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Toni Reis

No final de abril, foi lançado em reunião em uma reunião no Rio de Janeiro, o Manifesto do Coletivo de Mulheres da ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais). O documento reúne demandas de mulheres lésbicas, bissexuais e transexuais e visa, entre outros objetivos, “garantir a incorporação do feminismo no cotidiano, nas formulações e nas prioridades da ABGLT. É preciso garantir a participação efetiva e os espaços de atuação das mulheres lésbicas, bissexuais e transexuais”.

Toni Reis, homem gay e atual presidente da ABGLT, conversou com o Dykerama.com sobre a situação das lésbicas no movimento em defesa da diversidade sexual no Brasil. Segundo ele, é muito positiva a mobilização das mulheres, sejam elas lésbicas, bissexuais ou trans. “O machismo é base de vários preconceitos e discriminações, incluindo a que os homens gays e bissexuais sofrem. Por isso, a mobilização das mulheres a favor da incorporação do feminismo é fundamental para o todo o movimento GLBT”, afirmou.

Toni lembrou que no final da I Conferência Estadual GLBT do Paraná foi anunciado, para agosto deste ano, o II Seminário Paranaense de Lésbicas (Sepale), que pretende tratar principalmente dos temas Violência e Saúde. “A lesbofobia ainda permeia nossa sociedade, sendo responsável pelo preconceito e pela discriminação no local de trabalho, na escola, na igreja, na rua, no posto de saúde ou em qualquer outro lugar”.

Para Toni, é a lesbofobia que provoca a ausência de políticas públicas afirmativas que contemplem as mulheres que gostam de mulheres. “Pesquisas mostram que cerca de 34% das lésbicas não realizam exames ginecológicos de rotina devido ao mau tratamento que recebem por parte dos profissionais de saúde. É preciso mudar esse quadro por meio da educação, da cultura e, sobretudo, por ações dos três poderes que defendam o direito das mulheres independente da orientação sexual”.

“A atual missão da ABGLT é promover a cidadania e defender os direitos de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais, contribuindo para a construção de uma democracia sem quaisquer formas de discriminação, afirmando a livre orientação sexual e identidades de gênero”, diz Toni. “A instituição tem como visão unir esforços para a conquista de uma Sociedade Igualitária. Para isso, uma de nossas linhas prioritárias é a capacitação de lideranças lésbicas em direitos humanos e advocacy”.

De acordo com o presidente da ABGLT, atualmente há nove redes nacionais defendem os direitos dos homossexuais, entre elas a ABL (Articulação Brasileira de Lésbicas) e a LBL (Liga Brasileira de Lésbicas) e o Coletivo Nacional de Lésbicas Negras. “Há alguns consensos entre essas organizações”, afirma. “Este ano deve ser realizado o 13º Encontro GLBT. Nesses Encontros têm sido tiradas algumas plataformas, por exemplo, a criminalização da discriminação homofóbica unifica o movimento, a união civil e também a implementação do Programa Brasil Sem Homofobia. É claro que sempre haverá divergências, por questões ideológicas, partidárias, etc., mas procuramos dentro do limite sempre manter o respeito”.

No próximo sábado, dia 24 de maio, Toni Reis estará presente na Caminha Lésbica de São Paulo. Se quiser conhecê-lo, é só aparecer.

Leia a íntegra do Manifesto do Coletivo de Mulheres da ABGLT:

Nos dias 25 a 27 de abril de 2008, as mulheres lésbicas, bissexuais e transexuais presentes e reunidas na cidade do Rio de Janeiro para a realização do Seminário II Fortalecendo, Articulando e Informando Mulheres Lésbicas, Bissexuais e Transexuais percebemos a necessidade de construir uma nova opção política.

Estamos em um novo momento político da história de nossa entidade nacional. Nos últimos anos, o movimento LGBT vem amadurecendo e temos superado alguns desafios importantes, sobretudo no funcionamento e representatividade da ABGLT.
Esse novo momento permitiu, por exemplo, a recente adesão de dezenas de organizações a nossa Instituição, não só novos grupos, mas alguns com trajetória historicamente consolidada.

Contudo, restam desafios importantes. Um deles é garantir a incorporação do feminismo no cotidiano, nas formulações e nas prioridades da ABGLT. É preciso garantir a participação efetiva e os espaços de atuação das mulheres lésbicas, bissexuais e transexuais.
Porque construir uma nova rede?
Nós mulheres participantes do II Fortalecendo propomos a nossa reorganização dentro dos espaços políticos e representativos da nossa organização nacional, pois entendemos que estamos num momento onde se faz necessário uma rediscussão sobre a organização do movimento LGBT no Brasil e neste processo se faz necessário um projeto feminista para a nossa entidade.

