O sexo move o mundo. Poder e sexo caminham juntos. Tais afirmações partiram de dois filósofos que mudaram o prisma a respeito da questão. A saber, Sigmund Freud e Michel Foucault, respectivamente. Ambos se debruçaram sobre o tema com a intenção de mapear a movimentação dos corpos em torno deste assunto que move não apenas a condição humana, mas também o mercado.
Dentro deste universo, principalmente no trabalho de Freud, destaca-se a questão do fetichismo. Conceito muito utilizado popularmente. Mas qual é o significado do termo? Sabe-se que o fetichismo implica na prática sexual para além daquela conhecida como “papai – mamãe”, são sujeitos que focam o seu tesão em objetos, partes específicas do corpo, voyeurismo e locais inusitados, que não se limitam a um quarto.
E é sobre este fetiche que a reportagem se debruçou. Para tentar entender (ou não) o motivo de pessoas buscarem o prazer em vias públicas, ou em locais que o risco de ser flagrado e preso (sim, no Brasil sexo em locais públicos dá cadeia) é o motim para a excitação.
Conversamos com M*., 24 e E*. 28, dois jovens gays que resolveram contar um pouco para a reportagem sobre locais onde realizaram fantasias sexuais e os motivos que os levam a realizar tal fetiche.
E. relata que o motivo propulsor a realizar sexo em locais que não seja um quarto é a “emoção de fazer o sexo com a possibilidade de ser pego”. Ele conta que “há uma adrenalina do medo com o tesão”. Para M. os motivos mudam um pouco e tem mais relação com a ansiedade do gozar. “Podem dizer que são vários motivos, adrenalina, risco de ser pego… Mas para mim é simplesmente o tesão de não querer esperar chegar em algum local mais apropriado”, conta M.
Ambos os entrevistados contaram que tal prática se dá apenas com parceiros fixos, já que o ato envolve riscos e fazer com estranhos pode ser ainda pior. Por isso, ambos preferem pessoas conhecidas, pois há “mais confiança”.
“Já transei em uma festa da faculdade. Em cima do telhado. A festa estava rolando e havia um andaime por trás do prédio. Subi com o meu namorado e transamos no telhado enquanto rolava a festa no pátio; Uma vez transei no parque da Cantareira, perto de uma das trilhas. Quase fui pego; Transei dentro de um carro no Ibirapuera e também já transei em um dos corredores da UnB (Universidade de Brasília)”, relata E., sobre suas experiências mais inusitadas.
M. também nos conta um pouco dos locais onde transou. “Já fiz sexo dentro de uma caçamba de entulho na rua, no provador da C&A, na pista da balada, na praia, no carro parado dentro de um estacionamento do shopping, no cinema… Em vários lugares”, se diverte o entrevistado.
M. diz que foi dentro do provedor da C&A o local que mais gostou de transar. “Primeiro por conta de todo o ambiente em volta e o risco de ser pego. E também pelo fato de ser a fantasia de muita gente, isso me excitou muito”, se vangloria M., que nos conta que não gosta de atuar como voyeur. “Prefiro que me assistam transando do que assistir os outros”, diz ele. Já E. revela que gostou mais de transar no “Parque da Cantareira e apesar de ser somente matagal, era de dia, um clima super agradável e algumas pessoas passavam perto, mas não comprometiam a transa”.
Os personagens da matéria contam que ainda prevalece um certo preconceito em torno disso. E. diz que mesmo entre os seus amigos “íntimos” é tido como a “puta” por fazer tais práticas. Já M. diz que apesar da aparente modernidade as pessoas ainda julgam tal prática como “sexo sujo”. Mas e aí, qual é a diferença entre o sexo em vias públicas e o praticado entre quatro paredes?
“Acho que é o ritmo. Enquanto em locais públicos não dá para estender muito o tempo, entre quatro paredes o tempo não tem limite. Você pode ir mais devagar, com calma e fazer bem as preliminares”, diz E. “O sexo em local público geralmente é mais animal, rápido, feito mais no impulso… ou impulsionado por bebida, já entre quatro paredes pode ser aquela coisa mais romântica, uma coisa preparada, já esperada pela pessoa. Acho que ambas as práticas tem o tesão, cada um o seu estímulo, mas não acredito que uma seja melhor que a outra”, finaliza M.
*Os nomes foram alterados a pedido dos entrevistados
**Matéria publicada originalmente na revista A Capa #51, de novembro de 2011.