A Morte Salva: Quando um músico morre cedo, não há tempo para erros nem para renegar sua obra
Billie Holiday, Elvis Presley, Bon Scott, John Lennon, o "clube dos vinte e sete": Kurt Cobain, Janis Joplin, Jim Morrison, Jimi Hendrix e a contemporânea Amy Winehouse viveram – e morreram – o sonho de qualquer verdadeiro artista: deixaram eternizada sua obra e tornaram-se ícones.
A vida curta não lhes ofereceu tempo suficiente para erros, segundas opiniões ou renegação de sua obra. Nem vê-la se desfazer com o passar dos anos. Anos esses que ofuscaram o rock psicodélico de woodstock e a fúria grunge. O tempo pode ter atingido os artistas que ainda estão por aqui, mas os que se foram estão salvos.
Um fato: Aretha Franklin dificilmente será endeusada como Billie Holiday. Tecnicamente são duas cantoras incríveis, mas enquanto Billie se foi no auge do blues, nossa velha e tão gigantesca quanto, Aretha, ainda está por aí, lançando coletâneas desde 1987 (quando lançou seu último single de sucesso com George Michael – "I Knew You Were Waiting"). Naquela época, o pessoal já havia "esquecido" a incrível "Chain of Fools", que a consolidou como diva nos anos 60.
Aqui no Brasil, os tropicalistas – Gil, Caetano, Mutantes, Gal, que traziam um discurso desbocado e contestador de "proibido proibir", hoje passam longe de qualquer discurso parecido. É óbvio e incontestável o talento desses artistas, mas qual fã verdadeiro de Caetano Veloso gostou da versão açucarada de Sozinho, do Peninha? Sinceramente, não vejo problema algum nessas regravações, vejo como algo inerente a qualquer artista de longa carreira. Afinal, só não correm esse risco Elis Regina, Cazuza, Clara Nunes e outros nomes nas lápides.
Enquanto a morte salva os ídolos, os que restam fazem o que pode para que a música, mesmo que cambaleante, não morra.
*Douglas Masi flerta com a música desde os 14 anos, quando começou suas primeiras composições. Atualmente faz parte da banda "BRAX" como vocalista e compositor.
