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Um filho de Francisco

Meu pai é meu professor silencioso. Tudo o que aprendi com ele, não foi ouvindo-o falar em teorias de bons costumes ou lugares comuns. A partir da observação de suas ações, foi que construí grande parte do que sou hoje. No silêncio, nós temos também meus melhores momentos.

Uns dos mais memoráveis deles, aconteceram a caminho do McDonald’s. Nada acontecia nestas ocasiões, além do que estava acontecendo: pai e filho buscando o jantar em um fast-food juntos dentro de um carro. Ele sempre atento aos sinais das ruas e cruzamentos e eu sempre com meus pés apoiados no console do carro, como quem está na sala de estar com os pés na mesa-de-centro. Nada mais. Nestes momentos aprendi grandes lições vindas da sua expressão de contentamento com apenas aquele momento que acontecia ali, tão mundano e tão suficiente para ele. Aprendi com ele, que precisamos de muito pouco.

Outra marca profunda em minha vida, vem da noite em que contei à minha família que era gay. Ele não falou uma palavra. Mas sua aceitação era tão real e palpável naquela sala, quanto um desfile de elefantes que passasse pelo meio da conversa. Sei que foi ele quem me aceitou primeiro e de graça, da mesma maneira (e a comparação pode ser idiota) com que aceitou Lino, meu labrador peralta do jeito que ele era: um destruidor de pares e pares de havaianas do meu pai.

Porque esta é a minha natureza. O que o fez cruzar a linha de chegada antes da minha mãe e meus irmãos? O fato de já estar em perfeita comunhão com esta realidade da minha vida, sem precisar ouvi-la da minha boca. Aprendi com ele que muitas vezes na vida não há como enganar a nós mesmos.

Na minha adolescência, platonicamente apaixonado, fui atrás de um rapaz que tempos depois eu perceberia que só me interessava porque ele me lembrava meu pai em seu jeito correto, nas coisas que dizia, no modo de andar. Dizem que “as filhas” procuram o pai no seu homem…

Meu pai foi me buscar, depois de ver “a minha pessoa especial” num local público onde não poderíamos nos falar normalmente. Eu entrei no carro e ele me perguntou como tinha sido, se eu havia gostado do programa e outras perguntas casuais. Notando minha cara de insatisfação, ele colocou seu celular em meu colo e disse: “liga para ele!” Eu nunca havia dito a ele que “aquele alguém existia”, nem que este era o motivo de estar ali. Mas ele sabia tanto quanto tinha certeza que não nos falaríamos ali. Percebi neste dia que ele, sempre muito protetor comigo, sabia de quem estava falando e aprovava minhas investidas. O quê eu não sabia era que, enquanto minha torcida era por achar alguém que fosse como meu pai, a dele era para que eu achasse alguém que lhe parecesse melhor do que ele.

Durante toda a minha vida, ele já havia me ensinado com suas ações o que era ser pai. E despertou esta vontade em mim, em parte por querer dar-lhe netos a quem ele possa ensinar palavrões e futebol. E por outro lado, vê-lo sendo o pai que ele é e não querer fazer o mesmo é como ganhar uma bolsa em Harvard e perder o dia da matrícula. Eu já fui aceito, só falta ingressar neste novo terreno.

Mas talvez sua maior contribuição para a minha vida, tenha sido novamente com seu silêncio, quando minha avó, sua mãe Adélia, faleceu. Ele estava largado no sofá, com as pernas apoiadas na poltrona em frente e suas mãos cobrindo o rosto. Era como se ele tivesse perdido tudo em sua vida e chorar era a única resposta ao mundo ao seu redor. O chão ruiu.

Neste dia, ele me ensinou mais do que o quê é ser pai, ou um homem leal ou preocupado com o rumo dos filhos. Ele me ensinou o que é ser filho, esta função que poucos entendem bem o que é ou a desenvolvem tão bem quanto ele desenvolveu. Eu aprendi com ele que tudo o que ele vai levar de mim, quando morrer (três batidas na madeira), é a maneira como o tratei e amei. E mesmo assim, vou pensar que tudo o que fiz foi pouco. Esta era sua dor naquele dia. Muito me dói a certeza de que sentirei o mesmo. Entre nós o amor é tanto e ainda assim insuficiente. Papai, quando eu crescer quero ser igual a você! Te amo mais do que posso e menos do que você merece!

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