A Polícia Militar e Guarda Civil Metropolitana de São Paulo voltaram a fazer blitz no Parque do Ibirapuera. Segundo a Secretaria Municipal de Segurança Urbana a intenção é coibir as pessoas de praticarem atos obscenos. O foco da ação tem sido o "Autorama", ponto de encontro gay. A ação tem ocorrido entre às 20h e 0h.
Para saber o que realmente está acontecendo no local a reportagem do A Capa conversou com Leandro Sarani, 25, que esteve no Autorama no último final de semana. Segundo o entrevistado as blitz policiais acontecem todos os finais de semana. "Eles estão fechando a saída do estacionamento e param todo mundo que sai de lá". Para Leandro a intenção da PM é "coibir as pessoas de irem lá, mas isso não tem acontecido".
Franco Reinaudo, coordenador da Coordenadoria de Assuntos da Diversidade Sexual de São Paulo (Cads), diz que a intenção não é coibir a presença das pessoas e que a prefeitura é favor do espaço. "A CADS e a prefeitura são totalmente favoráveis a manutenção do espaço, isso é a palavra do secretário de Segurança [Edsom Ortega], do secretário de Participação e Parceira [Ricardo Montoro] e do secretário do Verde [Eduardo Jorge]".
O coordenador explica que a ação é fruto de denúncias dos moradores da região do "Autorama". "Apesar de apoiarmos o espaço, não somos favoráveis a nenhum ato ilícito e acredito que a comunidade também não é favor". Reinaudo garante que a ideia é manter um "centro de convivência que seja bacana para todo mundo".
Prostituição
Questionado pela reportagem se a Cads pensa em algum tipo de intervenção no local, Franco revela que irão se reunir amanhã com a administração do parque e com a subprefeitura da Vila Mariana. "Iremos começar uma série de ações". Segundo Franco a coordenadoria acabou de encerrar um projeto junto com a ONG Farol. "Fomos verificar se existia criança e adolescente se prostituindo", conta Franco.
Após a intervenção da Cads, que durou cerca de dez meses, "isso diminuiu", afirma Franco. "Não temos verificado mais (prostituição de menores) e agora iremos fazer uma ação de conscientização para que todo mundo colabore. Assim mantemos o espaço aberto", explica o coordenador.
Leandro, frequentador do local, conta que as pessoas continuam indo ao "Autorama", mas estão preocupadas. "Todo mundo fica pensando, ‘será que vamos ser parados hoje?’". O rapaz diz não se conformar com a situação. "É horrível. Não estamos no meio de uma avenida, lá é um local fechado", protesta Leandro que já foi parado pela polícia.
"Eu já fui parado uma vez, me revistaram todo, mas não me trataram mal". Sobre maus tratos por parte da polícia, Leandro garante que nunca escutou alguém dizer que foi ultrajado durante uma blitz da PM. Na mesma linha de Leandro, Franco diz que há um trabalho de preparação aos policiais para que não cometam abusos na hora da blitz.
"Na questão da GCM a Cads tem um trabalho muito grande. Nós fazemos parte do currículo da GCM, mais de três mil guardas já receberam capacitação, portanto acho muito difícil que isso aconteça". Ainda segundo Franco, a blitz está sendo realizada não por se tratar do "Autorama". "Houve uma série de denúncias e nós precisamos dar uma resposta enquanto prefeitura. Não temos nenhuma intenção de acabar com o espaço. O que nós queremos é garantir segurança para quem frequenta o Autorama", finaliza Franco Reinaudo.
Militância
A cabeleirerira e ativista defensora dos direitos humanos no Autorama, Jake Channel, procurada pela reportagem do A Capa disse que não está mais na luta em defesa do espaço.
"Na epoca eu não tive apoio de ninguém e assim ficou dificil". Segundo a travestis, ameaças foram feitas a ela. "Mexi com gente grande, muito poderosa, por isso achei melhor parar".
Jake não descarta a possibilidade de voltar a defender o espaço. "Quem sabe em outro momento, quando eu tiver mais apoio eu volte a fazer isso, mas agora eu prefiro ficar de fora". No ano passado, Jake foi candidata a vereadora pela cidade de São Paulo e não se elegeu.