Estreia essa semana a terceira parte da saga "Crepúsculo", cujo título é "Eclipse". Comecei a ter contato com esses novos vampiros por conta da minha sobrinha, que tem 12 anos e está vivendo o seu momento cultural teenager.
Um dia ela me explicou como eram esses vampiros criados pela norte americana Stephenie Meyer: são vegetarianos, ou seja, não bebem sangue de seres humanos e só de animais; eles podem sair na luz do dia e ao entrar em contato com o sol brilham feito diamantes. Até aí sem problemas. Uma releitura vampírica para uma sociedade cada vez mais careta.
Os meus primeiros problemas com a série se deram quando resolvi assistir aos dois primeiros filmes. Um em casa e o segundo no cinema. Descobri que o problema não residia apenas na questão deles serem vegetarianos e brilharem no sol. O casal principal: Edward, o vampiro, e a moça ainda humana, Bella, é representação travestida de vampiros de tudo o que há de mais conservador quando falamos sobre casais.
O primeiro dilema de Bella e Edward será a questão de transformar ou não a moça em vampira, resolvido este drama eles passam para o segundo: não transar antes do casamento. Opa: Vampiros casam agora. E este drama é a tônica de boa parte da história. Casar, ter filho e viverem juntos para sempre. Numa época em que a sexualidade é reprimida como no século XIX, a história presta um desserviço ao propor a virgindade e a união eterna.
O outro problema é da questão estética mesmo. A cultura vampiresca propõem uma revisão de valores da sociedade. Trata também da exclusão ao qual o ser diferente é submetido numa sociedade homogênea. E se nós analisarmos o próprio contexto da família de Edward, é a coisa mais Tradição Família e Propriedade (TFP)… Das roupas usadas ao status social.
O último boom vampiresco antes de saga "Crepúsculo" se deu com as "Crônicas Vampirescas" de Anne Rice, que ficaram imortalizadas na pele do vampiro Lestat, magistralmente interpretado por Tom Cruise na adaptação para "Entrevista com Vampiro".
Na saga de Anne Rice a homossexualidade era fator gritante. Isso pode ser observado nos personagens de Lestat e Louis. Amantes e errantes estavam condenados a não ter o amor consumado.
Certa vez um amigo fez uma leitura bem interessante de uma cena. É quando Louis, após perder Lestat de vista, se sente sozinho no mundo como se só existisse ele de vampiro. Encontra Armand, um dos vampiros mais antigos. O novo amigo de Louis o leva para conhecer um ponto de encontro vampiresco. Louis entra e começa a se reconhecer nos outros e também a descobrir mais sobre si enquanto vampiro.
Como você se sentiu na primeira vez em que entrou numa balada gay?
Enfim, analisando profundamente os símbolos em torno da saga "Crepúsculo" constata-se que estamos de frente para uma cartilha neoliberal, monogâmica, patrimonialista e abstêmia sexualmente.
Se o casal protagonista de Anne Rice era Lestat e Louis (foto), hoje retrocedemos e temos a heteronormatividade como centro da história de Meyer, onde o casal é Bella e Edward. Ou seja, culturalmente falando, nada de vampiresco há na saga “Crepúsculo”