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Teste rápido de HIV: sou contra

A imprensa noticiou esses dias que o Ministério da Saúde aumentou em 20% os recursos para prevenção e diagnóstico das DST/AIDS e hepatites em comemorações do Orgulho Gay no ano de 2010. O Governo Federal investirá R$ 1,2 milhão para financiar projetos neste sentido.

O teste rápido de HIV já foi realizado em outros eventos de grande concentração popular como as Paradas do Orgulho, Semanas da Diversidade e na São Paulo Fashion Week. Os defensores deste tipo de ação dizem que os testes seguem protocolos sérios e eficazes do Ministério da Saúde, como a testagem voluntária, o pré e o pós aconselhamento e o sigilo.

Não há, até o momento, consenso na militância LGBT sobre este tipo de ação. Ao contrário, um grande debate se instalou e os militantes estão tomando seus lugares. Como militante e como líder espiritual de uma denominação cristã cuja maioria é LGBT, também tomo meu lugar neste debate e digo: sou contra.

Sou contra porque creio que o contexto de uma festa "carnavalesca" e alegre como são as Paradas do Orgulho LGBT não são lugares apropriados para este tipo de ação, que pode acabar, dependendo do resultado do exame, em choro, depressão e coisa bem pior. Imagine-se recebendo um resultado positivo neste contexto, colocando-se no lugar do outro, e então saberás se você é a favor ou contra este tipo de intervenção.

Sou contra porque ambientes como as Paradas não são propícios ao aconselhamento pessoal eficaz, seja pré ou pós testagem. Muitos são os fatores que podem levar um sujeito, neste contexto festivo, de realizar o exame: brincadeiras de amigos que pressionam, efeitos do álcool que deu mais coragem para realizar um teste há muito adiado, "prova de amor", pois você pode ter conhecido um carinha que fez e que deu negativo e então sonhando com o amor eterno ele também te pede para fazer, etc. Duvido muito e tenho razões para duvidar que aconselhamentos sejam eficazes neste contexto.

Sou contra porque o objetivo das Paradas do Orgulho é celebrar nossa existência e denunciar as mazelas que assolam a comunidade LGBT do Brasil, além de ser espaço para reivindicações políticas. Longe está o clima de sala de espera de um CTA ou de um hospital referência em AIDS que são os lugares adequados para fazermos os exames.

Sou contra porque sei a crise existencial que se instala no ser humano assim que recebe o resultado positivo; ninguém recebe isso abrindo uma garrafa de prosecco italiano e dança ao ritmo de Lady Gaga. Conheço seres humanos que até o presente momento vivem a crise desde que souberam há um, dois e até mesmo três anos após o teste. Sabemos também que isso é consequência da falta de informação, da "aidsfobia", da imaturidade emocional do sujeito e de outros fatores que colaboram para a crise.

Porque não continuar com as ações de prevenção no sentido de distribuir folhetos informativos, camisinhas, gel lubrificante e outros? Isso sim pode e é eficaz num contexto de uma Parada do Orgulho LGBT, mas sinceramente não vejo como um teste rápido de HIV pode contribuir para uma festa como são nossas Paradas.

Aconselho a todos a realização do exame; saber nossa sorologia de HIV é importante para uma vida de qualidade, além de contribuir para o bem estar social; contudo, não aconselho a ninguém a realização nos moldes que estão implementando nas Paradas do Orgulho LGBT e outros eventos LGBT; considero um equívoco a testagem rápida e peço publicamente que o Ministério da Saúde reveja esse tipo de ação. Sei que não estou sozinho, militantes históricos, além do nosso decano, o Professor Dr. Luiz Mott, são contra a testagem rápida.

Por fim, mas não menos importante, quero aconselhar a você que há muito adia um teste de HIV com medo da verdade: procure um CTA, faça o exame, ali você terá todo o auxílio de que precisa para enfrentar um resultado seja qual for. Previna-se. Use camisinha, assim fazendo, cumprirás o mandamento de amar ao próximo como a ti mesmo, além de se amar também. Sexo seguro é um ato de amor.

* Márcio Retamero, 36 anos, é teólogo e historiador, mestre em História Moderna pela UFF/Niterói, RJ. É pastor da Comunidade Betel do Rio de Janeiro – uma Igreja Protestante Reformada e Inclusiva -, desde o ano de 2006. É, também, militante pela inclusão LGBT na Igreja Cristã e pelos Direitos Humanos. Conferencista sobre Teologia, Reforma Protestante, Inquisição, Igreja Inclusiva e Homofobia Cristã. Seu e-mail é: revretamero@betelrj.com.

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