A ABGLT é reconhecidamente a maior rede LGBT da América Latina, portanto, não obstante a isso, nós mulheres da ABGLT tensionamos a legitimidade de sermos também a maior rede de mulheres do movimento LGBT.
Concomitantemente, uma vitória especial foi o início do projeto SOMOSLÉS, em que pela primeira vez, capacitamos, de maneira nacional, simultânea e articulada, centenas de novas ativistas.
Nova forma de organização interna:
As signatárias deste texto e outras militantes com as quais vimos dialogando, entendemos ser prioritário impulsionar a organização das mulheres na ABGLT. Isso, para nós, deve ser feito de forma compatível com o novo momento político.
Com isso, estamos neste manifesto criando, lançando e formalizando o COLETIVO DE MULHERES DA ABGLT.
Reconhecemos a ABGLT como a principal e maior organização nacional do movimento LGBT brasileiro. E dentro dessa perspectiva, acreditamos que o Coletivo de Mulheres da ABGLT cumprirá um papel de grande importância.
Apresentação do COLETIVO DE MULHERES DA ABGLT:
Missão:

Somos o Coletivo de Mulheres Feministas da ABGLT que visa garantir o combate a todas as formas de opressão, discriminação e violência, bem como o enfrentamento ao machismo, racismo e homofobia.

Visão:

Ser a maior rede unificada de mulheres feministas do movimento LGBT do Brasil.

Valores:

Horizontalidade;
Ética e Transparência;
Respeito;
Compromisso com a missão;
Enfrentamento ao machismo, racismo e a homofobia;
Visibilidade geracional;
Respeito à autonomia aos Direitos Sexuais e Reprodutivos; e
Laicidade.

Objetivos:
Visibilizar as mulheres da ABGLT;
Garantir espaços políticos de representatividade nacional, controle social e valorização das mulheres da ABGLT, garantindo a equidade de gênero;
Fortalecer a legitimidade da ABGLT como representante do conjunto do movimento LGBT brasileiro, inclusive fazendo-se representar pelas diversas mulheres do Coletivo nos espaços nacionais de articulação política, controle social, conselhos, etc;
Impulsionar a organização interna das mulheres na ABGLT, sua comunicação, articulação, capacidade de formulação e intervenção externa;
Fortalecer as organizações de mulheres que compõem o Coletivo;
Fortalecer as mulheres em organizações mistas, respeitando a representatividade, combatendo o machismo institucional;
Participar e influenciar nos processos de negociação nas matérias de direitos humanos e anti-discriminação por orientação sexual e identidade e expressão de gênero na ABGLT, no cenário nacional e em qualquer instância internacional perante as quais possamos ter uma posição das mulheres lésbicas, bissexuais e transexuais brasileiras sobre essas matérias;
Articular e capacitar ativistas lésbicas, bissexuais e transexuais na apresentação de projetos e captação de recursos junto aos órgãos governamentais, para ações de combate ao machismo, racismo, sexismo, misoginia, adultismo, homofobia e para a promoção da cidadania das mulheres;
Organizar a participação das mulheres da ABGLT nos processos decisórios da Instituição. Neste contexto, urge credenciar as mulheres lésbicas, bissexuais e transexuais da ABGLT como interlocutoras no governo federal.
Metas:

Ter uma mulher do coletivo como presidenta no próximo mandato da ABGLT;
Horizontalizar os processos decisórios;
Lutar pela eqüidade de gênero na ABGLT e afiliadas;
Filiar até 2010 na ABGLT, no mínimo, mais 20 (vinte) organizações de mulheres lésbicas, bissexuais e transexuais;
Enfrentar e combater o machismo dentro da ABGLT e suas afiliadas;
Reformular/adequar o Estatuto da ABGLT à missão do coletivo de mulheres;
Mapear e fortalecer os grupos de mulheres lésbicas, bissexuais e transexuais na ABGLT até 2010.

Plano de Ação:
(correlacionadas numericamente as metas)

Garantir que a indicação seja do Coletivo, bem como garantir uma maior representatividade de mulheres no congresso da ABGLT.
Ação:
1.1 Criar cotas para participação de mulheres afiliadas nos congressos da ABGLT;
1.2 Cumprir o compromisso de indicar uma representante legitimada pelo Coletivo com discussão previa e acumulada em espaço específico, virtual e pactuado previamente nos congressos.

Garantir que as decisões tomadas pelas representações de mulheres da ABGLT sejam decididas pelas mulheres do Coletivo, a fim de garantir o compromisso de horizontalidade e representatividade.
Ação:
Criar uma lista virtual para comunicação das mulheres do Coletivo;
Buscar financiamentos para realização de um encontro nacional anual do Coletivo de Mulheres da ABGLT;
Realizar revisão estatutária da ABGLT;
Redesenhar o organograma institucional da ABGLT propiciando um formato horizontal.

Entender a definição de equidade, resgatando historicamente a desigualdade de gênero na nossa organização e sociedade.
Ação:
Formalizar representatividades políticas garantindo o recorte de gênero com equidade;
Impulsionar e apoiar uma candidatura de mulher para o próximo mandato da nossa organização;
Criar uma campanha de enfretamento e combate ao machismo institucional para a ABGLT e suas afiliadas/parceiras;
Realizar um Seminário com a temática de feminismos;
Garantir que os projetos da ABGLT tenham em suas coordenações mulheres e que as indicações sejam do coletivo.

