Menu

Conteúdo, informação e notícias LGBTQIA+

in

Tiros em Realengo

O Brasil inteira lamenta o assassinato de 11 crianças com idade entre 11 e 15 anos no colégio municipal Tasso de Oliveira, em Realendo (RJ), onde foram assassinadas a sangre frio pelo ex-aluno da escola Wellington Oliveira, 23. Ficamos atordoados, pois nunca tínhamos vivenciado tal fato em terras brasileiras.

Mas eis que hoje o portal G1 publica uma entrevista com um ex-colega de Wellington, Bruno Linhares, 23. O estudando conta à reportagem que  Wellington era introspectivo, sempre “zuado” na escola e que era considerado o “bobo” da turma. Também contou que ele era sempre o aloprado e que os outros colegas o consideravam gay, visto que ele sempre andava com um outro amigo, “não se desgrudavam”, nas palavras de Bruno. Mas, até agora não há qualquer indício de uma possível homossexualidade.

Após ler a entrevista citada acima, inevitavelmente veio a mente o massacre de Columbine, que aconteceu em abril de 1999. Os estudantes Eric Harris, 18, e Dylan Klebold, entraram no colégio e assassinaram 12 estudantes com idade entre 14 e 19 anos e depois se mataram, assim como no Brasil. Da mesma maneira, a sociedade norte – americana ficou chocada e os colegas não entendiam, “por que dois estudantes pacatos fizeram aquilo?”.

O documentarista Michael Moore, que também ficou intrigado com o caso foi pesquisar, mas a partir de uma interessante perspectiva: como aqueles dois adolescentes tiveram acesso às armas? Eis que Michael Moore nos revela uma cultura da arma, onde pais ensinam os seus filhos a atirarem aos 14 anos e pasmem: lá você consegue comprar armas pela internet e foi assim que os dois jovens obtiveram. Depois, o documentarista vai alem, e as balas, onde conseguiram? No Wall Mart.

Em uma cena antológica, Moore reúne parte dos pais dos jovens assassinados e os leva a uma rede do Wall Mart no condado de Jefferson que fica no colorado, local onde ocorreu o massacre. Na loja Moore apresenta os pais ao gerente e diz que os seus filhos foram mortos pelas balas ali vendidas. Após o ocorrido, a rede parou de vender balas em suas lojas. Porém, mais uma coisa se descobriu no caso: os dois jovens eram vitimas de bullying. Eram tratados como nerd e gays na escola. Sacou?

Tanto em Columbine quanto em Realengo assistimos a vingança de jovens que foram oprimidos e desacreditados da sociedade. Sabemos que alguns cometem suicídios, e outros resolvem se vingar matando aqueles que o humilharam. O que temos é um problema social e pedagógico. Os jovens estudantes não são assistidos e nem acompanhados. As escolas vivem na lógica do capital, ou seja, do mais forte, ambiente hostil e que incentiva a competição e o ódio.

Também fica claro o fácil acesso que os jovens têm as armas. Na época do plebiscito do desarmamento, 80% da população votaram contra, alegaram que tinham o direito de se defender. E agora, eles querem continuar a se defender? E os meios de comunicação que detonaram com o desarmamento, por que não voltam ao tema e defendem o quão bom é andar armado por aí?

Vão dizer que de qualquer maneira pode-se comprar arma no mercado ilegal. Mas, além disso, assim como nos Estados Unidos vivemos sob uma cultura da arma como símbolo de força e proteção. Columbine não foi o último caso de massacre de jovens feito por outros jovens e Realengo também pode não ser o ultimo.

Sair da versão mobile