Vovó dizia que traição é coisa de homem. Tadinha, estava enganada. Depois que virei sapa tive esta certeza, quase todo mundo já traiu um dia, mesmo que a culpa tenha sido da bebida. Eu mesma, grande defensora da fidelidade, já traí uma vez, mas foi só uma vez. Era fim de relacionamento, aquela montanha-russa, termina, volta, termina, volta, termina, volta, na última volta eu fiquei meio tonta e acabei contrariando minhas convicções.
Assuntozinho chato, controverso, ninguém gosta muito de refletir sobre traição, seja porque já traiu ou foi traído um dia. Mas já levei tanto par de chifre no cabeção que me sinto à vontade com o tema. Na verdade, o que me intriga nesse papo todo é notar que cada pessoa tem um motivo incontestável para justificar sua pulada de cerca, quase sempre, a situação era realmente inevitável, uma privação momentânea dos sentidos.
Trair porque já foi traída é o caso mais comum, você está tristíssima, deprimida, decepcionada com a outra, sua auto-estima escafedeu-se, se sente o cocô do cavalo do bandido, então você opta por pagar com a mesma moeda. Talvez essa seja a maneira mais “justa” de traição, a outra pessoa colhe aquilo que planta, como já diz o provérbio milenar. Nesse caso, muita gente até recomenda o ato que, em outras circunstâncias, seria extremamente reprovável.
Há outras categorias de traição, tipo aquela que acontece por causa de uma paixão avassaladora. De repente você conhece alguém, o desejo é descabido, tudo muito intenso, muito difícil de suportar, você resiste, resiste, reza, faz promessa, tenta incrementar sua relação, mas nada é capaz de deter o fogo daquela paixão. Aí, danou-se, a coisa acontece mesmo e você cai de cabeça no novo relacionamento que é, sem sombra de dúvida, o maior amor de toda a sua vida. Nesse caso, a pessoa traída vai querer te seqüestrar, te esganar, te afogar, enfim…
Tem também aquela que trai por hábito, por esporte, está acostumada com a situação, gosta de jogar papinho, conta historinha para qualquer mulher bonita que vê, faz o tipo conquistadora, o jogo da sedução faz parte do seu âmago, impossível ser diferente. Esse é o tipo espertinha, consegue fazer a coisa toda escondida, consegue ter horário para todas, praticamente uma pessoa onipresente, e ainda gaba-se disso. A coisa é tão bem feita que tanto a fixa quanto as temporárias são muito felizes com a atenção a elas prestada. Nesse caso, todo mundo acaba se dando bem.
Por último, tem um outro tipo, o da mulher insegura, perdida no relacionamento, acha que a sua namorada vai traí-la a qualquer momento, sofre de uma espécie de síndrome da traição. Então, antes de levar um chifre, melhor cometer o delito primeiro. É a traição por desespero, por imaturidade, por antecipação, digamos assim. Talvez esse seja o caso mais complicado de entender uma vez que a sujeita da ação está traindo a si própria, seguindo o caminho contrário dos seus desejos e sentimentos. Nesse quadro, a dificuldade não está em lidar com a outra, mas em lidar consigo mesma.