4. Facilitar mecanismos de filiação/parceria
Ação:
4.1 Impulsionar e apoiar a execução do SOMOS LÉS/ASTRAL TOP em todo território nacional, buscando a sua imediata realização;
4.2 Interiozar as ações do SOMOS LÉS/ASTRAL TOP no Brasil;
4.3. Ampliar o número de capacitandas alcançadas pelo projeto;
4.4 Buscar multi-recursos para execução do projeto;
4.5 Publicizar os resultados alcançados pelos SOMOS LÉS/ASTRAL TOP;
4.6 Incorporar o SOMOS LÉS/ASTRAL TOP como projeto da ABGLT;
4.7 Garantir que os projetos SOMOS LÉS seja executado por organizações afiliadas de mulheres ou por organizações onde mulheres estejam na coordenação e tenham autonomia.

5. Enfrentar e combater o machismo dentro da ABGLT e suas afiliadas.
Ação:
5.1 Criar uma campanha de enfretamento e combate ao machismo institucional para a ABGLT e suas afiliadas/parceiras;
5.2 Realizar um Seminário com a temática de feminismos;
5.3 Apoiar e encampar as campanhas do movimento feminista

6. Adequar o Estatuto a necessidade de um projeto feminista.
Ação:
6.1 Aprovar no próximo Congresso da ABGLT a reforma estatutária adequando a missão do coletivo e seus valores;

Identificar as mulheres da ABGLT.
Ação:
Realizar um levantamento das mulheres nos grupos mistos afiliados/parceiros;
Realizar um mapeamento dos grupos exclusivos de mulheres da ABGLT.
Estamos convencidas de que temos legitimidade, representatividade, construção histórica e força política para nos tornamos a rede referenciada no cenário nacional.
Ademais, gostaríamos de finalizar com um texto apresentado na plenária durante a construção do nosso Coletivo que reflete nossos sentimentos expressados na construção do que pode parecer utopia, mas que tornaremos realidade na construção de uma sociedade mais justa, de paz e sem machismo, racismo e homofobia.

” Fortalecendo…
Trago nas mãos vazias
Uma multidão de sonhos…
Sonhos de um construir coletivo,
Cujo resultado
Será um outro mundo!
Trago no peito um coração,
Que pulsa desejo intenso
De transformação…
Sei pouco, mas acredito
No processo de desconstruir
Tudo que nos ata, nos prende,
Nos viola e aprisiona.
Sou mulher!
E meu EU grita!…
Querendo transformação
Eis-me então me fortalecendo
Eis-me então na ânsia
De articular
E entre iguais,
Construir… Desconstruir… Reconstruir…
Trago em mim um espírito faminto
Quero e preciso fartar-me
De cada troca, de cada (in)formação,
De cada outro coração que pulsa,
No mesmo “ritmo”,
No mesmo desejo que o meu.
Parto diferente…
Com mais ânsia… mais fome!
Mas com um sonho realizado:
A Certeza de não estar só!
De ser um coletivo…
De ser muitas…
E seguir fortalecendo! … (Escrito por Prika, expressado no II Fortalecendo, 26/04/2008).

Mulheres que assinam este documento:

Adriana Simone da Silva
Alana Gilmara Sousa Freitas
Alessandra Guerra
Alessia R. Moura
Ana Carla Lemos
Ana Paula Theodoro
Azimar Orlow
Carla Machado
Célia Fernandes
Celize Azevedo
Claudia Aparecida dos Santos Alcântara
Cléo Dumas
Daniela Souza de Lima
Deborah Tavares
Denise de Carvalho
Denise Limeira
Eva Verginia da Silva
Evy Ferreira da Silva
Fernanda Monteiro
Gisele Ramos Coelho
Hedi Costa de Oliveira
Iara Viana Mouco
Irina Bacci
Jaqueline S. De Andrade
Jéssica Andrade C. Macedo
Julha Faustino Damião
Juliana Carvalho
Kellyane de Nazaré Vasconcellos de Oliveira
Lucélia Dias Macedo
Luciana Silva
Lucineide Ramos de Aragão
Luriana Cohen
M.Yáskara Guelpa
Márcia Cabral
Marilene Neres dos Santos
Marisa Fernandes
Martha Idalina Vieira de Vasconcelos
Monique Hofstein Ferreira
Nádia Nogueira
Priscila Galvão
Priscila Garcia Silva
Roge Durans
Sandra Torres
Selma Maria da Costa
Sirlene Cândido
Vera Couto
Yone Lindgren

Parceiras/os que assinam este documento:

ABL – Articulação Brasileira de Lésbicas
Alexandre Böer – SOMOS/RS – ABGLT
Rodrigo Canuto – Movimento D´ELLAS

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