito novo porque os militantes não estão dentro dos partidos e quando estão, estão dentro dos partidos de esquerda: PT, PSTU, PSOL e PCdoB. E, no PV, nunca sofri nenhum preconceito e sou sempre convidado a participar de ações. Enquanto eu ser candidato a figura do Sander gay será uma lembrança de que o movimento está vivo.

Há uma parcela do movimento gay que prega o apartidarismo. O que você acha disso?
O nosso movimento tem uma parcela muito radical de que nós não devemos estar próximos de partidos. É claro que nenhuma Ong deve ser partidária, mas os militantes dessas organizações têm que tomar as suas posições e seria ótimo se dentro uma Oong tivesse um do PV, do PT e do PSTU. Nós temos que tomar as nossas posições e nossos lados. Inclusive para ocuparmos nossos espaços. Para isso você precisa do partido. Temos que andar juntos com os partidos. Veja os evangélicos, eles são maioria nas assembleias. E se eles estão crescendo, nós também temos que crescer e nos organizar em frentes.

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