Esse ano o símbolo máximo da comunidade GLBT, o arco íris, completa 30 anos. A data vai ser comemorada em algumas paradas que farão do símbolo o tema, por exemplo, a de Plymouth na Inglaterra. E por que este símbolo se disseminou pelo mundo? Os movimentos já tiveram outros símbolos ou cores locais? Bom, para entender o internacionalismo da bandeira do arco íris é preciso voltar um pouco no tempo…
No ano de 1978, Gilbert Baker, de São Francisco-Califórnia, desenhou e confeccionou o que viria a ser o símbolo mor da comunidade GLBT. No mesmo ano, a bandeira seria usada pela primeira vez na parada de São Francisco. E Baker continuou a confeccioná-la e ela timidamente ia ocupando o seu espaço.
Porém, antes das seis cores outros símbolos existiram. Um deles vem de uma triste lembrança: o triângulo cor-de-rosa que era usado pelo exército nazista para identificar prisioneiros homossexuais nos desfalecidos campos de concentração. No início dos anos 60 a primeira cor a ser usada pelo movimento, que não chegou a ser um símbolo, foi a cor lilás, difundida pós manifestações Stone Wall pelo grupo "Purple Power". Em seguida, e talvez o emblema mais forte depois do arco íris, foi o triangulo cor de rosa, muito usado nos anos 70 e 80.
A bandeira do arco íris ganharia conhecimento nacional nos Estados Unidos, quando John Stout processou os seus locadores por o proibirem de usar a bandeira na sacada do seu apartamento. John venceu o processo e o povo dos EUA já sabia qual era o símbolo dos GLBT de seu país.
Mesmo já usada na parada de 78, ela seria adotada oficialmente pelo comitê da parada de São Francisco em 79, por conta do assassinato de Harvey Milk em novembro do ano anterior. De lá pra cá, ela foi usada sucessivamente pelos movimentos de outros países.
Regina Fachinni, antropóloga e ex-vice-presidente da APOGLBT, disse que a adoção internacional da imagem do arco íris, "há aí dois motivos, primeiro por que o arco íris representa a diversidade do movimento, e pelo Brasil ele se dissemina nos anos 90, com o crescimento das paradas e por conta do mercado, que estava antenado com o que acontecia. A questão do símbolo ser usado no mundo inteiro, significa que o movimento é internacional, que se comunica".
Ferdinando Martins, professor da ECA/USP e membro da ABRAGAY, esclarece também a aceitação internacional e comercial do arco íris. "Hoje, a bandeira é aceita pelo Congresso Internacional de Fabricantes de Bandeiras como o símbolo do movimento GLBT e, por extensão, de qualquer manifestação GLBT. Além disso, é uma bandeira digamos, menos "bandeirosa" e, por isso, acredito, tenha tido seu uso mais propagado".
É inegável também o uso do arco íris para designar locais GLBT ou até mesmo friendly. "Hoje em dia até a ilha de Castro utiliza o símbolo internacional", relata Ferdinando, "Em Cuba, por exemplo, é usada para identificar locais em que ocorrem festas gays itinerantes, mas se alguém questiona, dizem que é uma bandeira da Santeria (espécie de candomblé local). E, afinal, quem pode falar mal do arco-íris, que é também o símbolo da aliança de Deus com Noé?". Regina segue na mesma linha de raciocínio, "hoje você vê a bandeira usada para localizar os ambientes GLBT, locais que querem se mostrar abertos ou tolerantes ao público homossexual".
Ferdinando relata outro fato interessante cores. "No projeto original de Baker, elas eram oito. Porém, logo na primeira vez que costurou a bandeira, a fez com sete. Ele mesmo tingia os tecidos e, como o rosa escuro estava em falta no mercado, resolveu eliminar essa cor. Depois, em 1979, quando a bandeira foi usada na parada de São Francisco, os organizadores resolveram retirar mais uma, o índigo, para que resultasse em um número par e, com isso, facilitaria a decoração da parada. As cores foram divididas ao longo da Castro Street, três de cada lado".
E que o nosso arco íris continue brilhando!