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Um olhar (feminino) sobre Lírios D´água

Primeiramente, que fique bem claro que o título desse post é apenas uma brincadeira com o Rodolfo Lima (que escreveu recentemente um artigo sobre o filme aqui no Dykerama), acho super válido visões diferentes de uma mesma obra. E sim, minha visão sobre o filme é bem diferente da dele.

Ontem fui à sessão organizada pelas meninas do Chá com Bolachas e arrisco dizer que boa parte das sapas presentes se identificaram em algum momento com o filme ou no mínimo se solidarizaram com a tensão sofrida pela protagonista. O filme retrata bem a fase critica e complicada que é a adolescência, com muitas lágrimas, muitos momentos de constrangimento, muita auto-afirmação, sofrimento e muita amizade também.

Vou tentar resumir o filme, com a minha visão. Vamos lá. A protagonista, magricela e um tanto sem-graça, é uma adolescente sem muitos amigos, não é popular na escola e um tanto introspectiva. Sua melhor amiga é uma garota meio gordinha e apaixonada pelo garoto bonito e popular do grupo de pólo aquático, é daquelas pessoas que dá vontade de ter uma perto de você, engraçada, espontânea e carismática. A capitã do time de nado sincronizado é linda, loira, arrogante e nenhuma das garotas gosta dela.

Eis que nossa protagonista se descobre interessada por essa figura arrogante. Começa a freqüentar os treinos de nado sincronizado só para poder ficar mais próxima da capitã e, inicialmente, por puro interesse da loira, essa aproximação começa a acontecer. Como bem me lembro do andamento das coisas na adolescência, imediatamente ela já está apaixonada por aquela menina loira que no fundo ela nem conhece muito bem, começa a sofrer pelo fato dela namorar o menino mais bonito e popular do pólo aquático, sofre por ela dar em cima de outros homens, sofre quando percebe o puro interesse da loira nessa nova amizade, enfim.

Analisando a arrogante capitã do time, percebo que ela é uma dessas meninas lindas de morrer, que sempre foram e sempre serão cobiçadas pelos homens e que percebe o efeito que isso gera. Ela se depara então em uma situação complicada, onde se sente obrigada agir de acordo com a expectativa das pessoas ao seu redor. Todos esperam que ela seja precoce na vida sexual, que tenha várias experiências, que seja sempre cruel e fatal e que cause sempre problemas e intrigas com as outras meninas. Ela tenta corresponder a tudo isso, mas obviamente sofre. E é com a aproximação e com o início da amizade com a protagonista que isso é revelado. No fundo, ela não é essa pessoa que todos esperam que ela seja e, na realidade, nem tem certeza se quer ser.

A descoberta e a iniciação da vida sexual na adolescência pode ser em grande parte das vezes uma coisa mecânica, desajeitada e embaraçosa. Afinal, geralmente, nenhuma das partes sabe muito bem o que tem que ser feito. E é isso que se retrata na cena da masturbação. A loira sofre por não corresponder as expectativas de seu namorado e do resto das pessoas e só consegue transparecer isso para a nossa protagonista magricela, exatamente por ela não mostrar uma ameaça a sua reputação. Para mim são óbvios os motivos que levaram a linda loira a se interessar pela sem-graça recém descoberta dyke. Ela representava um terreno confortável, onde ela poderia mostras suas inseguranças. Existe ali uma cumplicidade que ela não consegue criar com nenhuma outra pessoa, só com a protagonista magricela, porque a protagonista está apaixonada por ela e não a julga como as outras pessoas o fazem.

Elas então entram num acordo (veja bem, um acordo), ou seja, não teria como ser uma cena daquelas românticas, sensíveis e intensas. Elas entram num acordo e o resultado é a cena da masturbação. É mecânica, é desajeitada, é embaraçosa. Me corrijam se eu estiver errada, mas por experiência própria e por conhecimento de outros casos de amigas, mesmo entre lésbicas, as primeiras tentativas de sexo podem ser muito mecânicas sim e não vejo problema nenhum nisso. Afinal, nenhuma das duas sabe muito bem o que está fazendo, como tem que fazer, e por aí vai. Certo?

O filme todo tem esse clima tenso, que para mim é característico da fase da adolescência. Não acredito que, por se tratar de meninas experimentando e se descobrindo lésbica, tenha que corresponder necessariamente a um imaginário coletivo que acredita que no sexo entre meninas vai sempre haver mais complexidade e sensibilidade. E em relação à amiga meio gordinha, ela procurou o que queria (ter sua primeira experiência sexual), conseguiu e pronto, foi isso.

Não me contorci na cadeira do cinema quando ela não quis mais sexo sem compromisso com o garoto que ela tanto desejava, e olha que sou super a favor do sexo sem compromisso e mesmo assim achei incrível o desenvolvimento da história dessa personagem. O fato dela não querer mais aquela experiência não mudou em nada minha admiração por ela.

Assistam e me digam sua opinião!

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